quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Chegou para ficar - César Vicente


O verão de 2015 terá uma visitante não convidada que promete incomodar e não ter pressa de ir embora: a febre chikungunya

Levantamentos epidemiológicos do Ministério da Saúde divulgados em outubro informam que o Brasil já havia registrado 789 casos de uma nova doença infecciosa febril que tende a se alastrar pelo País no verão de 2015 e se tornar crônica: a chikungunya. Semelhante à dengue, seu vírus transmissor (denominado CHIKV) tem como vetores os mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus, velhos conhecidos da população. Casos da doença foram notificados em grande número na Bahia, no Amapá e em Minas Gerais, e é previsível que se alastre por outras regiões em função da estação chuvosa que se aproxima. O risco de contaminação aumenta exponencialmente em épocas de calor e de concentração das águas, condições propícias para a reprodução dos mosquitos. "Essa febre segue os mesmos padrões sazonais da dengue. E ela chegou para ficar", confirma o doutor em Medicina Tropical e professor da Universidade de Brasília (UnB) Pedro Tauil.

A doença teria sua origem no continente africano. Na língua makonde, um dos idiomas da Tanzânia, onde foram documentados os primeiros casos em 1952, o termo chikungunya significa "tornar-se dobrado ou contorcido". Trata-se de uma referência à aparência curvada dos pacientes, em razão das dores articulares e musculares provocadas pelo mal. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2006, via Quênia, o CHIKV alcançou a Ásia (Indonésia, Taiwan, Cingapura, Malásia, Sri Lanka etc.), quando 1,9 milhão de casos - a maioria na Índia - foram notificados. Em 2007, ele adentrou a Europa (Itália e França, principalmente) e, em dezembro de 2013, aportou no Caribe (Aruba, Dominica, Guiana Francesa e República Dominicana, entre outros países), provocando os primeiros casos nas Américas, inclusive Estados Unidos. Em junho deste ano, o vírus ingressou no Brasil provavelmente através de profissionais da saúde, missionários religiosos e soldados do Exército que retornaram infectados da missão de paz no Haiti.

Articulações

A chikungunya se assemelha à dengue na forma de transmissão e nos sintomas. Não existe contaminação entre pessoas, e a única forma de infecção é pela picada dos mosquitos. Entre dois e 12 dias após a picada, aparecem febre em torno de 39 graus, além de artralgias ou dores intensas nas articulações, principalmente dos pés e mãos. Pode ocorrer, ainda, dores de cabeça e musculares e manchas avermelhadas na pele. Cerca de 30% dos casos não chegam a demonstrar sintomas, enquanto em outros casos as artralgias podem se prolongar. Diferentemente do que ocorre com os portadores da dengue, uma parte dos infectados chega a desenvolver problemas crônicos, como dores articulares por seis meses a um ano. "Há casos de pacientes que não conseguem escrever", afirma o coordenador do Programa Nacional de Controle da Dengue do Ministério da Saúde, Giovanini Coelho.

Em compensação, ao contrário da dengue, a chikungunya não apresenta uma variação hemorrágica - mais perigosa e de maior letalidade, superior a 10% dos casos - e raramente implica consequências graves. As mortes têm sido raras, ao menos até agora. Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), a letalidade da doença varia de zero - na Índia nenhum óbito foi confirmado - a 0,1% dos casos. Além disso, uma vez picada pelo mosquito, desenvolvendo ou não os sintomas, a pessoa fica imune pelo resto da vida. Isso porque, segundo os infectologistas, o ser humano constrói uma reação com a produção de seus anticorpos. "O organismo humano consegue montar uma resposta imune com a produção de anticorpos de tal forma que, se você tiver uma nova exposição, esse vírus vai ser neutralizado não gerando mais sintomas", avalia o infectologista e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Edmilson Migoviski.

Prevenção

O diagnóstico é baseado nos sintomas e confirmado por exames laboratoriais. Como ainda não há vacina ou tratamento específico contra o mal, os médicos aliviam os sintomas através de medicação antitérmica (paracetamol) e contra dores articulares (analgésicos e anti-inflamatórios). Nos casos destas últimas se prolongarem, é indicado corticoides e sessões de fisioterapia. Como acontece com a dengue, não se recomenda o ácido acetilsalicílico devido ao risco de hemorragia. Aliás, evite a automedicação para não mascarar os sintomas e dificultar o diagnóstico. Outras recomendações são repouso absoluto e beber líquidos em abundância. E, claro, cortar o mal pela raiz. Da mesma forma como prevenimos a dengue, a chikungunya pode ser evitada erradicando-se os criadouros de mosquitos: não acumule água em recipientes, verifique se a caixa d'água está fechada, não esqueça vasilhames, garrafas e pneus amontoados no quintal, observe se as calhas não estão entupidas e coloque sempre areia nos pratos de vasos das plantas.




(texto publicado na revista Família Cristã nº 948 - ano 81 - dezembro de 2014)





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