domingo, 7 de dezembro de 2014

Vem aí uma vacina contra a diabetes - Monique Oliveira, de Chicago (EUA)


Pesquisadores da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, anunciaram na última semana um passo importante em direção à primeira vacina contra a diabetes. Os cientistas criaram um imunizante que se mostrou eficaz para controlar, em humanos, o tipo 1 da doença, que ocorre porque o sistema imunológico do próprio corpo passa a atacar as células beta, situadas no pâncreas, que fabricam a insulina. O hormônio permite a entrada, nas células, da glicose circulante na corrente sanguínea. Com menos insulina, há um acúmulo de açúcar no sangue, o que caracteriza a diabetes. O outro tipo, o 2, é resultado de alterações promovidas principalmente pela obesidade.

A vacina impediu o ataque de um tipo de célula CD8 - integrantes do sistema imunológico - às células beta. "Estamos muito excitados com o resultado. Sugere que o sonho de interromper o ataque do sistema imunológico a células específicas pode ser realizado", afirmou Lawrence Steinman, um dos líderes da pesquisa realizada com 80 pacientes. Os cientistas planejam expandir os experimentos para investigar a eficácia do remédio em mais indivíduos.

Interromper  a destruição comandada pelo corpo é um dos objetivos perseguidos por cientistas em todo o mundo. Recentemente, a Diabetes UK, entidade inglesa de combate à doença, anunciou um ambicioso projeto de pesquisa em busca de uma vacina com esse propósito. Por essa razão, o feito dos americanos foi saudado. "Pela primeira vez temos evidência da eficácia de uma vacina em humanos. É um passo significativo em direção a um mundo sem diabete tipo 1", afirmou Karen Addington, especialista inglesa.

A notícia da vacina somou-se a outras boas novidades divulgadas na semana passada. Nos EUA, onde ocorreu o congresso da Associação Americana de Diabetes, anunciou-se entre os avanços a chegada de um pâncreas artificial, capaz de equilibrar os níveis de insulina no organismo. Produzido pela Medtronic, o aparelho está sob avaliação do Food and Drug Administration, órgão americano responsável pela liberação de aparelhos de saúde. "Essa tecnologia é um passo importante para a criação de um sistema de entrega de insulina mais inteligente", disse Rich Bergenstal, investigador principal da pesquisa apresentada para a aprovação do dispositivo.

O pâncreas artificial é dotado de um sensor e um software acoplados a uma bomba de insulina e promove a liberação do hormônio de acordo com a necessidade. Dessa forma, diminui o risco de crises de hipoglicemia, um dos reveses mais comuns no controle da doença. "Alguns médicos até demoram a receitar a insulina, de tão complicado que pode ser sua aplicação", diz o médico Freddy Eliaschewitz, de São Paulo, presente no encontro americano. O administrador de empresas Luiz Carlos Teixeira, 63 anos, de São Paulo, toma cuidado para não sofrer com o problema. "Procuro me alimentar bem", diz.

Três frentes contra a doença

1) Remédios

A - Insulinas

O laboratório Eli Lilly apresentou estudo com a molécula LY2605541, um tipo de insulina dirigida para o controle da glicose após as refeições. A substância reduziu significativamente os níveis de açúcar nesses momentos.

A Sanofi mostrou pesquisa sobre a U300, uma insulina de liberação lenta. Ela mostrou níveis de redução de glicemia similares aos da insulina mais usada (glargina), com a vantagem de reduzir crises de hipoglicemia (queda abrupta do açúcar no sangue) noturna.

B - Agonistas de GLP-1

Estimulam a produção de insulina e de glucagon (substância importante no controle da doença) e facilitam a perda de peso.

O produto da Eli Lilly, o dulaglutide, é de dose única semana.

O desenvolvido pela Sanofi, lixisenatide, estará disponível no Brasil nos próximos meses. Em estudos, diminuiu a hemoglobina glicada (média dos níveis de açúcar nos últimos três meses).

C - Anti-SGLT2

Representam nova via de combate à doença: através do rim. Os remédios dessa classe impedem que o órgão libere a reabsorção da glicose pelo corpo.

O laboratório Janssen criou o canagliflozina, já aprovado nos Estados Unidos. Em pesquisas, o remédio promoveu a melhora da glicemia e da pressão arterial. Houve também perda de peso.

A indústria AstraZeneca apresentou trabalho sobre a dapagliflozina. Os pacientes manifestaram poucos episódiso de hipoglicemia e a glicose foi diminuída em sete pontos.

2) Pâncreas artificial

Objetivo

O aparelho equilibra a liberação de insulina de acordo com os níveis de glicose no sangue.

Do que é composto

Inclui uma bomba de insulina, um software e um sensor capaz de rastrear os níveis de glicose no sangue em uma base contínua.

Eficácia

Em estudos, diminuiu em 32% os episódios de hipoglicemia (queda abrupta da taxa de glicose no sangue para menos de 70 mg/dl) e a severidade e duração desses incidentes em 38%.

Por que é importante

A hipoglicemia é um problema sério no controle da doença. Ela ocorre pela aplicação exagerada de insulina.

Tontura, fome e desequilíbrio são alguns dos sintomas. É possível haver também coma hipoglicêmico e até óbito em alguns casos.

Um dispositivo inteligente para a liberação exata da quantidade de insulina necessária seria uma das soluções para o problema.

3) Vacina

Foi formulada para portadores do tipo 1 da doença

A - A diabetes tipo 1 ocorre porque o sistema imunológico do próprio corpo ataca as células beta, produtoras de insulina, o hormônio que abre as portas das células para a entrada da glicose circulante no sangue.

B - Sem insulina suficiente para tirar o açúcar da corrente sanguínea, ele se acumula, caracterizando a diabetes.

C - O imunizante tem como alvo um tipo específico de célula CD8 (integrante do sistema de defesa do corpo) que, no caso da diabetes tipo 1, destrói as células beta.

D - Ao contrário das vacinas comuns, que estimulam o sistema imunológico, a vacina tem como objetivo impedir a ação das células CD8 contra as células beta.

E - O remédio foi testado em 80 pacientes. Eles receberam injeções semanais durante 3 meses.

F - Ao final do período, a concentração das células CD8 alvo foi reduzida de forma significativa, o que demonstra a eficácia da vacina. Além disso, as células beta apresentaram melhor funcionamento.



(texto publicado na revista IstoÉ nº 2276 - 3 de julho de 2013)










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