terça-feira, 31 de março de 2015

O efeito das emoções na mente e espírito - Rosyres Fernandes


As emoções são estímulos mentais que influenciam nossa vida afetiva. Sob circunstâncias normais, não se constituem na causa de doença. Dificilmente o ser humano evita a sensação de raiva, tristeza, pesar, preocupação ou medo em vários momentos da vida. A morte de um parente, por exemplo, provoca um sentimento muito natural de pesar, entretanto, não devemos confundir nossa vida mental e espiritual com nossa vida emocional. É perfeitamente possível ser ativo e animado sem estar sobrecarregado de emoções excessivas que perturbam a mente.

A prática budista de buscar a iluminação é precisamente designada para aquietar a mente e para submetê-la a um estado de "desatenção" ao estímulo emocional, que apenas a agita. Porém, a pintura budista de um ser iluminado não mostra um indivíduo do tipo "robô enfadonho", mas uma pessoa vibrante, animada e mesmo jovial, que pode se misturar com o povo normalmente.

As emoções se tornam causa de doença apenas quando são excessivas ou prolongadas. Dificilmente consegue-se evitar a sensação de raiva, porém um estado temporário da mesma não gera doença, mas, se o indivíduo sente-se constantemente irritado por muitos anos, esta emoção seguramente irá perturbar sua mente causando alguma doença. Embora as emoções sejam uma causa explícita de doença, possuem também uma contraparte saudável. A mesma energia mental que produz e nutre as emoções excessivas pode ser utilizada e direcionada para propósitos criativos e satisfatórios.

Assim, cada emoção, como causa de doença, é apenas um lado da moeda; o outro é a energia mental que pertence ao órgão Yin correspondente. Isto explica por que uma determinada emoção afeta um órgão específico: um órgão em particular já produz uma energia mental determinada, com características específicas que, quando sujeitas ao estímulo emocional, reagem ou ressoam com uma emoção em particular. Ou seja, as emoções não se constituem em alguma coisa que sai dos órgãos internos para atacá-los. Os órgãos já possuem uma energia mental positiva, que apenas se torna negativa quando provocada por determinadas circunstâncias externas.

Um exemplo. Por que a raiva afeta o fígado? Ao considerarmos as características do fígado (movimento livre, fácil e rápido, tendência para o Qi - energia vital - subir, correspondência com a primavera quando a força da energia Yang queima acima, e correspondência com a madeira com seu movimento expansivo), facilmente compreendemos que o fígado é afetado pela raiva. Esta emoção, de explosão rápida, a ascensão do sangue para a cabeça que sentimos quando estamos com muita raiva, a qualidade destrutiva e expansiva de fúria e as simulações no nível afetivo se identificam com as características do fígado e da madeira descritas anteriormente.

As mesmas qualidades mentais e afetivas do fígado que podem gerar raiva e ressentimento ao longo de muitos anos podem ser aproveitadas e utilizadas para um desenvolvimento mental muito criativo. Concluiu-se então que a melhor maneira de lidar com as emoções, como causa de doença, não é ignorá-las, tampouco suprimi-las, mas reconhecê-las, observá-las e tentar usar a mesma energia mental para produzir objetivos.

Na Medicina Chinesa, as emoções são estímulos mentais que perturbam a mente, a alma etérea e a alma corpórea e, através delas, alteram o equilíbrio entre os órgãos internos e a harmonia do Qi e do sangue. É por esta razão que o estresse emocional é uma causa importante de doença, pois prejudica os órgãos internos diretamente. Por exemplo, se o Yin do fígado for deficiente, talvez por fatores alimentares e causar ascensão do Yang do fígado, pode fazer com que o indivíduo se torne irritável o tempo todo. Mas, quando o indivíduo sente-se constantemente irritado mediante uma determinada situação, ou em relação a uma pessoa em especial, este estado emocional pode fazer com que o Yang do fígado suba.

"O medo, ansiedade e melancolia do coração prejudicam a mente, a preocupação do baço, ou do pâncreas, prejudicam a inteligência, a tristeza e o trauma do fígado prejudicam a alma etérea, a alegria excessiva do pulmão prejudica a alma corpórea, a raiva dos rins prejudica a força de vontade." Isto ilustra com clareza a reciprocidade entre as emoções e os órgãos internos.




(texto publicado na revista Fitoterapia & Saúde nº 1 - ano 1)

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