A solicitação feita às crianças por pais e médicos muitas vezes tem como objetivo visualizar as amídalas, pequenas estruturas localizadas na parte de trás da boca, que podem causar alguns problemas. E aí vem a dúvida: tirá-las ou não?
Apesar dos avanços e descobertas na medicina, um dilema aparentemente simples ainda preocupa pais e divide até as opiniões dos especialistas: afinal, deve-se tirar ou não as amídalas da garotada? Praticada há três mil anos com descrição na literatura hindu, a remoção dessas estruturas arredondadas, em forma de amêndoa, localizadas na parte de trás da boca ao lado da garganta, acontecia quase como regra na infância. Antes da chegada dos antibióticos, a cirurgia funcionava inclusive como tratamento no caso de inflamações graves nesses pequenos órgãos - também conhecidos como tonsilas palatinas. Hoje, graças à evolução em medicamentos e aos estudos que comprovaram o envolvimento das amídalas no sistema imunológico, as indicações cirúrgicas passaram a ser muito mais criteriosas e a levar em conta a qualidade de vida dos pequenos.
Na hora da decisão, os especialistas ainda divergem em alguns aspectos, mas a maioria é unânime em considerar os danos na saúde provocados por aquelas 'bolinhas' na garganta que crescem gradualmente entre os dois e cinco anos de idade. Assim, pelo menos dois sérios problemas causados por elas seriam suficientemente fortes para extirpá-las na infância.
Quando as narinas entopem, por exemplo, em consequência de um aumento exagerado e irredutível das amídalas e adenoides (estruturas semelhantes, porém localizadas atrás das fossas nasais), as crianças tendem a manter uma respiração bucal. É a chamada hiperplasia adenoamidaliana, que produz transtornos graves à respiração, deglutição e fonação.
"O ar que entra pela boca - que costuma ficar a maior parte do tempo aberta neste caso - chega ao pulmão carregando as impurezas do ambiente. E as consequências disso são a alteração da arcada dentária, voz nasalizada, distúrbio na articulação de fonemas, flacidez dos músculos faciais, lábios e língua, deformidades nos ossos, ronco e até apneia, uma parada da respiração à noite que pode causar doenças cardiopulmonares", explica o otorrinolaringologista Gilberto Sitchin (SP), do Hospital São Luiz.
O motivo desse acentuado crescimento ainda é desconhecido, mas sabe-se que as amídalas costumam ultrapassar as dimensões consideradas normais (que são de cerca de 20 a 25 milímetros de altura por 15 milímetros de largura e 10 de espessura), chegando a se aproximar bastante da campainha, aquele tecido em formato de pêndulo que fica localizado bem no centro da garganta.
Outra situação que pode motivar as cirurgias é a ocorrência das amidalites de repetição, ou seja, recorrentes inflamações das amídalas causadas por micro organismos. A maioria delas costuma ser provocada por vírus e não necessita do uso de antibióticos. A grande preocupação, porém, é quando essa doença é desencadeada por bactérias. Isso porque a amidalite bacteriana provoca febre alta (entre 39 e 40º C), formação de pus na garganta, íngua, dor de ouvido, calafrios e muito incômodo, debilitando o corpo inteiro.
Mesmo assim, para que os pais decidam pela intervenção cirúrgica, o médico precisa analisar a frequência e gravidade de cada episódio. "Costumamos optar pela remoção das amídalas somente quando a criança apresenta mais de três amidalites em um período de dois anos ou mais de seis infecções em apenas um ano. Diante desse quadro, se não forem retiradas, podem provocar problemas nas articulações, rins e coração", alerta Gilberto Sitchin.
Mas para os papais que acham que a cirurgia poupará os pimpolhos da terrível dor de garganta, vale um outro aviso: a faringite também causa dores, febre e nada tem a ver com as amídalas. Por isso, a retirada das tonsilas deve ser cuidadosamente avaliada pelo especialista. "Infelizmente, 20% das operações ocorrem em crianças com infecção da faringe", garante o otorrino.
A força das amídalas
Muitos leigos acreditam, até hoje, que extrair essas pequenas estruturas pode deixar as crianças mais fracas e suscetíveis a doenças, porque isso comprometeria a imunidade. Afinal, sabe-se que são formadas pelo tecido linfoide, repleto de células de defesa, e têm a nobre função de tentar barrar os invasores que penetram no organismo através do nariz ou da boca.
Essa proteção, no entanto, só é eficaz se esses órgãos estiverem realmente saudáveis - o que não acontece quando vivem inflamando. "Mesmo fortes, as amídalas funcionam apenas como dois soldados de um exército. Retirá-las do combate não significa que o grupo, formado por outros componentes e substâncias, deixe de cumprir a função de defender o organismo. Pelo contrário, se por alguma razão elas estiverem lutando contra o bem-estar, também devem ser combatidas", explica o otorrinolaringologista Gilberto Sitchin.
Portanto, quando bem indicada, a operação diminui o desconforto nasal, permite que a garotada se alimente e durma melhor e aumenta a qualidade da voz. Um estudo da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) sugere ainda que a criança operada possa crescer mais. "Ela não sofre excessivo gasto energético com a respiração e tampouco há prejuízo do hormônio do crescimento, excretado sempre à noite durante o sono", explica o otorrino Ana Paula Fiuzza Dualibi, responsável pela pesquisa. Com ou sem cirurgia, pais e médicos concordam que o bem-estar dos pimpolhos é o mais importante.
Mesmo assim, para que os pais decidam pela intervenção cirúrgica, o médico precisa analisar a frequência e gravidade de cada episódio. "Costumamos optar pela remoção das amídalas somente quando a criança apresenta mais de três amidalites em um período de dois anos ou mais de seis infecções em apenas um ano. Diante desse quadro, se não forem retiradas, podem provocar problemas nas articulações, rins e coração", alerta Gilberto Sitchin.
Mas para os papais que acham que a cirurgia poupará os pimpolhos da terrível dor de garganta, vale um outro aviso: a faringite também causa dores, febre e nada tem a ver com as amídalas. Por isso, a retirada das tonsilas deve ser cuidadosamente avaliada pelo especialista. "Infelizmente, 20% das operações ocorrem em crianças com infecção da faringe", garante o otorrino.
A força das amídalas
Muitos leigos acreditam, até hoje, que extrair essas pequenas estruturas pode deixar as crianças mais fracas e suscetíveis a doenças, porque isso comprometeria a imunidade. Afinal, sabe-se que são formadas pelo tecido linfoide, repleto de células de defesa, e têm a nobre função de tentar barrar os invasores que penetram no organismo através do nariz ou da boca.
Essa proteção, no entanto, só é eficaz se esses órgãos estiverem realmente saudáveis - o que não acontece quando vivem inflamando. "Mesmo fortes, as amídalas funcionam apenas como dois soldados de um exército. Retirá-las do combate não significa que o grupo, formado por outros componentes e substâncias, deixe de cumprir a função de defender o organismo. Pelo contrário, se por alguma razão elas estiverem lutando contra o bem-estar, também devem ser combatidas", explica o otorrinolaringologista Gilberto Sitchin.
Portanto, quando bem indicada, a operação diminui o desconforto nasal, permite que a garotada se alimente e durma melhor e aumenta a qualidade da voz. Um estudo da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) sugere ainda que a criança operada possa crescer mais. "Ela não sofre excessivo gasto energético com a respiração e tampouco há prejuízo do hormônio do crescimento, excretado sempre à noite durante o sono", explica o otorrino Ana Paula Fiuzza Dualibi, responsável pela pesquisa. Com ou sem cirurgia, pais e médicos concordam que o bem-estar dos pimpolhos é o mais importante.
(texto publicado na revista VivaSaúde nº 10 - ano 2 - fevereiro de 2005)
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