Os meus foram inúmeros. Como são inúmeros os erros que, com frequência, cometemos ao longo da carreira. Menos abundantes são as ocasiões em que os admitimos, principalmente em público. Por mais que a expressão "aprender com os erros" seja difundida, a ponto de se tornar um clichê corporativo, temos uma enorme dificuldade de falar sobre eles e de realmente usá-los a nosso favor ou em benefício de quem nos cerca. Quando a consultora de carreira Jessica Bacal, diretora de um núcleo especializado em vida e trabalho na Smith College, nos Estados Unidos, ouviu o moderador de um debate pedir aos palestrantes, homens e mulheres em posições de destaque, que falassem sobre seus erros e as lições que tiraram deles, abriu logo seu bloco de notas, ansiosa por colecionar experiências instrutivas. Terminou a sessão com seu caderninho em branco, sem ouvir dos presentes um único exemplo de falha ou equívoco pessoal, apenas considerações genéricas e teóricas. Isso a incentivou a ir a campo e entrevistar mulheres bem-sucedidas sobre seus erros e respectivos aprendizados. O resultado é um livro sobre o tema, Mistakes I Made at Work: 25 Influential Women Reflect on What They Got Out of Getting it Wrong, não publicado no Brasil.
Jessica ouviu 25 mulheres de diversas áreas, desde poderosas da tecnologia a autoras de best-sellers, cientistas, até uma roqueira. Suas histórias são inspiradoras, assim como as dicas que arrematam cada capítulo. Gosto muito do relato de Laurel Touby, criadora do site americano Mediabistro, plataforma de recrutamento e treinamento para profissionais de comunicação. Ela conta como quase foi demitida de uma grande agência de publicidade, apesar do seu excelente trabalho, por falar sem pensar coisas que nem percebia que magoavam as pessoas à sua volta. Laurel recebeu uma advertência da chefe e resolveu controlar sua boca e seu estilo despachado. Acabou entendendo que sua personalidade não cabia dentro das normas corporativas e saindo por conta própria. Seu erro foi acreditar que podia fingir ser quem não era. O melhor da leitura é a sensação de alívio a cada revelação: "Ufa, não fui só eu que fiz uma besteira desse tamanho". Ou : "Que bom que cometer idiotices não significa, como as mulheres (inclusive eu) gostam de pensar, que somos uma fraude."
Não existe uma categoria específica de erros nos relatos corajosos. Há desde falhas de avaliação na escolha da carreira a equívocos políticos de se associar às pessoas ou aos negócios errados ou, ainda, más decisões que custaram tempo e prestígio. Incluem aqueles tropeços bem visíveis, que acarretam perda de dinheiro, de amigos ou de emprego. Identifiquei-me com todos e me lembrei dos meus mais vexatórios, como errar feio uma legenda de matéria na revista VEJA ou cometer um escorregão ortográfico imperdoável na minha primeira carta ao leitor como diretora da PLAYBOY. E de outros ainda mais dolorosos, como magoar uma colega com um comentário impensado e cruel no cafezinho, contratar a pessoa menos adequada para determinado cargo (e ter de demiti-la depois), negociar mal salários e promoções ou pedir demissão sem refletir sobre as consequências do ato. Como sobrevivi a todos os meus grandes enganos, quero crer que eles me ensinaram a ser melhor. A maior lição? Descobri que, como Jessica reitera no livro, atitudes erradas não fazem de você uma pessoa errada. E, se essas mulheres talentosas erraram e aprenderam tanto, no mínimo, você e eu estamos em ótima companhia.
(texto publicado na revista Claudia nº 7 - ano 53 - julho de 2014)
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