segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Mente feliz, vida saudável - Letícia Ronche


A saúde depende de fatores comportamentais, por isso é preciso fazer escolhas. Uma delas é ser positivo diante do futuro, diz Eugenio Mussak

Uma das citações de Hipócrates diz que onde a arte da medicina for apreciada, lá também serão apreciadas as pessoas. Talvez aqui esteja a explicação para o fato de Eugenio Mussak declarar que gosta de gente. Médico de formação, sua carreira se fundamenta num tipo de cuidado que não se dá em um consultório ou hospital. É no mundo corporativo que ele indica um tratamento capaz de inspirar gestores e líderes: a educação. O conhecimento é o instrumento que ele usa para entusiasmar esses profissionais ao desenvolvimento de suas potencialidades. "Encaro uma empresa como um organismo vivo e não como uma máquina", explica Mussak.

Ser professor foi a saída para se sustentar durante a faculdade. "Eu gostava e até hoje me realizo dando aula", revela. Vinte anos depois de finalizar o curso, Mussak exerceu a medicina por cerca de cinco anos. Foi aí que se apoderou da real vocação associando educação e performance humana para aplicá-las dentro das organizações. Veja a seguir a entrevista que Mussak concedeu à VivaSaúde.

Como o senhor define a saúde?

No meu tempo de fisiologista, fiz um curso na Clínica Cooper, do Dr. Kennedy Cooper. Ele diz que há um estado chamado saúde e um estado chamado doença e, entre eles, existe um intervalo. Pode ser que você não tenha uma doença, mas isso não significa que você tenha saúde. É preciso dar o seu máximo para se aproximar do extremo da saúde. Alcançá-la depende de sete fatores que são absolutamente comportamentais. São eles: exercício físico, alimentação, qualidade do sono, capacidade de administrar o estresse, autoestima, relações humanas e visão positiva do futuro. Se for possível dar atenção a isso, você adoecerá menos.

De que forma a mente ajuda?

Uma mente saudável é importante porque trabalhamos e vivemos nos relacionando. Você se relaciona com outras pessoas, mas também se relaciona consigo mesmo e com os fatos da vida. É claro que uma mente saudável, capaz de fazer interpretações adequadas dos fatos e criar soluções lógicas, é extremamente importante, até porque isso provoca mais satisfação e segurança ao indivíduo.

Então, dá para a ser zen em uma crise?

Passamos por uma crise importante no Brasil e isso traz para todos uma grande incerteza, o que é angustiante. O mais antigo e poderoso sentimento humano é o medo do desconhecido. Você não sabe o que vai acontecer e isso gera ansiedade e apreensão. Nesse caso, tudo começa com uma atitude. 

Imagine um futuro positivo e, por meio desse pensamento, organize-se para atingi-lo. Isso nos leva a uma postura mais positiva e a um maior equilíbrio.

Isso também gera estresse...

Na realidade, o estresse não deriva do tamanho da dificuldade que você está enfrentando. Ele decorre da desproporção entre o tamanho da dificuldade e o tamanho da capacidade para enfrentá-la. Temos que dar as devidas proporções para os problemas e investir na capacidade de enfrentá-los. E isso se faz, basicamente, com análise, gestão, planejamento e preparo.

É possível se tornar otimista?

Até certo ponto esta é uma característica individual. Há pessoas que são otimistas por natureza e outras são mais pessimistas. Eu prefiro lidar com essa questão em um nível cognitivo e intelectual. Penso que você tem que ser otimista, mas deve buscar motivos para isso. Se procurar, sempre vai encontrá-los. Mas se você for um otimista gratuito, ou seja, não sabe explicar o porquê, o seu otimismo é volátil. Essa forma de pensar deve ser construída na sua cabeça de uma forma lógica e intelectual.

Como manter-se focado nisso?

Uma coisa que é essencial é a pessoa se aceitar. Aceitar como ela é e não tentar ser o outro. Acho que isso diminui a ansiedade. Além disso, não devemos ceder aos estereótipos mas criar nossos próprios conceitos. O conceito de sucesso hoje, por exemplo, é muito utilitarista e se volta para os bens materiais e a posição social. Mas isso é apenas uma visão de sucesso. Cada um pode ter seu próprio conceito do que é se realizar na vida. Se vivermos pela métrica do outro, nunca seremos felizes.

Ter esperanças faz bem à saúde?

Eu penso que as pessoas não devem parar de sonhar. Enquanto as pessoas têm planos, coisas para realizar e acreditam no futuro, elas se sustentam, se suportam, passam por cima das adversidades. Elas possuem um objetivo maior lá na frente. É um fato que todos nós morreremos. Eu vou ficar velho um dia. Eu não sou ainda, não me sino nem me considero velho, mas vou ficar. Então, quando isso acontecer, eu já defini qual é o tipo de velho que que quero ser. Escolhi cinco pilares para essa fase de minha vida: saúde, paz, boas lembranças, curiosidade intelectual e conservar uma visão positiva do futuro. Alguns podem dizer que velhos não têm futuro. Mas eles têm, e por vários motivos. O primeiro deles é que não importa o tamanho do futuro, ele sempre existe. Podem ser dois ou vinte anos, mas posso desejar que eles sejam bons. Acredito que não morremos verdadeiramente quando morremos. Alguma coisa fica. O nosso legado, por exemplo, o que construímos por meio do nosso trabalho, nossas ideias, os filhos que geramos. Então, essa questão de estarmos conectados com o futuro faz com que não morramos mesmo tendo morrido.



(texto publicado na revista VivaSaúde edição 156)

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