sábado, 3 de setembro de 2016

Elke Maravilha: Personalidade emblemática, foi a drag queen de si mesma - Tony Goes


É impossível classificar Elke Maravilha. Ela foi uma das modelos brasileiras de maior destaque na virada dos anos 1960 para os 70 - mas não é por isso que será lembrada. Também era excelente atriz, mas fez relativamente poucos papéis "de cara lavada", longe do personagem que criou para si própria.

Talvez seja esta sua melhor definição: um personagem. Uma autêntica drag queen, com o pequeno detalhe de ter nascido mulher.

Elke passou a se montar quando foi convidada para os júris que pululavam nos programas de auditório da TV. Linda, espontânea e divertida, destacou-se usando perucas gigantescas , maquiagem carregadíssima e uma profusão de acessórios. Virou uma celebridade reconhecível à distância. Marcou época nas bancadas de Chacrinha (a quem chamava de "painho") e Silvio Santos.

Era uma anarquista, na política e na vida pessoal. Teve oito maridos, passou por três abortos, envolveu-se com drogas e álcool. Mas sua persona pública permaneceu liberada para menores: costumava saudar o público com "alô, criançada!".

Nos últimos anos, tornou-se mais rara na TV. Vivia com o irmão e um dos ex-maridos, de quem tinha ficado muito amiga. Fazia shows esporádicos, mas não estava esquecida: um de seus últimos trabalhos foi um comercial para a Avon. Afinal, maquiagem era com ela mesma.

Nise da Silveira, a psicanalista que criou o Museu de Imagens do Inconsciente, dizia que Elke era uma sacerdotisa dionisíaca. Também era bruxa, fada, palhaça, travesti - e uma das figuras mais emblemáticas do nosso showbiz.



(texto publicado no jornal Folha de S. Paulo de 17 de agosto de 2016)

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