segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Por que sentimos medo? - Olga Tessari


O medo faz parte da vida, é um mecanismo de autopreservação que funciona como um sinal, uma espécie de alerta para nos proteger dos perigos ou da possibilidade de um sofrimento.

Sentir medo é bom! Se não sentíssemos medo de nada, já teríamos morrido há muito tempo porque faríamos tudo o que tivéssemos vontade de fazer, sem pensarmos nas consequências e/ou prejuízos dos nossos atos.

Há 2 categorias de medo: os reais e os imaginários. O medo real nos previne do perigo ou do sofrimento real, podendo ser considerado uma qualidade de quem pensa antes de agir: é o medo que nos protege da vontade de nos jogarmos da janela só para sentirmos a sensação de voar ou que nos leva a sairmos de casa sem objetos de valor por temermos um assalto. Diante do medo real, tomamos atitudes que servem como proteção contra o perigo ou sofrimento, e agimos no sentido de realizarmos o que desejamos, tomando as precauções necessárias para evitarmos o sofrimento.

O medo irracional, ao contrário, leva a pessoa a se deixar paralisar pelo medo que ela sente, e deixar de viver a sua vida ou parar de seguir a sua rotina: no caso do medo de ser assaltada, o medo irracional leva a pessoa a permanecer dentro de sua casa, com medo de sair dela, acreditando piamente que bastaria ela colocar o pé para fora de casa que fatalmente seria assaltada! Quando uma pessoa é dominada pelo medo imaginário, ela acredita que, se fizer o que deseja, certamente vai sofrer e conclui, portanto, que o melhor é não fazer absolutamente nada, é melhor ficar paralisada porque, dessa forma, não sofrerá! Quando a pessoa é dominada por seus medos (sejam reais ou imaginários), ela crê que não vai conseguir fazer o que deseja ou que, se o fizer, o resultado não será o esperado, justamente porque, por ser refém dos seus pensamentos negativos, ela sempre imagina que o pior vai acontecer! Pensando dessa maneira, ela nem tenta fazer nada e permanece estática, na mesmice de sempre, o que diminui o seu conceito sobre si mesma e, consequentemente, sua autoestima.

Os medos reais mais comuns dos adultos em geral são: medo de perder o emprego, de perder entes queridos, de assalto, da impotência sexual (nos homens), de não ser atraente (nas mulheres), de envelhecer e também de ficar dependente de outras pessoas. Os medos irracionais ou imaginários mais comuns (fobias) são: medo de estar no meio da multidão, pavor de lugares fechados, medo de ser criticado, humilhado, medo de dirigir, de falar em público, de animais, agulhas, etc.

Pessoas que sofrem com seus medos podem apresentar sintomas físicos. Os mais comuns são: taquicardia, tremores, suores, falta de ar, voz trêmula, sensação de desmaio, diarreia, náuseas e um alto nível de tensão. Os sintomas emocionais mais comuns são insegurança, pensamentos negativos, considerar-se inferior aos outros o que pode levar à dependência de outras pessoas. Vale dizer que, quando a pessoa paralisa a sua vida ou deixa de fazer muitas coisas por conta dos seus medos, isso também pode provocar estresse, pânico, depressão e doenças psicossomáticas.

As experiências vividas ao longo da vida, principalmente na infância, vão determinar a construção da personalidade da pessoa, a forma como ela encara seus medos e como vai lidar com eles. Pessoas ansiosas ou tímidas, com baixa autoestima, que tem medo de errar, que se preocupam com o comentário das outras pessoas, desenvolvem mais medos e apresentam um nível de tensão mais elevado do que o comum.

Muitas pessoas tentam acabar com seus medos de forma equivocada, o que pode gerar muitos outros medos e mais sofrimento. Além disso, elas costumam buscar "fórmulas mágicas' ou conselhos de amigos que, embora tenham boa vontade, nem sempre é o melhor caminho. Se você tem um medo e se sente paralisado de alguma forma por ele, é preciso buscar a ajuda profissional de um psicólogo para que você supere o seu medo de forma positiva e sem outros prejuízos para si mesmo.

Sofremos muito mais por conta dos nossos medos imaginários do que por causa dos medos reais. Com calma e refletindo bem, podemos usar o medo a nosso favor para nos protegermos de um eventual perigo ou sofrimento.



(texto publicado na revista Atual edição 173 - ano 16 - setembro de 2016)

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