quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

"Tenho um tipo grave de diabetes" - Adriane Aoqui, depoimento a Daniela Talamoni


A doença foi sequela de um acidente sofrido pela secretária Adriane Aoqui, 34 anos. Ela só percebeu porque passou a beber 20 litros de água por dia!

"Minha vida mudou muito depois do dia 5 de maio de 1995. Estava casada, morando no Japão há cinco meses, e com uma filha prestes a completar um ano. Naquele dia, eu e ela pegamos carona com amigos para irmos a um churrasco. No caminho, fomos surpreendidas por um caminhão. Minha filhinha foi lançada do veículo e, apesar do corte no rosto que lhe renderia cinco cirurgias plásticas, não sofreu sequelas mais graves. Eu fui bastante atingida: fraturei o maxilar, o fêmur, fiquei com o globo ocular exposto e fui submetida a observação por causa de um coágulo no cérebro, que mais tarde regrediu.

O traumatismo craniano também me deixou sem olfato (não sinto cheiro de nada, o que prejudica o meu paladar) e afetou a memória. Durante um mês e meio, tive amnésia parcial. Não lembrava que já era casada e mãe. Até hoje, não me recordo de alguns fatos e pessoas marcantes da minha infância e adolescência. Como se não bastassem os desgastes físicos, também sofri pressões emocionais.

Meu casamento não ia bem, passei dois meses hospitalizada sem poder me comunicar direito com os médicos e enfermeiras (afinal, não era fluente em japonês) e só recebi alta porque tive depressão.

Depois de tudo o que passei, o fato de ter sede a toda hora não me preocupou. Estava empenhada em recomeçar a vida. Tive mais uma filha, me separei e só passei a notar que algo estava errado quando meu novo hábito extrapolou os limites e comecei a engordar. Lembro que acordava sedenta, duas a três vezes à noite, como se tivesse acabado de participar de uma maratona. Um galão de 20 litros de água durava um dia em casa e eu não saia sem uma garrafinha reserva na bolsa.

Mais uma surpresa

Após uma peregrinação por vários endocrinologistas, uma única médica abriu meus olhos. Só ela me perguntou sobre a cicatriz na testa e, quando mencionei aquela sede incontrolável, não teve dúvidas em pedir vários exames. O diagnóstico confirmou a sua suspeita: estava com diabetes insipidus, uma doença incurável que provoca rápida desidratação no organismo e, se não for controlada, pode ser fatal. Hoje, com o tratamento, consigo ficar mais  tempo sem ingerir líquidos e já perdi alguns quilos. Meu desejo agora é que essa história possa ajudar outras pessoas a descobrir essa doença mais cedo do que eu."

Entenda bem

Segundo a endocrinologista Silmara Leite (PR), o diabetes insipidus é uma doença que afeta o funcionamento da glândula pituitária posterior, localizada no interior do cérebro, que produz o hormônio antidiurético (ADH). Por causa de herança genética ou lesões após ferimentos na cabeça (como no caso de Adriane), doenças ou tumores, a glândula deixa de secretar o hormônio e os rins perdem muita água. Essa perda acentuada de urina reflete-se no aumento da sede e da ingestão de líquidos e predispõe a pessoa a grave desidratação, levando inclusive à morte. O diagnóstico da doença é difícil. Não há como dosar a quantidade de ADH na urina e, muitas vezes, os exames não identificam alterações na glândula. A saída dos especialistas, portanto, é observar a urina do paciente após 24 horas sem beber nenhum líquido, para avaliar a atividade do rim. Se continuar bem diluída, é sinal de problema.




(texto publicado na revista VivaSaúde nº 10 - ano 2 - fevereiro de 2005)




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