segunda-feira, 2 de março de 2015

Própolis funciona... E como! - Regina Célia Pereira (Planeta Sustentável)

Pesquisadores confirmam o poder antimicrobiano e antioxidante dos exemplares cultivados no Brasil. Ensinamos a tirar proveito desse reforço à imunidade

Se você pesquisar a origem da palavra própolis, vai descobrir que o nome foi criado pelos gregos e significa em defesa (pro) da cidade (polis). Certamente os antigos passaram um bom tempo observando as colmeias e notaram que o composto é fabricado pelas abelhas com o propósito de blindar a casa delas. "Ele promove o isolamento do ambiente, impede a entrada de luz e de umidade, além de resguardar o local de intrusos", explica o farmacêutico Pedro Luiz Rosalen, professor da Universidade Estadual de Campinas, a Unicamp. E essa mesma proteção diante de inimigos microscópicos se dá no corpo humano quando utilizamos o preparo resinoso. Não param de sair estudos apontando sua eficácia contra vírus, bactérias e fungos. Daí o sucesso nas temporadas mais frias do ano, quando gripes e resfriados insistem em nos atacar.

Uma das novas pesquisas que confirmam esse papel foi realizada por Rosalen juntamente com estudiosos da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da Universidade de São Paulo, em Piracicaba, no interior paulista. O time de cientistas avaliou as capacidades antimicrobianas e antioxidantes de amostras da própolis orgânica brasileira. "Elas foram coletadas em regiões certificadas, matas de preservação permanente, florestas de araucárias e áreas de reflorestamento no sul do Paraná e norte de Santa Catarina", conta o engenheiro agrônomo Severino Matias de Alencar, professor da Esalq.

As análises em laboratório revelaram que, além de combater o excedente de radicais livres, já associado ao envelhecimento precoce e a danos celulares, a própolis se mostrou bastante eficaz frente aos micróbios. "Seus compostos interferem na membrana celular das bactérias", exemplifica Alencar. Tal efeito desestabiliza esses seres microscópicos de tal maneira que eles acabam mais facilmente exterminados no pedaço.

Embora essa atuação seja reconhecida há milhares de anos - os egípcios já utilizavam a resina para evitar a deterioração das múmias - os novíssimos testes ajudam a entender como e até que ponto ela funciona. E fica clara a vantagem de ser orgânica, isto é, livre de pesticidas e contaminantes. Ainda que boa parte desse tipo seja exportado, dá para encontrá-lo, sim, por aqui, especialmente na Região Sul, uma grande produtora. O segredo é prestar atenção nos rótulos e conferir se há certificação de que o produto é, de fato, orgânico.

O que torna a resina fabricada pelas abelhas tão poderosa é uma verdadeira miscelânea de substâncias. Mas, em meio a essa vastidão bioquímica, um grupo se destaca nas pesquisas: os compostos fenólicos. Dentro dessa classe, os queridinhos são os flavonoides e os ácidos cumárico, cafeico e gálico. Nomes estranhos que, no corpo, estão por trás das aclamadas propriedades antioxidantes e antimicrobianas. A médica Norma Leite, da Associação Brasileira de Nutrologia, chama a atenção para outro ingrediente da família, a galangina. "É que ela tem ação anti-inflamatória", aponta.

Esse efeito, junto à sua vocação analgésica (sim, é efeito que não acaba mais...), responde pela popularidade da própolis contra as dores de garganta. "As versões em spray formam uma película no local e aliviam o incômodo", justifica a nutróloga. Sem contar que, geralmente as infecções nas vias aéreas superiores, caso da amidalite, são provocadas por bactérias gram-positivas. "E experimentos demonstram que a própolis tem uma atividade antibacteriana mais pronunciada em micro-organismos desse tipo", conta Norma. "Ela inclusive amplificaria a resposta dos antibióticos", acrescenta.

Até as bactérias da boca saem perdendo com o produto das abelhas. "Os compostos fenólicos contribuem para a integridade do esmalte dentário e ajudam a prevenir cáries e a doença periodontal", afirma Rosalen, que se dedica a pesquisas nessa área. Não à toa, já existem empresas incluindo o ingrediente na receita de seus cremes dentais.

Modo de usar

Pelos dados disponíveis até agora, a própolis parece ter tanto potencial terapêutico como preventivo. Mas isso não significa usar o extrato, a forma mais consumida por aqui, como se fosse água. "Ingerir 15 gotas em jejum já seria suficiente para fortalecer o sistema imune", sugere Norma. Já o imunologista José Maurício Sforcin, professor da Universidade Estadual Paulista, em Botucatu, no interior de São Paulo, recomenda recorrer ao produto por um curto prazo, pois o uso contínuo e exagerado faz com que o organismo fique tolerante às substâncias e elas deixem de agir direito.













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