sábado, 13 de setembro de 2014

Remédio sem mordida


A evolução da medicina veterinária caminha a passos largos. Cada vez mais os tratamentos alopáticos estão prolongando a vida dos companheiros de quatro patas.

Se para alguns (afortunados) donos de animais de estimação bastam um sorriso e um biscoitinho para levar o bicho a tomar o remédio, para a maioria é prciso muita paciência para fazer com que o gato ou o cachorro engulam um comprimido amargo - e sem morder ou arranhar a mão que o administra. Esse é um problema crítico quando o bicho é portador de alguma doença crônica, como um problema renal ou cardíaco, que exige medicação uma, duas ou até três vezes por dia. O velho truque de camuflar o comprimido no alimento predileto em geral tem efeito temporário, pois não demora muito para que o animal descubra o amargor intruso e passe a rejeitar a tal guloseima. Neste Guia, VEJA enumerou dica de veterinários para ajudar na medicação de bichos teimosos.

Camuflado em alimentos

Ainda é o expediente mais simples e costumeiro, embora o animal possa rejeitá-lo depois de um tempo. Prefira patês e sachês feitos para animais. "Além de mascararem o sabor amargo do remédio, esses alimentos têm uma consistência que umedece e amolece o comprimido, facilitando a ingestão", explica Mário Marcondes, diretor clínico do Hospital Veterinário Sena Madureira. Por se tratar de alimentos próprios para bichos (ao contrário de frios gordurosos, carnes temperadas e outras iguarias que podem fazer mal se ingeridos com frequência), são recomendados principalmente para portadores de doenças crônicas, como problemas renais ou cardíacos. "Para o bicho não perder o interesse pelo patê, alimente-o com ração seca no dia a dia e reserve o patê ou sachê apenas para o momento da medicação", ensina Giselle Torrado, do hospital de medicina veterinária diagnóstica Provet, em São Paulo. Para os gatos não diabéticos, um ou outro comprimido pode ser lambuzado em leite condensado e "colado" ao céu da boca ou misturado a uma colher de sopa de iogurte ou requeijão - evite o leite, que pode provocar diarreia.

Medicamentos manipulados

Há duas formas de criar petiscos atraentes com efeito alopático. Na primeira, basta levar a receita médica à farmácia de manipulação e escolher o formato, tamanho e sabor do biscoito (picanha, bacon, frango). Assim, o princípio ativo do medicamento é incorporado à receita do petisco. A segunda maneira é levar o próprio medicamento adquirido na farmácia convencional para que ele seja remanipulado em formato de biscoitinho com sabor. "É possível criar biscoitos com fórmula inócua enriquecidos com vitaminas e minerais, de acordo com as necessidades do animal", explica a farmacêutica Sandra Schuster, sócia-diretora da DrogaVET. Em alguns casos, quando o veterinário prescreve remédios em cápsulas, a manipulação pode dividir uma cápsula grande em duas ou três menores. Independentemente do método, é importante não interromper o tratamento que garanta a saúde e o bem-estar do animal.

Acessórios de aplicação

Aplicar remédios líquidos com a seringa sem agulha na parte interna da bochecha é a solução mais rápida e prática (misturar o xarope ou antibiótico à água do pote não engana o paladar dos bichos). Para os cães agressivos, as focinheiras de metal, com abertura nas laterais, são obrigatórias. Os gatos, em geral mais assustados, exigem paciência extra. "Nada de despejar o líquido de uma só vez; dê o remédio gota a gota, sem pressa", ensina o veterinário Eduardo Schmidt, do Hospital Veterinário Rebouças. Em último caso, enrole o animal em uma toalha para não sair todo arranhado do processo. Há versões de seringas próprias para administração de comprimidos, drágeas e cápsulas. Ao depositar o medicamento na parte posterior da língua do animal, o próprio aplicador provoca o movimento involuntário de deglutição. Também ajuda se o dono massagear a região da garganta com o focinho do bicho voltado para cima.

Remédios palatáveis

Alguns laboratórios produzem versões em pasta, gel ou comprimido de medicamentos com sabor atraente para o animal. Para os gatos, que passam boa parte do dia se lambendo, um artifício para medicá-los sem trauma consiste em passar o gel ou a pasta na patinha e deixar que o remédio seja ingerido enquanto ele se banha. O problema é que, assim como para os  humanos, o que é ou não saboroso é uma questão subjetiva também para seu bichinho - portanto, não estranhe se o cachorro se recusar a morder o comprimido palatável ou se o gato preferir abrir mão da higiene e acabar sujando todos os móveis com a tal pasta ou gel. Nesse caso específico, os veterinários recomendam lambuzar o céu da boca do bicho com a quantidade prescrita do medicamento.

A hora certa

Além de contarem com acessórios e comida para mascarar o sabor do remédio, proprietários de cães e gatos em tratamento podem se beneficiar do comportamento animal. A seguir, dicas dos especialistas para quem precisa administrar remédios diariamente.

Aproveite a fome

O primeiro ou o único comprimido do dia deve ser administrado logo cedo, antes da primeira refeição, ou misturado a ela. "Em jejum, o animal fica mais ansioso pela comida e aceita o remédio mais facilmente", ensina Giselle Torrado, do hospital de medicina veterinária diagnóstica Provet.

Evite surpresas

Siga o mesmo ritual todos os dias. "Os animais são extremamente metódicos e adoram regularidade de horário e comportamento", diz o veterinário Eduardo Schmidt, do Hospital Veterinário Rebouças, em São Paulo.

Minimize o sofrimento

O ideal é que o animal não fique angustiado, à espera do que será o pior momento do dia. "Para que o processo seja menos traumático, ele deve ganhar um prêmio logo depois, como o petisco preferido ou o passeio", diz a veterinária Carla Berl, proprietária do hospital Pet Care. O agradinho pode facilitar os processos seguintes. "Em uma semana, o animal começa a associar o remédio à recompensa e aceita melhor o medicamento", explica Mário Marcondes, do Hospital Veterinário Sena Madureira.

Carteirinha canina

Muitas clínicas e hospitais veterinários possuem planos próprios de fidelidade para seus pacientes. Em alguns casos, o proprietário paga uma mensalidade para usufruir os serviços de cuidados preventivos, como vacinação e exames, oferecidos exclusivamente por aquele estabelecimento - o Pet Care, em São Paulo, entra nessa categoria. Em outros, como o Hospital Veterinário Sena Madureira, também na capital paulista, a cada real gasto com consulta, exame diagnóstico ou cirurgia o cliente ganha pontos que garantem desconto em procedimentos futuros. Para quem prefere ter à disposição um leque maior de veterinários e estabelecimentos, há três produtos disponíveis no mercado.

Seguro-saúde

Funciona como o modelo de seguro-saúde para pessoas - o cliente pode optar por um veterinário, laboratório ou hospital da rede referenciada ou pelo sistema de livre escolha, contando com reembolso dos gastos. Tem cobertura para consultas de emergência e com especialistas, exames laboratoriais e de imagem, vacinas, internações, cirurgias, tratamentos em domicílio, terapias como acupuntura e fisioterapia, além de cremação ou sepultamento, em caso de morte. Os planos mais completos podem custar entre 100 e 200 reais por mês.

Plano de saúde

Permite o acesso apenas a clínicas e laboratórios pertencentes a uma rede credenciada regional, geralmente de uma única cidade. Não oferece opção de escolha de profissionais e, portanto, não tem sistema de reembolso. A quantidade de consultas e exames disponíveis por ano é limitada.

Assistência à saúde

Empresas de assistência à saúde entraram recentemente no mercado de animais de estimação. Assim como o plano de saúde, a assistência conta apenas com rede credenciada - sem opção de reembolso - e oferece coberturas limitadas, tanto em termos de valores como em quantidade de procedimentos. Em contrapartida à limitação de serviços, a assistência saúde é barata: há produtos a partir de 15 reais mensais.




(texto publicado na revista Veja edição 2380 - ano 47 - nº 27 - 2 de julho de 2014)


















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