segunda-feira, 23 de março de 2015

Paulistano Nota Dez: Igor Rocha - Aretha Yarak


Nome: Igor Rocha
Profissão: agente penitenciário
Atitude transformadora: criou um grupo de teatro para presos em uma unidade de segurança máxima

Em 2010, o carcereiro Igor Rocha, de 56 anos, iniciou um projeto inusitado na Penitenciária Desembargador Adriano Marrey, em Guarulhos. Junto de trinta homens que cumpriam pena por assalto a banco, assassinato e tráfico, ele se fechou em uma sala de aula. "Aqui dentro somos todos iguais", anunciou. Começava ali o grupo de teatro Do Lado de Cá, formado exclusivamente por presidiários da cadeia de segurança máxima. A ideia era esmiuçar conflitos que acontecem dentro e fora das grades. "Uso a arte para trabalhar questões que envolvem a humanização", conta. O projeto tem como base a metodologia desenvolvida pelo dramaturgo Augusto Boal (1931-2009), integrante do célebre Teatro de Arena, uma das mais importantes companhias brasileiras na década de 60.

Se no início do trabalho Rocha precisou driblar o preconceito de funcionários e dos próprios detentos, hoje as aulas são concorridas e respeitadas. No começo deste ano, mais de 300 interessados tentaram uma vaga - só podem sair para apresentações externas aqueles que estão em regime semiaberto. Duas vezes por semana, por três horas, o agente recorre a jogos dramáticos, à neurolinguística e até mesmo ao psicodrama. "Todas as cenas reproduzem episódios reais. Trago à tona a realidade deles", diz. Em uma das sessões, por exemplo, a turma reviveu o dilema de um prisioneiro que voltou para o cárcere depois de um tempo solto. A história do grupo de Guarulhos acabou incluída no filme Na Quebrada, de Fernando Grostein.

Na carreira de carcereiro há dezessete anos, Rocha mergulhou na dramaturgia devido a um problema de saúde. Em 2003, sofria de uma depressão severa. Angustiado e prestes a abandonar o trabalho, foi convidado a participar de uma classe de atores amadores que seria formada apenas por agentes do presídio. "O teatro salvou minha vida, foi o meu desabafo. Quero poder oferecer o mesmo aos presos", afirma.



(texto publicado na revista Veja São Paulo de 17 de dezembro de 2014)


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