sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Corticoide: efeitos colaterais e indicações - Pedro Pinheiro (MD.Saúde)


Os glicocorticoides, também chamados de corticoides ou corticosteroides, são drogas poderosas, derivadas do hormônio cortisol produzido pela glândula supra-renal. Os corticoides são frequentemente usados como parte do tratamento de doenças de origem inflamatória, alérgica, imunológica e até contra alguns tipos de câncer.

Apesar de ser um medicamento muito eficaz contra várias doenças graves, os corticoides apresentam um grande defeito: um perfil muito extenso de efeitos colaterais, alguns deles graves, outros esteticamente indesejáveis. Quando usados de forma prolongada, os corticoides levam ao ganho de peso, podem causar estrias, provocam acne, enfraquecem os ossos.

Neste artigo, iremos tratar das indicações e dos efeitos colaterais dos corticoides, com especial ênfase na prednisona e prednisolona, as drogas mais usadas da classe.

O que é um glicocorticoide?

Os glicocorticoides são hormônios esteroides, não-anabolizantes e não-sexuais, produzidos pelo córtex da glândula supra-renal. O hormônio produzido naturalmente pelo nosso organismo é o cortisol. Níveis normais de cortisol são essenciais para a nossa saúde, pois este hormônio tem ação no metabolismo da glicose, nas funções metabólicas do organismo, na cicatrização, no sistema imune, na função cardíaca, no controle do crescimento e em muitas outras ações básicas do nosso corpo.

O cortisol é um hormônio de estresse. Ele recebe esse nome, pois sua produção eleva-se toda vez que o nosso organismo encontra-se sob estresse físico, como nos casos de traumatismos, infecções ou cirurgias. O cortisol aumenta a disponibilidade de glicose e energia, eleva a pressão arterial, aumenta o tônus cardíaco e prepara o organismo para sofrer e combater insultos.

Tipos de corticoides

Os glicocorticoides usados na prática médica são versões sintéticas, produzidas laboratorialmente, do hormônio natural cortisol. Existem várias formulações sintéticas de corticoides, as mais usadas são a prednisona, prednisolona, hidrocortisona, dexametasona, metilprednisolona e beclometasona (via inalatória).

Todos os corticoides sintéticos são mais potentes que o cortisol natural, exceto pela hidrocortisona, que apresenta uma potência semelhante.

Potência em relação ao cortisol:

- Hidrocortisona = potência semelhante ao cortisol.
- Deflazacort = 3 x mais potente que o cortisol.
- Prednisolona = 4-5 x mais potente que o cortisol.
- Predinisona = 4-5 x mais potente que o cortisol.
- Triamcinolona = 5 x mais potente que o cortisol.
- Metilprednisolona = 5-7 x mais potente que o cortisol.
- Betametasona = 25-30 x mais potente que o cortisol.
- Dexametasona = 25-30 x mais potente que o cortisol.
- Beclometasona = 8 pufs 4 x por dia equivale a 14 mg de prednisona oral diária.

60 mg de prednisona apresentam o mesmo efeito que 2 mg de dexametasona ou 300 mg do cortisol natural. Devido a essa potência maior dos corticoides sintéticos, conseguimos administrar nos pacientes doses muito acima dos níveis fisiológicos do cortisol, o que é essencial para o tratamento de algumas doenças.

Doenças que podem ser tratadas com corticoides

A prednisona e os corticoides em geral são drogas que conseguem modular processos inflamatórios e imunológicos do nosso organismo, tornando-se extremamente úteis em uma infinidade de doenças. Qualquer doença de origem alérgica, inflamatória ou autoimune pode ser tratada com algum desses corticoides.

Só para se ter uma ideia da importância dos corticoides na prática médica, podemos citar como indicação para a sua administração as seguintes doenças:

- Asma 
- Esclerose múltipla
- DPOC (enfisema e bronquite crônica)
- Alergias, principalmente anafilaxias 
- Hepatite autoimune 
- Herpes Zoster 
- Lúpus
- Artrite reumatoide
- Leucemias e linfomas
- Púrpura e trombocitopênica idiopática
- Mieloma múltiplo
- Edema cerebral
- Paralisia cerebral de Bell
- Gota
- Sarcoidose
- Rinite alérgica
- Vitiligo
- Psoríase
- Granulomatose de Wegener
- Doença inflamatória intestinal
- Miastenia Gravis
- Vasculites
- Doença de Addison
- Gromerulonefrites
- Doenças de pele de origem inflamatória ou autoimune
- Síndrome de Sjögren
- Transplante de órgãos
- Urticária 

[...]

Efeitos colaterais da prednisona e dos corticoides em geral

Os efeitos colaterais estão intimamente relacionados à dose e ao tempo de uso. O uso esporádico e por pouco tempo não é capaz de levar aos efeitos adversos que serão descritos a seguir. Não é preciso se preocupar com a prescrição de corticoides por apenas uma semana, mesmo que este esteja em doses altas.

Toda vez que o uso de corticoides em doses elevadas ou por tempo prolongado for cogitado, é importante colocar na balança os possíveis benefícios e os prováveis efeitos colaterais. O uso estará indicado sempre que o médico julgar que a doença a ser tratada é mais grave que os potenciais efeitos adversos.

a) Efeitos colaterais dos corticoides na pele

Os efeitos estéticos dos corticoides são os que mais incomodam os pacientes, principalmente as mulheres. Entre os mais comuns podemos citar a equimose e a púrpura associadas ao corticoide. Outro efeito adverso comum é uma pele mais fina e frágil. 

Um sinal típico da toxicidade pelo corticoide é o desenvolvimento da aparência "cushingóide", que se caracteriza por uma face arredondada, pelo acúmulo de gordura na região posterior do pescoço e das costas e pela distribuição irregular da gordura corporal, com predomínio na região abdominal e tronco. 

b) Efeitos colaterais dos corticoides nos olhos

O uso contínuo de corticoides sistêmicos, normalmente por mais de 1 ano com doses maiores que o equivalente a 10 mg de prednisona por dia, pode levar a alterações oftalmológicas, como a catarata e glaucoma. Tanto os corticoides usados por via oral, por via nasal ou sob forma de colírios podem causar ambas as doenças.

c) Efeitos colaterais metabólicos dos corticoides

A partir da dose de 5 mg por dia há uma clara tendência ao ganho de peso e acúmulo de gordura na região do tronco e abdômen. Quanto maior for a dose do corticoide, maior é o ganho de peso.

Além do acúmulo de gordura, a corticoterapia crônica também leva a alterações do metabolismo da glicose, podendo, inclusive, provocar diabetes mellitus. O risco é maior nos indivíduos que já apresentam valores de glicose ligeiramente alterados antes do início da corticoterapia. Apesar do diabetes ser reversível na maioria dos casos após a suspensão da droga, alguns pacientes permanecem diabéticos para o resto da vida.

d) Efeitos colaterais cardiovasculares dos corticoides

A incidência de várias doenças cardiovasculares costuma aumentar com o uso prolongado de corticoides. Podemos citar o aumento da ocorrência de hipertensão, infartos do miocárdio, insuficiência cardíaca e AVC.

e) Efeitos colaterais músculo-esqueléticos dos corticoides

O uso crônico de glicocorticoide está associado a diversas alterações músculo-esqueléticas. A mais comum é a osteoporose. Nesse caso, mesmo doses baixas, como 2,5 mg ou 5 mg por dia, se usadas de forma crônica, podem acelerar a perda de massa óssea.

f) Efeitos colaterais dos corticoides no sistema nervoso central

O uso de corticoides, em um primeiro momento, pode causar uma sensação de bem-estar e euforia. Porém, a longo prazo ele está associado a uma maior incidência de quadros psiquiátricos, tais como psicose e depressão, além de insônia e alterações de memória.

g) Efeitos colaterais imunológicos dos corticoides

Além de facilitar infecções, os corticoides também inibem o surgimento da febre, dificultando o reconhecimento de um processo infeccioso em curso.

A candidíase oral e vaginal são infecções muito comuns nos pacientes que fazem uso crônico de glicocorticoides.

h) Outros efeitos colaterais dos corticoides

A lista de possíveis efeitos colaterais dos corticoides é muito extensa. Além dos que já foram citados, outros efeitos adversos relativamente comuns são: retenção de líquidos, alterações menstruais, gastrite, úlcera péptica, esteatose hepática, pancreatite e infertilidade.

Cuidados e perigos do uso de corticoides

A corticoterapia prolongada requer alguns cuidados, principalmente na hora de se suspender a droga.

O uso de prednisona ou similares por muito tempo, inibe a produção natural de cortisol pela glândula supra-renal. Quando a supra-renal fica muito tempo inibida pela administração de corticoides exógenos, ela demora a voltar a produzir o cortisol naturalmente. Como o cortisol é um hormônio essencial para a vida, o paciente que suspende o corticoide sintético abruptamente entra em um estado chamado de insuficiência supra-renal, podendo evoluir para choque circulatório, coma e óbito, se não for rapidamente atendido.

Por isso, a retirada dos corticoides após uso prolongado deve ser sempre feita de modo lento e gradual. Nunca se deve suspender o tratamento sem conhecimento médico.


































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