sábado, 20 de dezembro de 2014

Dicas para chegar lá - Cynthia de Almeida


Ela é loira, alta, tem olhos verde-claros e um daqueles raros sorrisos que conseguem iluminar todo o rosto. Tem também um dos maiores salários do mundo e uma tarefa nada fácil pela frente: no comando da IBM, a recém-empossada CEO deve cumprir, nos próximos três anos, a meta de aumentar os rendimentos da companhia em 20 bilhões de dólares. Ou seja, crescer algo equivalente ao faturamento de uma Nike.

Não é pouca coisa para a primeira mulher a assumir a presidência da empresa desde sua fundação, há um século. Mas explica em parte por que Ginni Rometty, 55 anos, 31 dos quais na IBM, foi eleita pela revista americana Fortune a mulher de negócios mais poderosa do mundo. 

Como muitas (das poucas) profissionais que alcançaram esse topo, galgado por apenas 4% das mulheres, Ginni tem histórico e perfil comparáveis aos de seus predecessores do sexo oposto. Determinação, exigência, ousadia, criatividade e outras "blá-blá-blás" características que compõem, no universo competitivo das grandes corporações, o perfil desejável de um big boss.

Mas Ginni é mulher, e sua história certamente reúne particularidades que a diferem de seus poderosos pares homens. Algumas pistas são dadas por pessoas próximas. Por exemplo, sua capacidade de ouvir. "Muitos fingem que estão ouvindo, Ginni ouve de verdade", conta um cliente. "Ela lidera pela mente e pelo coração", declara um colaborador que não se esquece da especial atenção recebida quando ela, mesmo chefiando centenas de funcionários, empenhou-se em monitorá-lo de perto em uma fase com problemas de saúde.

Bom, até aí... Muitos líderes, não importa se homens ou mulheres, são especialmente cuidadosos e sensíveis com sua equipe. O que, de fato, denuncia sua visão feminina e pode ser inspirador para as garotas em início ou meio de carreira vem de um depoimento dado por Ginni há alguns meses, durante um fórum de mulheres poderosas nos Estados Unidos.

Entre as histórias contadas ali, ela falou de um conselho do marido: quando estava no início da carreira de executiva, Ginni recebeu uma excelente proposta de trabalho que julgou, naquele momento, acima da sua capacidade. Com uma franqueza desconcertante, declarou ao proponente que não se sentia à altura do cargo e ainda precisaria crescer para atender às suas exigências. Portanto, não sabia se deveria aceitá-lo. Em casa, relatou a conversa ao marido (com quem é casada há 32 anos) e ouviu uma resposta prática e direta, que só os homens costumam dar: "Você quer declinar do trabalho porque não se sente capaz... Sei... Consegue imaginar um homem em seu lugar dizendo isso?" Ginni pensou, riu e aceitou o emprego no dia seguinte.

Outra inspiração veio do ex-chefe dela, Samuel Palmisano, o CEO que a precedeu no cargo. Ginni afirma ter ouvido dele que, não importa qual é o seu negócio, ele vai se desvalorizar com o tempo. "Você tem que mudá-lo constantemente para torná-lo relevante", dizia. Ginni aprendeu com ele que a única maneira para crescer sempre é fazer aquilo que "você não sabe fazer".

"Saio todos os dias da minha zona de conforto", revela Ginni, que dá o crédito de duas lições fundamentais para sua carreira a dois homens importantes de sua vida. Quantos CEOs homens poderosos teriam esse desprendimento?



(texto publicado na revista Claudia - novembro de 2012)






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