Maioria de pesquisas para medicamentos e tratamentos é feita com pacientes brancos
Quando ainda fazia residência em Harvard, em 1997, o bioengenheiro Esteban Burchard viu um adolescente negro morrer de asma a poucas quadras do hospital, com o inalador na mão. No mesmo ano, ele identificou um gene que aumenta o risco de desenvolver uma variante mais forte da asma - e ele era 40% mais comum em pessoas negras. Pois que agora, quase 20 anos depois, um outro estudo feito por Burchard revelou que a maioria das pesquisas feitas nos Estados Unidos é focada em pessoas brancas e descendentes de europeus. O resultado é que muitos remédios no mercado não são os mais eficazes para pessoas de outras etnias. Diabetes e problemas no coração, por exemplo, são mais comuns em latinos e hispânicos.
O problema, segundo Burchard, é que as pequisas científicas tendem a buscar populações geneticamente homogêneas. É mais fácil realizar um estudo em indivíduos semelhantes do que realizar o mesmo projeto em populações diferentes. Os próprios médicos acabam preferindo estudar pacientes parecidos com eles. "Até as mulheres entrarem na medicina, não existiam pesquisas que incluíam mulheres", diz Burchard. Para completar, a principal agência que financia projetos médicos nos EUA também não costuma aceitar propostas que envolvam pesquisas com outras etnias. Um estudo de 2011 publicado na revista Science revelou que cientistas asiáticos e negros têm, respectivamente, 4% e 13% menos chance que brancos de receber financiamento. O argumento é que essas populações apresentam grande variação genética, o que as tornaria mais difíceis de analisar.
(texto publicado na revista Galileu nº 281 - dezembro de 2014)
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