Centro de treinamento e pesquisa em SP prepara potenciais medalhistas olímpicos
Corredores ajustam suas próteses ao lado da pista de atletismo. Deficientes visuais já correm com seus guias. Na grama, gigantes do rúgbi treinam jogadas após levantarem (muito) peso na área de musculação. Lá de dentro, ouve-se os gritos dos lutadores de taekwondo a cada golpe aplicado.
Essa é a rotina no NAR (Núcleo de Alto Rendimento Esportivo) na reta final da preparação dos atletas para os Jogos Olímpicos do Rio. Nos últimos quatro anos, o centro de treinamento e pesquisa em São Paulo esteve sempre cheio.
Enquanto atletas correm, lutam e suam, pesquisadores colhem dados para desenvolver técnicas e métodos que podem fazer a diferença na disputa pelas medalhas.
A delegação do Brasil na Olimpíada ainda não está fechada, mas já é possível dizer que cerca de um terço dos atletas que estarão em ação na competição carioca passaram em algum momento pelo NAR neste ciclo olímpico (2013-2016).
Entre eles, estão candidatos ao pódio no Rio, como os membros das equipes de judô, vôlei, boxe e handebol e a saltadora Fabiana Murer, entre outros. E também estreantes, como o time de rúgbi.
"Nossa parceria já dura três anos. Foi um diferencial muito grande na preparação para a Olimpíada pela estrutura de ponta e pela metodologia de treinamento", afirma José Eduardo Moraes, preparador físico da seleção de rúgbi sevens.
"Conseguimos individualizar os trabalhos para cada atleta, definir a carga ideal para cada um, e isso foi essencial."
O NAR atende cerca de 70 modalidades, entre atletas de ponta e iniciantes.
Já havia auxiliado boa parte dos esportistas que foram aos Jogos de Londres-2012. O destaque neste ciclo foi o crescimento de jovens promessas.
Vitor Hugo dos Santos, 20, único velocista do país a se classificar para os 100 m rasos, é um exemplo. Atleta da BM&F, ele também conta com a ajuda dos testes do NAR em sua preparação.
O núcleo existe desde 2011. Ele tem como seu principal objetivo auxiliar treinadores e desenvolver o conhecimento científico sobre o esporte. No ano passado, mudou-se para uma sede de 20 mil metros quadrados na zona sul de São Paulo, com pista de atletismo oficial, campo de grama, raias de corrida indoor, centro de musculação, octógono de MMA, além de refeitório, espaço para lazer e descanso.
O NAR é mantido pelo Instituto Península, braço de investimentos sociais da família do empresário Abílio Diniz (ex-Pão de Açúcar), e oferece também cursos para pesquisadores e técnicos.
"Com a nova sede, deixamos de ser apenas um centro de formação de treinadores e viramos um centro de treinamento mesmo", diz Irineu Loturco, doutor em treinamento esportivo e diretor técnico do NAR.
Algumas equipes usam as instalações não só para testes como também para todas as fases do treinamento. É o caso do atletismo paraolímpico.
A delegação brasileira na Paralimpíada do Rio, aliás, deve ter 71% dos atletas com passagem pelo centro, em 11 modalidades. No último ciclo olímpico, 80% das medalhas conquistadas pelo Brasil em eventos internacionais foram obtidas por esportistas que foram testados ou treinaram no local.
"Essa parceria, que começou em 2011, foi fundamental. O CPB [Comitê Paralímpico Brasileiro] sempre fez testes nos atletas, mas tínhamos mais o lado fisiológico. Com a equipe do Irineu, complementamos com testes de força, potência, a parte neuromotora. Publicamos vários artigos científicos baseados nesses testes", diz Ciro Winckler, coordenador técnico do atletismo do CPB.
Ele destaca um estudo feito com Alan Fonteles, brasileiro que corre com duas próteses nas pernas e campeão dos 200 m da categoria T44 nos Jogos de Londres-2012.
"Percebemos que, com a prótese, o atleta paraolímpico perde muito mais tempo no contato da lâmina com o chão do que o atleta convencional. O Alan perdia quase um segundo numa prova de 100 m, o que é muita coisa. Trocamos a lâmina dele por uma menos flexível para diminuir essa perda."
Uma mudança nos parâmetros de treino da equipe de atletismo para o Parapan de Toronto, em 2015, com base em estudos do NAR, ajudou os brasileiros a ganharem 80 medalhas, 20 a mais do que quatro anos antes. O trabalho foi publicado na prestigiada revista "Frontiers in Physiology".
E se depender do trabalho do núcleo, as conquistas devem continuar em longo prazo. O NAR presta consultoria para todas as equipes de atletismo da Prefeitura de São Paulo e tem trabalhos com a base do rúgbi, do futebol e do taekwondo.
"São mais de 150 crianças beneficiadas por esse trabalho voltado para o alto rendimento. E vamos expandir no ano que vem", diz Irineu Loturco.
(texto publicado na revista da Folha sãopaulo - 17 a 23 de julho de 2016)
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