segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Os animais na espiritualidade - Fábio Ferreira


Como explicar o amor que determinados animais têm pelos seus donos? Será que está admiração vem de uma longa trajetória de vivências juntos? Para onde vai a alma, ou seja, a essência de vida que os anima? Eles podem reencarnar junto aos humanos com quem conviveram? É possível identificá-los?

O filósofo francês René Descartes considerava os animais seres inferiores e afirmava, categoricamente, que eles existiam para servir à raça humana. De certo modo ele não estava errado, uma vez que, desde os primórdios da civilização, o homem se serve dos animais para a sua sobrevivência, seja como alimentação, transporte ou guarda, entre outras atribuições. Analisando os ensinamentos de Allan Kardec nos livros da Codificação, entendemos que os animais são nossos irmãos. Assim já pregava São Francisco de Assis, mostrando que o amor ao próximo (ensinamentos do Mestre Jesus) deve ser estendido também aos animais e a todos os seres vivos que transitam por níveis inferiores na escola evolutiva. Mesmo em esferas onde a raça humana é mais evoluída, os animais vivem sob uma espécie de submissão, entenda-se, aprendizado, ratificando o pensamento de Descartes. Porém, em planetas moralmente desenvolvidos os animais são tratados com amor e respeito, servindo à raça humana e sendo por ela agraciados com dedicação e amor. "Nos mundos superiores, onde os homens são mais avançados, os animais também o são, tendo meios de comunicação mais desenvolvidos; mas são sempre inferiores e submissos ao homem, são para ele servidores inteligentes". Questão 601 de "O Livro dos Espíritos".

Evolução

Leon Denis, no livro "O Problema do Ser, do Destino e da Dor" - (FEB Editora), diz que o espírito dorme no mineral, sonha no vegetal, agita-se no animal e desperta no homem. O que quer dizer que todos os homens já transitaram pelos reinos inferiores da escala evolutiva, até chegar ao estágio atual, ou seja, os reinos da natureza que compõem o planeta Terra estão em constante atividade de evolução. Assim como o homem almeja viver em mundos felizes, nas moradas dos espíritos puros, e busca a perfeição através de sucessivas experiências reencarnatórias, os irmãos que compõem a outra parte da população planetária, como os minerais, vegetais e animais, chegarão um dia ao estágio humano.

Primeiro passo: o Instinto

Leon Denis ensina que os animais são dotados de um tipo de "inteligência limitada". Mas já se encontram no limiar do despertar evolutivo, deixando para trás a inércia física dos reinos mineral e vegetal, conquistando o primeiro sentido que os separa dos seres humanos, isto é, o instinto. Este é um passo que antecede à razão, um benefício para o espírito, quando reencarna no reino dos homens. Os animais são programados para agirem instintivamente em qualquer lugar do globo em que habitem, ou seja, em qualquer ponto do planeta, os pássaros farão seus ninhos da mesma forma, assim como o felino caçará usando as mesmas técnicas. Vejamos o exemplo do joão-de-barro cuja morada é construída com majestosa perfeição. Esta informação está em sua programação mental e comumente não é alterada.

Um passo de cada vez

Estando no reino animal, o espírito (essência de vida), reencarna por infinitas vezes em grupos diversos de espécies, de acordo com a programação daqueles espíritos, cuja responsabilidade é acompanhar a evolução destas linhagens. Isto é a essência da vida que hoje anima um cachorro que pode, em algum momento de sua existência, já ter reencarnado ou esta programado para reencarnar em outros grupos de espécies ou raças.

Eu sou um gatinho!

Mas há regras a serem respeitadas e seguidas. Segundo as informações do plano espiritual a Allan Kardec, o Espírito não retroage em sua caminhada, apenas vai rumo à evolução. Um animal doméstico certamente não reencarnará em ambiente selvagem, uma vez que ele já conquistou "conhecimentos" que o diferencia dos irmãos da selva. A própria convivência com a raça humana já é, para o animal doméstico, uma grandiosa experiência. Então fique tranquilo. O seu gatinho, cachorrinho ou passarinho, tratados com tanto carinho, certamente quando desencarnarem irão reencarnar em grupos de animais, cuja espécie esteja na mesma faixa de evolução.

Então o animal tem um espírito?

O animal não tem apenas um espírito. Podemos entender que a essência divina que dá vida a um animal é o espírito. Conforme mostram as questões 597 e 598 de "O Livro dos Espíritos". Pois que os animais possuem uma inteligência que lhes faculta certa liberdade de ação, haverá neles algum princípio independente da matéria?". Há e que sobrevive ao corpo. Será esse princípio uma alma semelhante ao do homem? "É também uma alma, se quiserdes, dependendo isto do sentido que se der a esta palavra. É, porém, inferior ao do homem. Há entre a alma dos animais e a do homem distância equivalente à que medeia entre a alma do homem e Deus".

Como podemos compreender a alma do animal?

O animal é um espírito em estágio inicial de evolução, como já ensinava os estudiosos Gabriel Dellanne e Ernesto Bozzano. Suas pesquisas receberam destaque entre os anos de 1920 e 1930, quando apresentaram à comunidade científica provas incontestáveis, para a época, da existência da "alma" dos animais, após o seu desencarne. Eles conseguiram fotografar o espírito de uma águia desencarnada, afirmando a existência do espírito após o desenlace do corpo físico. O pesquisador Herculano Pires também comprova a existência do espírito dos animais após o desencarne em seu livro "Mediunidade - Vida e Comunicação", onde relata casos de materialização de animais.

Os animais no plano espiritual

Em seus livros (Coleção Mundo Espiritual, FEB Editora), através da psicografia de Chico Xavier, André Luiz abordou a existência de animais no plano espiritual, aguçando a curiosidade dos leitores e estudiosos sobre o assunto. Segundo ele, os animais habitam o plano espiritual, sim. Mas não o animal como conhecemos no plano físico. Os animais, quando desencarnam, conservam a sua consciência espiritual rudimentar, o aprendizado e a experiência útil para sua evolução, mas o perispírito ainda se mantém na sua forma primitiva e carrega, em si, fragmentos deste plano primitivo. Assim ensinou Kardec ao abordar a questão da reencarnação dos animais, no Livro dos Espíritos, pergunta 598: "A alma dos animais conserva depois da morte sua individualidade e a consciência de si mesmo?" Sua individualidade sim, mas não  a consciência do seu eu. A vida inteligente permanece no estado latente. Entendemos que os animais são recebidos no plano espiritual por equipes designadas para este fim e colocados automaticamente para reencarnação. Outros ainda, domesticados, servem de instrumento aos benfeitores espirituais, sendo utilizados em trabalhos de resgate a desencarnados e em terapias em espíritos recém-chegados do plano físico. Como em momentos mostrados por André Luiz em suas obras: de cães puxando trenós relatados em "Nosso Lar" e de aves de monstruosa configuração no livro "Obreiros da Vida Eterna" nos arredores da Colônia.

Lições de Kardec

Apesar da informação do Espírito André Luiz, Allan Kardec, em "O Livro dos Espíritos", traz uma informação que, em um primeiro momento, parece contraditória, ao dizer que não existem animais no plano espiritual. Mas será que Kardec errou ao interpretar as informações passadas pelos espíritos, que colaboraram nas obras da Codificação? Não, Allan Kardec não errou. O que houve e ainda há é a interpretação errada da resposta dada pelos espíritos. Quando os animais desencarnam, o princípio espiritual que os animou é usado para dar vida a outro animal programado para nascer. Segundo o que os espíritos informaram a Kardec, esta ação é quase instantânea, não existindo tempo para os animais se demorarem no plano espiritual, salvo, é claro, exceções, quando a Espiritualidade achar conveniente, informação que vai de encontro aos ensinamentos de André Luiz.

Aprendizado conjunto

No livro "Impulsos Criativos da Evolução para as espécies animais", o escritor Jorge Andréa sugere a ideia de uma alma grupo da espécie, para conceituar a existência de alguns animais, situação igualmente estendida aos reinos vegetal e mineral. Ou seja, no início da sua existência, o ser é constituído de uma existência conjunta a outros sere e vai se individualizando, no decorrer da existência.

Um cantinho para os animais

Existem dois planos conhecidos: o plano físico e o plano espiritual. Ora, se o animal habita o plano físico, quando desencarna ele adentra o plano imaterial, ou seja, o mundo dos espíritos. Mas essa afirmação não afirma que espíritos de homens e espíritos de animais dividam o mesmo espaço na erraticidade. Os homens têm seu espaço reservado, assim como os animais tem o seu e é para lá que eles são remanejados. Este local, segundo informações de André Luiz, se encontra nas proximidades da Terra, em colônias de transição e postos de socorro.

Meu fiel companheiro

Algumas pessoas se perguntam se elas, ao desencarnar, se encontrarão com os animais que lhes foram de estimação em vida, matando assim a saudade, que se acumulou durante o tempo em que ficaram separados. Esta é uma possibilidade pouco provável, segundo informações da Espiritualidade, uma vez que o animal não conserva sua consciência ativa após o desenlace do corpo físico. Ao adentrar o mundo espiritual, sua consciência adormece, ficando à disposição da espiritualidade para as funções que ela achar conveniente: reencarnar ou permanecer à disposição no plano espiritual a trabalho. Vejamos os ensinamentos dos espíritos na questão 600 de "O Livro dos Espíritos". A alma do animal, sobrevivente ao corpo, está depois da morte em um estado errante como a do homem? É uma espécie de erraticidade, visto que não está unida ao corpo, mas não é um Espírito errante. O Espírito errante é um ser que pensa e age por sua livre vontade, sendo a consciência de si mesmo seu atributo principal. A alma dos animais não tem a mesma faculdade. "O Espírito do animal é classificado, depois da sua desencarnação, pelos Espíritos que a isso compete, e quase imediatamente utilizado (para reencarnação), não tendo tempo de se colocar em relação com outras criaturas."

De volta para casa

Tudo bem que a saudade não possa ser aplacada, no plano espiritual, por um encontro promovido do dono com seu animal de estimação. Mas existem carinhos da Espiritualidade que vêm em forma de coincidências da vida. Podendo um animal reencarnar em um novo filhote, vindo a ter contato com a mesma família que ele tinha, enquanto animava outro bichinho.

Chico Xavier e o cão amigo

Caso parecido, que podemos usar como exemplo, é uma estória que relata a relação de Chico Xavier com uma cachorrinha que atendia pelo nome de Boneca. Segundo o escritor Adelino da Silveira relata, Chico sempre era aguardado pela cachorrinha em casa, que fazia grande festa ao vê-lo chegar, pulando em seu colo e lhe lambendo o rosto como se estivesse a beijá-lo. Chico, sempre carinhoso e brincalhão, dizia: "Ah Boneca, eu estou com muitas pulgas!" E a cachorrinha imediatamente começava a lhe coçar o peito com o focinho. Quando Boneca desencarnou, Chico sofreu com a separação e, envolvendo-a em um xale que ganhara de uma fraterna amiga, enterrou a cachorra no fundo do quintal de casa. Tempos depois, um casal de amigos lhe presenteou com um lindo filhote de cachorro idêntico à sua amiga Boneca. A cachorrinha recebeu muitos afagos de todos os presentes na casa do Chico. Assim que Chico a tomou no colo, a cachorrinha ficou agitada e começou a lambê-lo, ao que ele brincou: "Ah Boneca, estou cheio de pulgas!" A cachorrinha começou então a caçar-lhe as pulgas, e parte dos presentes, que conheceram a Boneca, exclamaram. "Chico, será que é a Boneca que está aqui? É a Boneca, Chico!". Emocionados perguntaram a ele como isso poderia acontecer. Ao que Chico respondeu: "Quando nós amamos o nosso animal e dedicamos a ele sentimentos sinceros, ao partir, os espíritos amigos o trazem de volta para que não sintamos sua falta. É, Boneca está aqui sim e ela está ensinando a esta filhote os hábitos que me eram agradáveis."

Podemos evocar os espíritos dos animais?

"No mundo dos Espíritos não há Espíritos errantes de animais, mas somente Espíritos humanos". Assim ensinou o Espírito de Verdade, em "O Livro dos Médiuns", na questão 283, sobre as Evocações dos animais, quando foi questionado por Kardec sobre casos de evocações de animais por médiuns da época. Zombaria e mistificação de espíritos brincalhões a médiuns despreparados, conclui-se. "Evoque um rochedo e ele responderá. Há sempre uma multidão de Espíritos prontos a falar sobre tudo." Ensina o benfeitor.

E os animais podem ver o espírito de seus antigos donos?

Há casos em que, após a desencarnação do dono, o animal pode até sofrer de depressão. Alguns animais chegam à desencarnação por causa da saudade que sentem do seu amigo humano. Se os animais podem sentir de algum modo a presença dos espíritos, podemos entender que, também, aqueles bichinhos que foram muito amados, quando separados de seus donos, e este, por acaso venha a manter contato com o mundo dos encarnados, possa conseguir especial autorização, pode se mostrar ao animal.

Quem ama cuida

O animal depende quase que exclusivamente da boa vontade do homem para sobreviver. O animal doméstico depende até dos carinhos e da atenção do seu dono para se sentir completo. Dar muito afeto e cuidado par seu amigo o ajudará na sua caminhada evolutiva, exercitando sensações que lhe serão úteis em estágios de encarnações futuras. Mesmo que você não o encontre nas próximas existências, deve saber que o respeito, o cuidado e o amor, sentimentos devotados ao seu amigo bicho, também fazem de você uma pessoa melhor e mais segura.

Por que os animais sofrem?

A dor purifica a alma humana e reajusta as dívidas do espírito consigo mesmo; de forma que sofrer faz parte dos exercícios da alma na sua trajetória evolutiva. Para o homem, ser pensante, tal explicação faz sentido, pois a dor e o sofrimento estimulam o desenvolvimento moral do espírito, que, tocado pela razão, sofre e muda sua conduta. Na natureza, os animais precisam mostrar sua garra e sua força, que se traduz em experiências impregnadas em seu perispírito e serão utilizadas no futuro, quando a alma dessas informações carecer. Mas tal entendimento não implica que o homem tem o direito de maltratar os animais, mas sim, impulsioná-lo à evolução, tratando-o bem.

O futuro

A Terra passa por mudanças que certamente alterarão a vida de todos aqueles que vivem sobre ela. Os animais passarão a conviver com espíritos moralmente evoluídos, preocupados com a causa ambiental e com maior atenção à natureza, observando suas mudanças e alterações. A convivência entre homens e animais será pacífica, sem ter a necessidade de o animal servir ao homem com sua força bruta e com a sua carne para alimentar a população humana. Homens e bichos desfrutarão da Terra de forma harmônica e prazerosa.



(texto publicado na revista Alma Animal nº 14 - ano 6 - ano de 2012)


























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