domingo, 28 de dezembro de 2014

Ouvir por dentro - Carla Grazielle Sacramento


Ouça o som do coração. Essa batida que nos mantém vivos é a mesma que nos guia no viver.

Busque, por um segundo, o silêncio. Concentre-se no som da sua vida. Nossa mente é a grande manipuladora dos nossos sentidos, mas é o nosso coração a verdadeira bússola de nossos sentimentos. Sabemos o que é certo, sabemos o que é melhor, sabemos e sentimos por onde ir. Porém, não raramente, sufocamos esse sentir com afazeres, tabus, tentativas frustradas, culpas, entre tantas outras coisas. É por isso que as crianças são tão felizes, enquanto lhes é permitido ser criança, elas apenas sentem e reagem para o que sentiram de nodo a não sufocarem seus sentimentos. Daí o motivo pelo qual as crianças não se apegam aos rancores, mágoas e tristezas da vida. Essa importância em ouvir-se é vital. A sobrevivência agride a vivência de tal modo que sem percebermos o tempo passou.

E então vamos empurrando tudo até que o tempo tenha passado para termos idade suficiente a' sermos "perdoados" por sermos crianças novamente, até chegar o momento em que dirão:  "Ele está rabugento porque está ficando velho", "ela está chata porque está na menopausa", "ele abraça as pessoas porque está mais sensível nessa idade", "com a velhice todos viramos crianças"... Então, penso que talvez a velhice nos presenteie com uma surdez social que nos permite ouvir o coração. Que, quando deixarmos de ouvir tudo que está fora, fique mais claro o som de dentro. Há tempo, sempre há tempo para aprender. Quanto mais cedo aprendermos a nos ouvir, certamente, mais tempo teremos para saber mais sobre nós mesmos.

Redescobrir-se é possível. Desenganar-se também. Basta querer!



(texto publicado na revista Tudo nº 38)


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