domingo, 7 de dezembro de 2014

Energia que vem das algas - Ana Carolina Nunes


Usadas na fachada de um edifício na Alemanha, elas se mostraram eficazes para gerar eletricidade e reciclar o ar. Agora, pesquisadores buscam a viabilidade econômica

As algas não cansam de colaborar com a preservação do planeta. Primeiro, como as principais responsáveis por purificar o ar que respiramos. Seu processo de fotossíntese é até dez vezes mais eficaz que o de outras plantas. Mas esse trabalho de faxina tem sido pouco para elas. Cada vez mais, as algas vêm sendo usadas na geração de energia. O sucesso tem sido tão grande, que hoje elas ocupam um lugar no pódio das fontes com mais chances de se tornar o petróleo verde. O exemplo mais recente vem de um prédio residencial inaugurado em Hamburgo, na Alemanha.



Com 15 unidades de 50 m²  a 120 m², o edifício BIQ é totalmente abastecido pela energia que vem das algas. Cultivadas entre as placas de vidro da fachada, elas captam tanto o calor solar como o gás carbônico da atmosfera. Em troca, devolvem uma biomassa que é transformada em biogás, distribuído na forma de energia elétrica ou de calor. Além de purificar o ar e acender lâmpadas, as algas funcionam como uma persiana natural, que bloqueia a luz do sol e resfria o espaço interno nos dias mais quentes. A energia gerada é tamanha que o prédio não precisa de nenhuma outra fonte. Pelo contrário, o que sobra é vendido para fornecedores da rede elétrica da cidade.

O projeto alemão é mais um sinal de um futuro em que essas plantas estarão fornecendo boa parte da energia consumida no planeta. Razões para isso não faltam. Quando cultivadas, as algas chegam a dobrar de quantidade em poucas horas e podem ser colhidas diariamente. Suportam vários climas e métodos de produção. E, mais importante, rendem muito mais ocupando espaços bem menores. Em um metro quadrado, é possível obter de 1,75 a 4,75 litros de biocombustível a partir dessas plantas. Na mesma área, um usineiro de cana produz em média 0,8 litro de etanol.




Com esse desempenho invejável, as algas acabam motivando pesquisas no mundo todo. Projeto muito parecido com o do edifício BIQ vem sendo desenvolvido pelo Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Energia Autossustentável (NPdeas) da Universidade Federal do Paraná. O plano é cultivar as plantas para que elas forneçam biocombustível suficiente para abastecer um prédio com seis apartamentos.

Inspirados pelas algas, os cientistas da Universidade de Tecnologia de Chalmers, na Suécia, deram um passo decisivo para reproduzir artificialmente a mais invejável habilidade vegetal: a fotossíntese. Para se aproximar do que faz a natureza, a equipe do professor Bo Albinsson usou a nanotecnologia para criar uma célula que imita o papel da clorofila nas plantas. Ou seja, captura a luz solar de forma que possa ser  transformada em energia. "Nós criamos parte de um milagre", comemora. Natural ou artificial, a energia que deriva das algas tem tudo para ocupar cada vez mais fachadas de prédios no futuro. Serão projetos que nascem verdes desde a planta.

Petróleo verde

Como a fachada do prédio alemão transforma algas em energia

As algas da fachada captam tanto o calor do sol como o CO do ar e liberam uma biomassa (extrato de organismos vivos de alta densidade energética)

Em uma estação, esse extrato é transformado em biogás (80% gás metano), que fica armazenado

O biogás é convertido em energia elétrica ou em calor para aquecedores de ambiente e de água

As microalgas só precisam do sol para crescer, mas, como também captam o CO da atmosfera para a fotossíntese, são eficientes em períodos de pouca incidência solar

O edifício gera mais energia do que precisa. O excedente pode ser armazenado ou distribuído na rede pública

Além da produção de energia, a fachada de algas funciona como uma "persiana" e como climatizador que ameniza o calor



(texto publicado na revista IstoÉ nº 2276 - 3 de julho de 2013)








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