sábado, 1 de agosto de 2015

Quando a MPB nasceu - Elizabete Antunes (colaboração Ligia Andrade e Victor Corrêa)


Há 50 anos teve início a ERa dos Festivais, que permitiu que os grandes nomes da música brasileira se firmassem no cenário artístico do país

Antes de as novelas se tornarem as estrelas da TV brasileira, a música, com seus cantores e compositores, era a protagonista da programação televisiva e, há 50 anos, agitava multidões de fãs, que gritavam para seus ídolos e vaiavam seus concorrentes. Em abril de 1965, a TV Excelsior levou ao ar o I Festival de Música Popular Brasileira, realizado no Guarujá, em São Paulo, e que consagrou Elis Regina (1945-1982) não só como a Melhor Intérprete, mas também por defender a campeã, Arrastão, de Edu Lobo, 71, e Vinícius de Moraes (1913-1980). "Foi muito importante porque abriu a era dos festivais e lançou uma nova geração de compositores", conta o jornalista e produtor musical Nelson Motta, 70, que acompanhou aquele movimento de perto.

No ano seguinte, já consagrado pela audiência, o festival foi realizado pela TV Record e novos ídolos começaram a despontar no cenário musical, como Chico Buarque, 70, Nara Leão (1942-1989), Jair Rodrigues (1939-2014) e Geraldo Vandré, 79, firmando o conceito de música popular brasileira, ou  MPB. No III Festival de Música Popular Brasileira, em 1967, o movimento atingiu seu ápice. "Para mim, 1967 foi o ponto alto, porque marcou o lançamento do Tropicalismo, quando surgiram Gilberto Gil e Caetano Veloso. Foi a apoteose. Tinha o Edu Lobo (que venceu com Ponteio), o Gil com Domingo no Parque e Alegria, Alegria de Caetano, nossa, foi muito bom! E havia muita exacerbação política naquela época, a importância política transcendia a da música. Os festivais tornaram-se porta-voz daquele momento político pelo qual o Brasil estava passando", avalia Nelson Motta, que participou da competição com O Cantador, em parceria com Dori Caymmi, 71, e que fez Elis levar novamente o prêmio de Melhor Intérprete.

O Festival de Música Popular Brasileira na Record durou até 1969, já sem muito espaço para a manifestação política por causa do endurecimento do governo militar. A Globo encampou o formato a partir de 1967, promovendo o II Festival Internacional da Canção (o I FIC foi realizado pela TV Rio no ano anterior) e depois fez o Abertura (1975) e o MPB nos anos 1980. A Tupi fez uma edição do Festival da MPB em 1979. "Aquilo já passou, foi um formato de entretenimento que ficou vencido, até porque hoje há uma diversidade infinitivamente maior de gêneros. Acho que atualmente é impossível escolher uma coisa melhor do que a outra. E o grande atrativo desses programas, desde a Era do Rádio, é que o público tem a oportunidade de chorar, xingar, de se identificar com o cantor. É uma catarse. A diferença dos programas atuais, como The Voice, é que raramente os cantores se tornam populares. Eles ganham e fica por isso mesmo", conclui Nelson Motta.




(texto publicado na revista Contigo edição 2063 - 2 de abril de 2015)



Arrastão - Elis Regina



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