sábado, 20 de dezembro de 2014

6 maneiras de ser mais resiliente - Isabella D'Ercole


Preciosas lições para aumentar sua capacidade de se levantar e sacudir a poeira

Quando praticava mergulho no Caribe com o marido, a americana Michelle Glenn foi atacada por um tubarão, que mordeu seu braço e arrancou parte dele. Sozinha, ela nadou de volta ao barco, enquanto seu sangue manchava a água. A viagem até Miami, onde receberia anestesia, durou sete horas. A bordo, no desespero, ela repetia um mantra: "a dor é minha amiga". Afinal, se doía, era porque estava viva. O braço foi reconstruído com pele tirada de outras partes do corpo, mas perdeu os movimentos. Pouco tempo depois do acidente, Michelle se obrigou a retomar o trabalho como técnica em radiologia, o convívio com os amigos e a rotina. Mesmo sem vontade, abria um sorriso pela manhã, tentando se fixar na gratidão por estar viva. Hoje, passados dez anos, ela voltou a mergulhar e também anda a cavalo. Diz que se sente a mesma Michelle de sempre. Essa história está em Surviving Survival: the Art and Science of Resilience (Sobrevivendo à sobrevivência: a arte e ciência da resiliência), do jornalista Laurence Gonzales, livro recém-lançado nos Estados Unidos. Na física, resiliência é a capacidade de certos corpos de retornar à forma original após sofrer tensão e se deformar. Por empréstimo, é o nome que se dá à nossa capacidade de superar traumas e dores e resgatar o prazer pela vida. Quanto maior, mais chances teremos de não nos abater com os solavancos e os tombos. O livro de Gonzales mostra como pessoas comuns enfrentaram diferentes tragédias, como um divórcio indesejado, a morte de uma pessoa querida, uma demissão inesperada ou o diagnóstico de uma doença grave. Todas tiveram de passar por um processo de autoconhecimento, que lhes deu uma energia desconhecida para seguir. "Cada ser humano precisa encontrar seu meio de lidar com a derrota e a perda, que são inevitáveis", afirma o psicanalista Jacob Pinheiro Goldberg, autor de O Direito no Divã (Saraiva). A seguir, lições para ajudar você a se tornar mais resiliente - e mais forte- quando a vida exigir.

1) Não banque a Pollyana

Não adianta enxergar apenas o lado bom de tudo. "Não podemos valorizar somente o sucesso. O fracasso também nos fortalece", afirma Goldberg. Admitir o problema é o primeiro passo para vencê-lo. "Ter uma visão muito positiva de uma situação ruim pode nos levar a diminuir o tamanho real do trauma", alerta a psicóloga Maria Helena Franco, professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e especialista em luto. Corre-se o risco de não solucioná-lo, e apenas varrê-lo para debaixo do tapete. Segundo a especialista, é muito difícil que grandes questões se resolvam sozinhas, com o passar do tempo, sem nenhuma ação nossa.

2) Agite o seu cérebro

Encontrar os amigos, conversar, ir a festas e até cumprir as tarefas rotineiras são ações necessárias nos períodos de crise. Quando estamos tristes, ficamos com medo de não ser aceitas ou compreendidas por todos. Mas é preciso se esforçar: "Sem interesse pelo outro, perdemos o apreço pela vida", diz Goldberg. É por meio do contato com as pessoas que obtemos informações novas e fazemos os pensamentos circularem em nossa cabeça. Viagens surtem o mesmo efeito, pois também nos levam a relativizar nossas verdades absolutas e nos ajudam a ver a vida por outros ângulos.

3) Crie seus rituais

Por piores que sejam, os momentos difíceis passam. Pode ajudar repetir para si, todos os dias, que a dor e a angústia irão embora e darão lugar à paz e à tranquilidade. Outra dica é tentar sorrir, mesmo sem vontade, como agia Michelle, a vítima do tubarão. Estudos mostram que aquilo que levamos nosso corpo a fazer influencia o cérebro. Mas é preciso também se permitir "curtir" a dor, fazer o luto. Em caso de morte, por exemplo, vale estabelecer a r otina de visitar o túmulo algumas vezes por ano - e viver intensamente a tristeza nesses momentos. Melhor ter um ritual para isso do que deixar a dor invadir todas as esferas da vida.

4) Adicione arte à sua rotina

"A arte é uma forma de sublimar a dor", afirma Goldberg. Reconhecer em livros, filmes ou até em quadros situações semelhantes àquela que está sendo vivida é reconfortante e ajuda a encontrar saídas. De qualquer forma, é enriquecedor ingressar em experiências novas e cheias de sentimentos. Vale ler de tudo - de romances e poemas a autoajuda -, ouvir música, ver filmes, visitar exposições e museus. A criatividade, ainda que a dos outros, estará lá, e ela é sempre uma aliada.

5) Trace metas

Olhar para a frente é essencial. Jacob Goldberg afirma que já atendeu um paciente que havia cometido um ato terrível e com graves consequências. "Ele achava que não merecia mais viver pelo que tinha feito. Sugeri, então que estabelecesse um pacto com o futuro. Com isso, sua presença na Terra se justificaria a partir dali", relembra o psicanalista. "Hoje, ele tem quatro filhos e está recuperado." Fazer uma promessa íntima, fixando algum objetivo claro para si, pode ser o estímulo que faltava para seguir adiante.

6) Acredite na generosidade

Uma das histórias extremas e inspiradoras contadas no livro americano é a de Lisette Johnson. Seu marido se suicidou com um tiro depois de ter tentado matá-la. Ela buscou terapia. No consultório, conheceu duas meninas cujo pai tinha matado quase toda a família. Elas eram as únicas sobreviventes. Lisette adotou as crianças, que deram um novo sentido à sua existência. Ao se doar para melhorar a vida dos outros, é comum que a pessoa acabe melhorando a própria.



(texto publicado na revista Claudia - novembro de 2012)








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