Assim o diretor Mel Brooks se despediu do parceiro de clássicos da comédia
Gene Wilder morreu no domingo (28) à noite na cidade de Stanford, em Connecticut, informou um sobrinho do ator à agência AP nesta segunda, 29. Gene Wilder! Imediatamente, o grande Mel Brooks repercutiu no Twitter: "foi um dos verdadeiros grandes talentos do nosso tempo. Abençoo cada filme que fizemos juntos com sua mágica e me abençoou com sua amizade". Gene Wilder sofria de Alzheimer. Tinha 83 anos. Sua parceria com Mel Brooks produziu clássicos da comédia - Primavera para Hitler, Banzé no Oeste, O Jovem Frankenstein.
Primavera é de 1968 e ganhou o Oscar de roteiro, mas foi considerado 'ultrajante'. Onde se viu, uma comédia sobre Adolf Hitler? Com o tempo, virou cult e até originou um musical da Broadway, vertido para o cinema, mas na época meio que emperrou a carreira de Mel Brooks como ator, diretor e roteirista. Só em 1974, com suas paródias de western e filme de terror, ele estourou nas bilheterias. Com ele estourou Gene Wilder, pseudônimo de Jerome Silberman, que nasceu numa família judaica de Milwaukee, em 1933.
O jovem Gene - nem tão jovem assim, aos 34 anos - teve seu primeiro grande papel no cinema num clássico de Arthur Penn, Bonnie & Clyde - Uma Rajada de Balas. O que fazia um comediante naquela tragédia americana? Gene fazia o carona no carro dos fugitivos Bonnie Parker e Clyde Barrow. Ao descobrir quem era a dupla, ele engasgava e Penn introduzia uma pausa cômica na violência (dramática e crescente) do filme. Entre Bonnie & Clyde e o estouro de Mel Brooks, Gene Wilder foi Willy Wonka na primeira (e cultuada) versão de A Fantástica Fábrica de Chocolate, que Mel Stuart adaptou de Roald Dahl (e Tim Burton refilmou com Johnny Depp), e protagonizou um dos episódios mais - qual seria o adjetivo? Devastadores? - de Tudo o Que Você Sempre Quis Saber sobre Sexo, de Woody Allen. Era o homem que destruía sua vida ao se apaixonar pela ovelha.
Gene Wilder, segundo a vertente de seu mestre Brooks, tornou-se diretor em 1979 com uma paródia de gênero - O Irmão Mais Esperto de Sherlock Holmes. No mesmo ano fez, como ator, com Harrison Ford, um ótimo western cômico de Robert Aldrich, O Rabino e o Pistoleiro. Em 1984, e baseado na comédia francesa Un Elephant Ça Trompe Enormément, dirigiu e interpretou A Dama de Vermelho, que fez grande sucesso (e ganhou o Oscar de canção para I Just Called To Say I Love You, na voz de Steve Wonder). Por falar no prêmio da Academia, foi duas vezes indicado para o Oscar - melhor coadjuvante, por Primavera para Hitler; melhor roteiro (com Mel Brooks) por O Jovem Frankenstein. Em 1988, ganhou o Globo de Ouro de coadjuvante em melhor série de comédia ou musical, Will & Grace.
A Dama de Vermelho é sobre um marido que pira ao ver na rua o vento levantar a saia de uma mulher, deixando a mostra sua calcinha. A cena com Elizabeth Norment reproduzi a imagem emblemática de Marilyn Monroe em O Pecado Mora ao Lado, de outro Wilder, o Billy. Gene fazia o marido. Na ficção e na realidade, era casado com Gilda Radner. Ela teve câncer de ovário. Morreu revoltada, odiando o marido e o mundo, em 1989. Gene Wilder escreveu sua autobiografia - Never Kiss a Stranger, Nunca Beije um Estranho, que é como Gilda o fazia se sentir, em seu leito de morte. Foi um trauma para ele. Anos mais tarde, escreveu outro livro, muito elogiado - The Woman Who Couldn't. Impossível dar conta de Gene Wilder sem falar de outra parceria - com o ator Richard Pryor. Fizeram O Expresso de Chicago, Loucos de Dar Nó e Cegos, Surdos e Loucos. O primeiro e o terceiro, coincidentemente, dirigidos por Arthur Hiller, que morreu no dia 17 de agosto.
Clássicos
O Jovem Frankenstein
Momento supremo do humor gestual de Gene Wilder, em comédia dirigida por Mel Brooks, em 1974. Ele vive Victor Frankonsteen, neto do famoso cientista, que faz reviver os mortos. No elenco, outros notáveis como Martin Feldman e Madeline Kahn.
A fantástica fábrica de chocolate
Wilder foi o primeiro Willy Wonka, nessa versão de 1971, dirigida por Mel Stuart. Com ele, a excentricidade do milionário era mais convincente.
A dama de vermelho
Grande sucesso como ator e diretor, em 1985. Gene faz o marido fiel que sai de casa atraído por mulher que viu na rua, quando o vento deixou a calcinha à mostra. A cena inspira-se em Marilyn Monroe e O Pecado Mora ao Lado.
(texto publicado no jornal O Estado de S. Paulo de 30 de agosto de 2016)
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