Pessoas com mobilidade reduzida podem contar, agora, com a companhia de cães que ajudam em várias tarefas e facilitam o cotidiano
O sonho de unir o conhecimento em adestramento de cachorros à vontade de ajudar a sociedade, em especial pessoas com deficiência, foi o que motivou um grupo de amigos a criar o projeto Cão Inclusão. A importância desses animais está cada vez mais acentuada e estudos comprovam que eles podem, realmente, transformar vidas, com seu carinho, espírito de equipe e, principalmente, com seu amor. O benefício que trazem é inestimável. Por tudo isso, quatro profissionais da área se juntaram para desenvolver treinamento especial com os cachorros, trazendo o desejo de ajudar as PcDs, com foco específico, no caso, nos cadeirantes.
A utilização desses animais no auxílio às pessoas com deficiência visual é bem conhecida. No entanto, há outras categorias de cães de assistência, que se enquadram de acordo com a deficiência da pessoa. "Podemos dividir os cães de assistência em, basicamente, três grupos: cão guia, para pessoas com deficiência visual; cães ouvintes, para quem tem deficiência auditiva; e os cães de serviço, que trabalham com outras limitações, como autistas, diabéticos e pessoas com problemas de mobilidade, que é o nosso caso. Esses últimos são chamados cães de serviço para cadeirantes", explica Marina White, especialista em marketing e na captação de recursos da Cão Inclusão.
Ao lado de Leonardo Ogata, adestrador e cofundador da empresa, Sara Favinha, também adestradora e cofundadora, e de Victoria Pryor, adestradora e médica veterinária, Marina é responsável por esse novo trabalho. "Nosso público é composto por todas as pessoas que amam cães e que admiram o trabalho incrível que eles podem desenvolver, auxiliando a pessoa no dia a dia. Por enquanto, atuamos apenas em São Paulo. Contudo, temos uma mente um projeto de expansão, mas não para este ano."
Perfil
O cão para cadeirantes, além de ser um excelente companheiro, ajuda no dia a dia da pessoa, abrindo e fechando portas, gavetas e armários, buscando um cobertor ou algum outro item, acendendo e apagando luzes, pegando objetos que caiam no chão, atividades que, muitas vezes, acabam se tornando tarefas difíceis para um cadeirante. Eles também alertam uma pessoa próxima em caso de emergências ou acidentes com o cadeirante, trazendo essa pessoa até o local onde o cadeirante se encontra.
"OS cães de serviço são muito conhecidos na Europa e nos Estados Unidos. Lá, eles são, frequentemente, prescritos por médicos, quando necessário. A escolha da dupla é feita a partir do temperamento e da personalidade do cão. Realizamos uma avaliação das características do animal e, então, por meio do perfil dele, selecionamos a pessoa com deficiência que melhor se enquadra. O processo é feito dessa forma para minimizar a incompatibilidade da dupla. Não é qualquer cachorro que combina com qualquer pessoa. Por exemplo, cães com um nível de energia mais elevado se adaptam melhor a pessoas que possuem um vida mais agitada", revela Marina.
A Cão Inclusão, hoje, conta com um animal, que será entregue este ano, e outro sendo preparado. "O treinamento dura, em média, dois anos e consiste em algumas etapas. Inicialmente, realizamos a seleção genética do animal e, assim que ele nasce, enquanto está com a mãe, realizamos testes de temperamento nos filhotes para selecionar o que melhor se enquadra à função de um cão de assistência. A segunda etapa é a da família socializadora, na qual voluntários são selecionados para cuidar do filhote no primeiro ano de vida dele, ensinando comandos básicos de obediência e socializando-o com pessoas e outras cães, recebendo aulas particulares e participando das aulas em grupo. A terceira etapa consiste no treinamento específico, no qual o animal retorna para a Cão Inclusão, onde são iniciados os treinos destinados ao auxílio que ele dará ao cadeirante. Essa fase dura em torno de oitos meses. Assim que o cão esteja pronto, selecionamos a pessoa com deficiência que melhor se enquadra àquele cachorro e, então, começamos a quarta etapa, que trata da formação da dupla, com treinos diários. Quando a pessoa e o cão estiverem se relacionando bem, realizamos o 'desmame' do treinador, que vai, gradativamente, de desvinculando do animal. A quinta fase consiste no acompanhamento trimestral da dupla, até a aposentadoria do cão, que trabalha, em média, nove anos e se aposenta por volta dos 11 anos de idade. Caso a pessoa com deficiência não possa ficar com ele, nós, da Cão Inclusão, ficamos responsáveis por proporcionar uma qualidade de vida muito boa para o cachorro em sua aposentadoria, atendendo a todas as suas necessidades".
Requisitos
Os critérios de seleção para participar do projeto são baseados no perfil da pessoa, bem como em todo o contexto, como a família, o lar, se os interessados possuem cães sociáveis na casa, entre outras características. "Por outro lado, existem muitos fatores que devem ser avaliados para que o animal se torne um cão de serviço. Essas questões abrangem inúmeros aspectos, como a seleção genética do filhote, a fim de evitarmos temperamentos indesejáveis ou futuros problemas de saúde, personalidade, temperamento e aptidão. Esse cão deve ser muito sociável e, por isso, trabalhamos, especificamente, com golden retriever e labrador retriever, que são mais sociáveis. Entretanto, não precisa ser, necessariamente, dessas raças. Precisa ter um comportamento tranquilo, que não apresente agressividade no relacionamento com outros cães ou pessoas e que desenvolva, pelo menos, três tarefas que auxiliem a PcD no seu dia a dia." Marina aproveita para explicar o que é uma família socializadora e sua importância para o sucesso do processo: "É ela que vai ensinar os comandos básicos de obediência como 'senta, fica, deita', andar na guia corretamente e será responsável pela boa socialização do animal em relação a outros cães e pessoas, fazendo com que o cão não se incomode com ruídos, como os que são produzidos por motos, ônibus, skates e, também, com objetos caseiros, como aspirador, vassoura etc. O cão de serviço não pode apresentar medo ou receio de nada e a família socializadora é responsável por trabalhar isso no animal e deixá-lo muito bem comportado e sociável, tendo aulas particulares de adestramento, uma vez por semana, e participando de aulas em grupo, também uma vez por semana. Apenas um cão bem socializado pode se tornar um cão de serviço".
Custo
Por ser um trabalho extremamente especializado e que requer uma preparação bem específica em todas as fases do projeto, os custos acabam sendo elevados. "O treinamento de um cão de serviço custa, em média, R$ 90 mil. Nós trabalhamos com um formato diferenciado de patrocínio, no qual as empresas interessadas não precisam financiar o treinamento todo, podem patrocinar mensalmente o cão e terão sua marca exposta no colete do animal, que passeia diariamente e frequenta diversos lugares, como shoppings, parques, praças, ruas e eventos. A logomarca da empresa patrocinadora terá destaque em nosso site e em nossa página do facebook, que vem crescendo significativamente desde nossa inauguração, e também realizamos post semanal sobre a empresa e seu apoio. Hoje, nossos cães são patrocinados pela Tudo de Cão, empresa franqueadora de adestramento, e contamos com a parceria da UHELP, instituição não governamental que capta recursos para ajudar pessoas com deficiência, na qual estamos participando para prospecção de recursos para o treinamento final do Toddy", acrescenta Marina.
(texto publicado na revista Sentidos nº 85 - ano 14)
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