Ter um idoso doente na família é uma situação que frequentemente suscita a dúvida: é melhor mantê-lo em casa ou levá-lo para uma instituição?
"É muito triste ver a saúde de alguém que você ama tanto ficando cada vez mais frágil", conta a aposentada Nora Dalva, de 64 anos. Há 10 anos, ela assiste ao processo de envelhecimento dos pais com grande pesar. Moisé Isaac Dalva, de 95 anos, e Henriette Bega Dalva, de 85, ainda são bastante lúcidos, porém, têm limitações físicas que obrigam a filha a estar sempre atenta a todos os passos dos dois, literalmente. "Desde que decidi morar com eles, me dedico praticamente 100% aos cuidados de que eles necessitam. Preciso ajudar no banho, na hora da alimentação, trocar as fraldas. É muita responsabilidade", diz.
O caso de Nora, longe de ser uma exceção, é cada vez mais comum em nosso País e é um reflexo do aumento significativo da longevidade, proporcionada pelos avanços da medicina. Atualmente, a população idosa já soma 21 milhões de pessoas no Brasil. O fator complicador é que, em grande parte das vezes, o avanço dos anos é acompanhado pela perda gradativa da saúde física e mental.
Nessa situação, um impasse é imposto aos familiares, que precisam buscar meios de responder às novas necessidades do idoso, de acordo com as suas condições. Em geral, manter o vovô ou a vovó em casa é quase sempre a melhor saída. "A Polícia Nacional do Idoso preconiza o atendimento dos mais velhos em suas próprias residências, em detrimento á institucionalização. Portanto, se o idoso é lúcido e seu desejo é permanecer no lar, sua vontade deve ser respeitada, na medida do possível", diz a professora de Enfermagem da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Aparecida Yoshie Yoshitome, membro da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia.
A priori, o convívio com os parentes e a permanência em um ambiente que lhe é familiar é um bom recurso terapêutico. No entanto, ao tomar essa decisão, é imprescindível que filhos e netos criem uma rede interna de cooperação, para que vovô ou vovó sejam atendidos de forma digna. "Ainda que uma pessoa da família se disponha a ficar responsável pelos cuidados com aquele idoso, o ideal é que ela possa contar com o apoio de outros familiares, pois se trata de um trabalho exaustivo e desgastante", alerta a assistente social Sandra Rabello, especializada em Psicogeriatria pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), professora de projetos de extensão da Universidade e secretária-geral do Conselho Estadual de Defesa da Pessoa Idosa do Rio de Janeiro.
Ajuda especializada
Na impossibilidade de se encontrar entre os parentes a ajuda necessária, há, ainda, a alternativa de contar com profissionais treinados para o atendimento a idosos. Essa foi a escolha feita pela designer de joias Denise Cavalli Giraldez, de 47 anos. Ela mora com a mãe, Joana Cavalli Giraldez, de 77, e contratou duas técnicas em enfermagem para ajudar nos cuidados diários. As profissionais se revezam em turnos de 24 horas. "Optei por trabalhar em casa, como autônoma, quando percebi que a minha mãe começava a apresentar os primeiros sinais de uma síndrome demencial que ainda não foi diagnosticada. Ainda assim, percebi que ela precisava do acompanhamento de alguém da área da saúde, que ficasse com ela o dia todo, dedicando-se a atendê-la e a lhe fazer companhia. Então, fui atrás de empresas especializadas e encontrei, na internet, uma que oferecia cuidadores com conhecimento no tratamento de doenças como o Alzheimer", conta. A técnica em enfermagem Márcia Aparecida Santana, de 47 anos, é um dos braços direitos de Denise. "Ajudo D. Joana a fazer sua higiene pessoal, auxílio no momento das refeições, verifico a pressão e ainda proponho atividades de entretenimento, como um filme", diz.
Por outro lado, contar com um profissional treinado, dia e noite, infelizmente não é uma opção para grande parte das famílias brasileiras, já que o custo do serviço ainda é alto. Então, quando não é possível lançar mão de ajuda externa e tampouco há na família um membro disposto a tornar-se um cuidador informal, a única saída parece ser a internação em uma instituição de longa permanência.
Fora de casa
Para a dona de casa Lívia Maria da Silva Pinto, de 60 anos, recorrer a uma casa especializada no atendimento a idosos foi a solução possível para garantir que a mãe, Olga Maria Vasconcellos, de 89 anos, recebesse todos os cuidados que sua saúde exige. "Foi uma decisão muito dura, porque eu e minha mãe sempre fomos muito unidas. O problema é que ela começou a demonstrar várias mudanças de comportamento, por conta de uma demência senil. Com a progressão da doença, passou a precisar de ajuda para t udo: na higiene pessoal, no momento da alimentação, na locomoção. Eu, com um comprometimento sério em quatro vértebras da coluna, também já não dava conta de assisti-la. Então, comecei uma peregrinação, até encontrar um local adequado para deixá-la", lembra. Há dez meses, Livia e Olga vivem em casas separadas. Mas continuam bastante próximas. "Eu e minha irmã nos revezamos nas visitas, cada uma vai três vezes por semana à instituição onde a minha mãe vive, de modo que ela recebe parentes quase todos os dias", conta.
A escolha do cuidador
Encontrar a solução ideal para o impasse, portanto, dependerá de uma análise criteriosa das consequências que cada opção terá na dinâmica familiar. Em muitos casos, mesmo quando há um parente disposto a assumir os cuidados com o idoso, é preciso refletir sobre as condições que essa pessoa terá de lidar com tantas responsabilidades. "É fundamental que o cuidador conheça a doença do idoso que está acompanhando. Isso facilitará o entendimento de determinadas reações e, em certa medida, possibilitará prevê-las, para responder a elas da melhor forma possível", explica Sandra Rabello.
Além de colher dados sobre o problema de saúde do idoso, em todas as fontes disponíveis, o cuidador pode participar de palestras e cursos de formação. No mais, é imprescindível que o cuidador tenha tempo para descansar e continuar mantendo algumas atividades de lazer e sociabilidade.
Em casa, com um cuidador familiar
Prós: o idoso terá contato direto com a família. O ambiente familiar, evidentemente, lhe parecerá mais seguro e amigável.
Contras: para corresponder às necessidades do idoso, toda a dinâmica familiar precisará ser adaptada, já que, mesmo havendo um parente responsável, todos deverão colaborar nos cuidados do dia a dia.
Em uma instituição de longa permanência
Prós: dependendo da aceitação do idoso e de sua adaptação ao local, ele poderá mostrar-se até mais ativo do que no ambiente familiar. Os serviços oferecidos na instituição e os recursos humanos disponíveis no local farão toda a diferença.
Contras: o idoso deixa de participar assiduamente das atividades da família e fica afastado do ambiente e dos objetos aos quais se apegou durante a vida. Boas clínicas, em geral, cobram mensalidades polpudas e destinam um valor limitado de vagas a idosos dependentes.
Em casa, com um cuidador profissional
Prós: o contato com a família continua garantido. Além disso, se o profissional tiver ao menos uma formação técnica em enfermagem, poderá zelar também pela saúde do idoso, além de garantir seus cuidados básicos. Ele não faz as vezes de um médico, mas é capaz de analisar as reações do paciente, no dia a dia, indicando quando é o momento de solicitar a ajuda do profissional.
Contras: a contratação do cuidador formal exigirá um investimento significativo. Além disso, a rotina da família também sofrerá uma grande mudança, já que haverá um estranho circulando pela casa.
Quando a única saída é internar o paciente
Nos casos em que a opção viável é procurar uma instituição de longa permanência, o ideal é que toda a família se dedique a encontrar o local adequado. Muito além de seguir determinados padrões de higiene, é importante observar:
- Alvará de funcionamento da Vigilância Sanitária e registro no Conselho Estadual do Idoso.
- Um responsável técnico que tenha conhecimento de questões gerontológicas e que esteja atualizado na temática.
- Equipe de enfermagem 24 horas.
- Um médico de referência, um hospital de referência e um procedimento padrão em caso de emergência.
- Prontuários individuais para cada interno, com registros médicos e planos de cuidados que poderão ser consultados pelos parentes.
- Ambiente agradável e desenvolvido de acordo com certos cuidados que visam a segurança dos internos, tais como boa iluminação, piso antiderrapante e corrimão nos corredores.
- Visitas em horários estendidos.
- Quartos de dormir arejados, com pelo menos uma janela, e que deem para o corredor.
- Refeições balanceadas.
- Sala de atividades e programação fixa, com opções recreativas e de entretenimento.
(texto publicado na revista VivaSaúde nº 86)
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