sábado, 1 de agosto de 2015

Os aliados contra o câncer de mama - Mônica Tarantino


Estudo internacional mostra que métodos como ioga e acupuntura são eficientes contra a doença. Saiba em que caso eles podem ser mais úteis

Oito em cada dez mulheres com câncer de mama se valem de técnicas como a acupuntura, a ioga e a meditação para aliviar os efeitos colaterais das medicações, da radioterapia e da quimioterapia. Em muitos casos, porém, a utilização desses métodos acontece de forma aleatória, sem bases mais consistentes sobre sua real eficácia. Agora, a entidade Sociedade para a Oncologia Integrativa lançou um conjunto de orientações sobre o que realmente funciona. O guia foi publicado pela revista "Journal of the National Cancer Institute Monographs". "O objetivo é proporcionar aos pacientes e seus prestadores de serviços um resumo das provas sobre essas terapias para quem tomem decisões informadas", disse à Istoé a epidemiologista Heather Greenlee, da Universidade de Colúmbia (EUA), responsável pelo trabalho.

Para chegar às evidências, os especialistas executaram a maior revisão de estudos científicos já feita sobre o tema. Primeiramente, selecionaram 4,9 mil pesquisas que versavam sobre cerca de 80 terapias. Após uma triagem para avaliar a qualidade dos estudos,sobraram 203 pesquisas. O passo seguinte foi atribuir letras para indicar o grau de certeza oferecido pelos estudos quanto à eficácia das terapias. As que receberam classificação "A" são as que mostraram um alto nível de certeza de que o benefício à paciente é substancial. A partir da letra D, estão excluídas dos cardápios de opções. O gel de aloe vera, por exemplo, obteve grau D. Portanto, não é recomendado para tratar a irritação da pele causada pela radioterapia.

O médico Gilberto Lopes, criador do centro de oncologia do Hospital do Coração, em São Paulo, espera que as diretrizes ajudem a disseminar o conhecimento sobre esses recursos. "Os profissionais da saúde precisam ser formados para ampliar a utilização dessas práticas de modo correto", diz. Lopes costuma indicar alguns dos métodos complementares às suas pacientes. Se nos EUA ou no Canadá essas terapias estão inseridas em hospitais como o Memorial Sloan Kettereting Center ou o MD Anderson, o mesmo não ocorre no Brasil. "De modo geral, aqui elas estão disponíveis apenas em alguns centros de excelência", diz a psicóloga Luciana Holtz, presidente do Instituto Oncoguia. Outro empecilho é que os planos de saúde não pagam por esse tipo de serviço. "Mas, diante de evidências concretas de que funcionam, será necessário incluí-las nos procedimentos pagos", diz Luciana.

Em São Paulo, somente hospitais de primeira linha da rede privada, como o Sírio Libanês e o Albert Einstein, criaram serviços de medicina complementar. O Instituto do Câncer de São Paulo (Icesp), da rede pública, também tem uma área específica. "São terapias que não tratam o tumor, mas melhoram as condições emocionais e psicológicas da paciente", diz o oncologista Paulo Hoff, que está à frente do atendimento oncológico do Sírio Libanês e do Icesp. A psico-oncologista Regina Liberato provou a diferença que a medicina complementar pode fazer. Depois de tratar pacientes com tumor de mama, ela se descobriu portadora da doença. Incorporou no dia a dia com maior rigor a prática da ioga e da meditação. "Associar as terapias integrativas ao modelo tradicional do tratamento permite um olhar abrangente para um organismo que precisa ser atendido de muitas formas. Faz muito bem", diz.

Conheça a classificação de cada um

Serve para quê

Os cientistas atribuíram letras aos métodos de acordo com sua eficácia para cada situação. Confira o que cada uma das letras significa.

Padrão A

Método cujos estudos revelaram fortes evidências de benefícios. Deve ser indicado a todos.

Padrão B

Há certeza de benefícios moderados ou certeza moderada de benefícios médios a substanciais. O método deve ser recomendado a todos.

Padrão C

Indicação seletiva de acordo com a opinião do profissional ou preferências do paciente. Os dados mostram que benefícios gerais são pequenos, mas ajudam.

Padrão D

Neste caso, há evidências fortes ou moderadas de que a modalidade não oferece benefícios.

MEDITAÇÃO

Padrão A para tratar distúrbios de humor e sintomas depressivos de pacientes em radioterapia.

Melhorar a qualidade de vida de pacientes com câncer de mama.

Padrão B para reduzir a ansiedade e sintomas de depressão de pacientes em radioterapia.

MUSICOTERAPIA

Padrão B para reduzir a ansiedade e a depressão durante a radio e quimioterapia.

Padrão C para aliviar dores associadas à cirurgia.

IOGA

Padrão A para melhorar o humor e a fadiga de mulheres em radioterapia e/ou quimioterapia

Tratar a fadiga de pacientes submetidas ao tratamento padrão.

Padrão B para diminuir a ansiedade de pacientes em radio e/ou quimioterapia.

Padrão C para ajudar nas alterações do sono.

ACUPUNTURA

Padrão C para melhorar o humor em pacientes em menopausa que experimentaram fogachos e fadiga.

Amenizar a quantidade de fogachos. O mesmo vale para a eletroacupuntura.

Reduzir fadiga e cansaço após o tratamento.

Melhorar a qualidade de vida em geral.

Melhorar o bem-estar durante tratamentos breves com inibidores de aromatase. O mesmo vale para a eletgroacupuntura.

HIPNOSE

Padrão C para aliviar as dores associadas à cirurgia.

MASSAGEM

Padrão B para melhorar distúrbios de humor após o tratamento.

Padrão C para reduzir a ansiedade a curto prazo.

PROGRAMAS DE GERENCIAMENTO DE ESTRESSE

Padrão B para reduzir a ansiedade durante o tratamento. Programas em grupo e mais duradouros parecem ter melhor impacto do que programas individuais e autoministrados.

Padrão C para melhorar o humor.

Tratar alterações do sono.



(texto publicado na revista Istoé nº 2349 - ano 38 - 3 de dezembro de 2014)


















Nenhum comentário:

Postar um comentário