domingo, 11 de janeiro de 2015

Arroz da sorte - Míriam Castro


Para os japoneses, na passagem do ano, o bolinho de arroz traz prosperidade. Em São Paulo, a comunidade se reúne na Praça da Liberdade para preparar o mochi, seguindo ritual milenar, para atrair fortuna para o novo ano

A comida mais importante do ano-novo japonês é o mochi (pronuncia-se "moti"), bolinho doce de arroz glutinoso que é a estrela dos wagashi - doces à moda nipônica. "É uma tradição de séculos comer o mochi no ano-novo para pedir fartura", conta Hugo Kawauchi, diretor de culinária da Associação Cultural e Assistencial da Liberdade (Acal). Todo 31 de dezembro, a comunidade japonesa se reúne na Praça da Liberdade para fazer o bolinho e começar o ano com sorte.

O mochi mais tradicional é uma bolinha achatada branca. Para não grudar na mão, é polvilhado com farinha. Sua massa é puro arroz amassado, fácil de morder, com textura puxa-puxa. No ano-novo, é consumido puro ou grelhado. Também é o ingrediente principal de uma sopa chamada ozouni, um dos pratos mais auspiciosos da época.

Outra participação do bolinho nas festividades é o kagami mochi. Dois mochis são empilhados com uma laranja amarga no topo. "Na casa dos meus avós e pais, sempre via esse item no fim do ano", diz Telma Shiraishi, chef do Aizomê.

Grudadinho

O arroz japonês comum, chamado uruchimai, já é mais glutinoso - depois de cozido, fica pegajoso. Mas não é glutinoso o  suficiente para fazer mochi. O doce é preparado com uma variedade especial chamada mochigome, mais arredondada e branquinha.

Além de ser usado na receita de mochi, o mochigome pode ser usado em receitas tradicionais como o sekihan, o arroz e feijão japonês. No prato, a variedade é misturada ao feijão azuki.

"O arroz é todo solto ainda cru, mas torna-se uma coisa só no mochi. Isso representa a união", diz Fernando Masayuki Kanazawa, proprietário da doceria Kanazawa, na Liberdade. Ele estima que as vendas do doce aumentem 10 vezes entre dezembro e janeiro." É uma tradição muito forte para nós, japoneses. O mochi representa muito mais do que comer peru no Natal."

A textura grudenta faz que seja um alimento inesperadamente perigoso para idosos. Nesta época, quando são mais consumidos, são a causa de internações de pessoas mais velhas engasgadas. Mas não precisa ficar com medo. Basta mastigá-lo bem antes de engolir e tudo estará bem. E a sorte compensa.



(texto publicado no jornal O Estado de São Paulo - caderno Paladar de 1 a 7 de janeiro de 2015)







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