Você conhece a história do velho, o menino e o burrinho? Andavam pela estrada um menino e um velho sentado num burrinho. Quem cruzava com eles comentava que era um absurdo um homem tão forte ir sozinho no lombo do burro e deixar um pobre menino andar a pé. O menino subiu no burrinho e aí as pessoas passaram a criticar os dois: "Que absurdo! Dois homens com saúde sacrificando um animal". E assim foi. No final, de tanto fazer o que outros disseram, os dois acabaram com o burro nas costas...
Carregando o burro
Com as notícias sobre saúde, as coisas acontecem mais ou menos da mesma maneira. O leigo que seguir os conselhos das últimas pesquisas (que não são poucos e muitos deles completamente contrários), é bem capaz de acabar carregando o burrinho. Moral da história: é melhor não acreditar em tudo que se lê.
Como os males de amor
Pesquisas na área médica são como males de amor: precisam de tempo para encontrar o caminho certo. A conselheira do Cremesp (Conselho Regional de Medicina) dra. Mariza D'Agostino Dias, especialista em terapia intensiva e supervisora da UTI do Hospital das Clínicas, explica: "No dia-a-dia da medicina, o que se tem de concreto são somente problemas. Na tentativa de solucioná-los, os pesquisadores criam hipóteses que podem ou não serem comprovadas. Com a tecnologia disponível, os resultados são mais rápidos, mas mesmo assim levam algum tempo para se consolidar".
Onde mora a contradição
A imprensa acaba noticiando os problemas, os primeiros resultados, as primeiras pesquisas. Se a hipótese não for comprovada, o resultado final do estudo pode negar o que se pensava de início.
Mas a médica aponta o lado bom da questão. "Toda essa divulgação através da imprensa tem seu lado positivo. Eu percebo que há uma preocupação em informar com mais profundidade e sem sensacionalismo", ressalta. "O importante é o senso crítico de cada um. Ninguém pode ficar parado no tempo e se sentir enganado pelas notícias", diz.
Olestra para que te quero
Manteiga faz mal, margarina nem tanto e azeite de oliva é bom para a saúde. Quem nunca ouviu falar nisso? É só cortar a manteiga das refeições, entrar de cabeça na margarina e está decretado o fim dos problemas de coração. Há dois anos, noticiou-se que a vilã era mesmo a margarina. Em seguida, o must era usar margarina líquida, saudável para o coração. Será?
Segundo a nutricionista Rosana Farah Simony Bento, tanto a manteiga quanto a margarina são alimentos que contém alto teor de ácido graxo saturado (7,1 g em uma colher de sopa de manteiga e 1,7 g na mesma quantidade de margarina). Por isso, das duas, a melhor companhia para a sua torrada é a margarina. Além de ser "menos gorda", é de origem vegetal. Em tempo: alimentos de origem vegetal não causam colesterol.
Quanto ao delicioso azeite de oliva, ele não aumenta o colesterol - contém ácido graxo monoinsaturado -, portanto seu coração está a salvo. Mas existe o outro lado da moeda: o azeite de oliva pode, sim levar à obesidade quando consumido em excesso.
Já com relação ao olestra, o óleo sem gordura descoberto nos laboratórios de pesquisa da Procter & Gamble norte-americana, a posição da nutricionista é de expectativa. "São necessários estudos adicionais a fim de verificar se há perigo ou não à saúde se ingerirmos olestra. Sua molécula é muito grande, não pode ser absorvida pelo organismo (e aí não engordaria), mas parece que a sua utilização deve ser suplementada por vitamina E."
O importante é comer certo
Se você já estava soltando fogos de artifício para comemorar o que parecia ser a "descoberta do século", pode esperar. Apesar de ter sido aprovado nos Estados Unidos para ser usado em produtos industrializados, o olestra tem uma lista enorme de "contras". E mais: nenhum óleo sem gordura vai poder substituir uma alimentação balanceada, com muito verde no prato. Abusar das batatinhas fritas e dos hambúrgueres, nem pensar!
Não que a gordura deva ser encarada como "a causa de todos os males". Segundo a dra. Mariza, o importante é a preocupação com a proporção alimentar. "O nosso organismo deve ter a proporção certa de hidratos de carbono, gordura e proteínas", afirma. "Só que o excesso de gordura pode acarretar distúrbios como fadiga e até problemas cardíacos", conclui.
A hora e a vez do macarrão
Macarrão engorda. Abaixo o espaguete! Cantinas italianas são um verdadeiro perigo para a saúde e o corpinho.
Parece que não é bem assim. "Os carboidratos como pão e macarrão tornam-se vilões da dieta na medida em que são consumidos em quantidade superior à recomendada a um indivíduo", afirma Rosana.
Casa que falta pão...
... Todo mundo briga e ninguém tem razão. E o leigo fica sem saber em que acreditar. Na realidade, o macarrão da mamma tem pouca gordura - se você descontar o molho e o queijo - e muitos carboidratos. E um grama de gordura fornece 9 calorias contra 4 dos carboidratos. Segundo a revista canadense GQ, de setembro de 1995, nenhum estudo relacionou, até agora, alimentos ricos em carboidratos com o aumento de apetite ou mesmo com retenção de gordura no organismo.
Mas o jornal The New York Times, um dos mais lidos nos EUA, deu a manchete: Macarrão engorda. Três meses depois, o mesmo jornal escreveu um editorial admitindo que "o artigo não tinha a intenção de sugerir que o macarrão é, por si só, engordativo e a manchete não deveria ter afirmado isso". Em que acreditar?
Como no caso da gordura, os carboidratos também são muito importantes para o bom funcionamento do organismo. "Eles fornecem o que chamamos de energia rápida. Energia esta que ajuda a manter o pH do nosso corpo normal", diz a dra. Mariza.
Mocinhos ou bandidos?
As últimas manchetes acusam: "Vitaminas sob suspeita", "Betacarotenos podem fazer mal". Os complementos alimentares tão em voga nos últimos anos viraram protagonistas de uma guerra. Recentes pesquisas - dos mesmos institutos que antes endossavam os efeitos milagrosos dos aditivos - colocam em dúvida seus efeitos. O Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos analisou os efeitos preventivos do betacaroteno na luta contra o câncer. Os resultados não foram nem um pouco animadores.
Para o dr. Fernando Requena, especialista em medicina ortomolecular, a grande vilã da história se chama automedicação. "O primeiro passo é a orientação médica. Cada caso tem de ser estudado individualmente para se chegar a um diagnóstico e ao tratamento indicado", diz. Para o médico, a base científica e a quantidade certa são fundamentais. "As vitaminas, os minerais, em suma, os complementos alimentares têm de ser encarados como remédios. A superdose acarreta efeitos colaterais", conclui.
A indústria do estresse
Mas por que devemos tomar os tais suplementos se a humanidade viveu tão bem até agora sem nem sequer conhecê-los? A explicação para a incógnita segundo a medicina ortomolecular é tão somente o ritmo de vida atual. "Os bio-fatores, dentre eles a acidez do estômago, são profundamente alterados com o estresse, a alimentação industrializada e seus corantes, aditivos e adoçantes", explica o dr. Requena. Tudo isso alteraria o trabalho dos lactobacilos na absorção dos nutrientes durante a digestão, daí a necessidade dos complementos.
Você é o que come
A nutricionista Rosana Farah é de outra opinião: "Uma dieta equilibrada contém todos os nutrientes necessários e principalmente suficientes para a manutenção da boa saúde do indivíduo." Para ela, as cápsulas de vitaminas e minerais são desnecessárias e seria importante que os médicos se preocupassem com as consequências das superdoses.
Entre prós e contras, em uma coisa os especialistas concordam: uma alimentação saudável e rica em nutrientes é premissa básica para qualquer saúde de ferro. Afinal, já dizia vovó: o peixe morre pela boca.
Você é o que come
A nutricionista Rosana Farah é de outra opinião: "Uma dieta equilibrada contém todos os nutrientes necessários e principalmente suficientes para a manutenção da boa saúde do indivíduo." Para ela, as cápsulas de vitaminas e minerais são desnecessárias e seria importante que os médicos se preocupassem com as consequências das superdoses.
Entre prós e contras, em uma coisa os especialistas concordam: uma alimentação saudável e rica em nutrientes é premissa básica para qualquer saúde de ferro. Afinal, já dizia vovó: o peixe morre pela boca.
(texto publicado na revista Pense Leve nº 46 - ano 4)
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