Uma das vistas icônicas da capital, cenário de incontáveis fotos panorâmicas com arranha-céus ao fundo, a Praça do Pôr do Sol, no Alto de Pinheiros, sofre com o vandalismo e o abandono há alguns anos. Em agosto de 2015, em uma tentativa para reverter esse quadro, a prefeitura transformou a área de 28 000 metros quadrados em parque municipal. De acordo com o decreto, seriam instalados equipamentos e mobiliário comuns a espaços desse tipo, como banheiros, bebedouros e bancos. O plano também previa a criação de regras de uso e a definição do horário de funcionamento. De lá para cá, no entanto, as promessas não saíram do papel, e a degradação só se acelerou. Além de muretas em pedaços e jardins sem grama, há um playground com os balanços quebrados. "Deixei de levar meus filhos para lá porque os brinquedos são perigosos", diz a empresária Priscilla Sena, que mora no bairro há três anos.
O estado dos equipamentos está longe de ser o único problema. Por causa de festas que chegam a reunir 3 000 pessoas por madrugada nos fins de semana, o ponto se tornou um antro de sujeira, com montanhas de garrafas de vinho, caixas de pizza, restos de alimento e copos plásticos por todos os lados. Se não bastassem os "pancadões" e o som alto até altas horas, existem relatos de consumo e tráfico de drogas, presença de ambulantes irregulares e fogueiras alimentadas por galhos de árvore. "O lugar virou uma bagunça", lamenta a presidente da Associação dos Amigos de Alto dos Pinheiros, Maria Helena Bueno.
Para os vizinhos mais próximos da praça, ao barulho junta-se a depredação das residências. Pela manhã, é comum encontrar muros pichados e exalando forte cheiro de urina. A convivência com cenas de sexo explícito à frente de seus portões também se tornou banal. "Outro dia minha mulher acordou cedo para levar nossa filha de 13 anos a uma prova de natação e as duas depararam com um casal transando sobre o capô de um carro", conta o advogado Fábio Costa Couto. "Também encontrei preservativos usados dentro da caixa de correio", completa. Ele passou a deixar um balde cheio de cimento na entrada de sua garagem para evitar que estacionem por ali.
A Polícia Militar afirma que realiza rondas diárias e aponta queda de 44% no índice de crimes na região no primeiro semestre deste ano em comparação ao mesmo período de 2015, depois que efetuou a prisão em flagrante de dez pessoas por porte de drogas. As principais reivindicações dos moradores são o fechamento da praça com grade para controle de acesso e a contratação de seguranças. "Já fui a causa de 100 reuniões na prefeitura para discutir essas questões, mas nada aconteceu", afirma José Ricardo Rezende, diretor da Associação dos Vizinhos da Praça do Pô do Sol, criada há quatro anos para lutar pela revitalização do lugar.
Por meio de nota, a Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente informa que trabalha em um "projeto de readequação" do espaço, mas não explica o motivo de nada ter sido feito até agora. Em reuniões com moradores da região, representantes da pasta costumam dizer que não há dinheiro para a reforma. A única medida que deve ser implantada até o fim do ano é a eleição de um conselho gestor para gerir o espaço, com a participação dos vizinhos. A respeito da sujeira acumulada, a administração municipal se comprometeu a realizar uma vistoria nos próximos dias.
(texto publicado na revista Veja São Paulo de 31 de agosto de 2016)
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