segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Jaws - The inside story


The Making of Psycho


Insuficiência Cardíaca - saiba tudo sobre a doença


Entrevista com Marcos Rossi (Programa Consciência Próspera)







Marcos Rossi - História de superação que inspira e emociona as pessoas








O Brasil na visão dos americanos


Os obstáculos ao crescimento - Prof. Hélio Couto


Autossabotagem e somatização - Prof. Hélio Couto


Mediunidade e mecânica quântica - Prof. Hélio Couto


Magia e prosperidade - Prof. Hélio Couto


Prosperidade 1 - Prof. Hélio Couto


Prosperidade 3: Vendas - Prof. Hélio Couto


domingo, 29 de setembro de 2013

Don Matteo - In attesa di giudizio


In viaggio sul Po con Paolo Rumiz - Il risveglio del fiume segreto


Magnifica Italia - Calabria


Magnifica Italia - Sicilia


Magnifica Italia - Puglia: Parte 1, Gargano


L'Italia vista dal cielo - Sardegna


L'Italia vista dal cielo - Umbria


L'Italia vista dal cielo - Toscana


L'Italia vista dal cielo - Lazio


L'Italia vista dal cielo - Lombardia


Gilda (1946) - legendado


Quem tem um amigo tem um tesouro (1981) - dublado


Fanny e Alexander - Ingmar Bergman (legendado)


Novecento - di Bernardo Bertolucci (1976) - legendado





Una jornada particular (Una giornata particolare) de Ettore Scola (1977)


Dá um tempo - Thays Sant'Ana


Se você também não aguenta mais o ritmo frenético do mundo e sente que não tem tempo para nada, saiba que não é a única. Entenda o que está havendo conosco e comece a mudar agora mesmo.

Calma... Não vai dar mesmo para cumprir hoje a enorme e velha lista de pendências. E... ainda que o tempo parasse até você colocar tudo em ordem, acredite, isso lhe traria pouco alívio. No dia seguinte, sempre haverá uma lista ainda maior. De e-mails por responder. De ordens do chefe para ontem! De tecnologias que você já deveria ter dominado. De livros e filmes cujo lançamento perdeu. De lugares que ainda não visitou. De programas com as crianças, que estão crescendo rápido demais. De momentos com seu amor, que anda meio esquecido. De amigos que reclamam que você nunca liga. De coisas para organizar em casa. E, ainda por cima, de um tempo reservado só para você. A reclamação de que estamos sendo atropeladas pelo excesso de compromissos é geral, e a sensação de estarmos sempre em falta com alguém ou alguma coisa já virou rotina. Mas, afinal, o que está havendo com o tempo, que parece estar sempre apressado como o coelho branco da fábula Alice no País das Maravilhas?

Cena do coelho atrasado em "Alice no País das Maravilhas"


Conversamos com físicos, astrônomos e astrofísicos das mais renomadas universidades do país e eles foram unânimes em dizer que, ao contrário do que muita gente acredita, os ponteiros do relógio continuam se movendo no mesmo ritmo de sempre. Para eles, o grande culpado da história é o alucinado ritmo da vida moderna, que causa essa sensação. A psicóloga paulista Beth Furtado, especializada em administração de empresas e autora do livro Desejos Contemporâneos (Gouvêa de Souza), acrescenta: "Pode não haver, de fato, algo concreto, mas a sensação de que ele está voando não é ilusória. A realidade é feita a partir da vivência das pessoas e é isso o que conta".


Tempos modernos

O que está acontecendo afinal? As respostas são várias e apontam para as novas demandas da sociedade contemporânea. Uma delas diz respeito à política de redução de custos das empresas em todo o planeta e os constantes cortes no quadro de funcionários. Equipes reduzidas implicam uma quantidade cada vez maior de exigências. "Quanto mais coisas temos para fazer, menos vemos o tempo passar", diz a psicóloga. Some-se a isso um cenário de crise econômica associado à competição acirrada, fator que induz as pessoas a se submeterem a regras abusivas. "Vivemos em uma sociedade que nos trata com dureza e considera normal trabalharmos 15 horas por dia", comenta.

Beth Furtado ainda lembra que a entrada do sexo feminino no mercado de trabalho contribuiu para o aumento dessa sensação. "As mulheres são multi-tarefas. Para nós é natural fazer várias coisas ao mesmo tempo. Mas estamos sobrecarregadas, e, ainda que alguns homens dividam parte do trabalho conosco, existem responsabilidades que não delegamos a ninguém."


Mundo High Tech

Outro grande responsável por esse fenômeno é o alucinado avanço da tecnologia. "Por causa disso, na última década o número de ações aumentou consideravelmente e o ritmo das tarefas se acelerou muito", explica Beth Furtado. Trocando em miúdos, se antes levávamos praticamente uma semana, ou mais, entre elaborar um trabalho, enviá-lo por fax e obter uma resposta, hoje, o retorno, via e-mail, é quase instantâneo. Para piorar, em questão de minutos, uma nova demanda já ocupa nossa agenda. Isso sem falar que os celulares com acesso à internet não nos permitem mais desconectar, literalmente.

O físico Aba Cohen, da Universidade Federal de Minas Gerais, ainda observa que, com a evolução tecnológica, passamos a cometer a loucura de comparar a nossa velocidade como seres humanos com a velocidade das máquinas, o que gera a falsa sensação de que estamos lentos demais. Além disso, a obsessão pela pressa cria uma cobrança irreal até em relação ao desempenho das próprias máquinas. "Equipamentos de processamento de dados e de comunicação resolvem tudo 'à velocidade da luz' e, se ficam um pouquinho mais lentos, já temos vontade de quebrá-los! Isso traz um contraste muito grande e gera angústia", comenta o professor.


Um mundo de novidades

Basta chegar a uma grande livraria para que a ansiedade tome conta de nós. O volume de lançamentos de livros, revistas, CDs e DVDs é cada vez maior. O mesmo fenômeno acontece no mundo virtual, que rompe fronteiras graças às enormes facilidades proporcionadas por novos veículos de comunicação para a produção e a rápida disseminação de uma avalanche de conteúdo mundo afora. "A sociedade segmentada cria essa profusão de alternativas, mas ninguém é capaz de consumir tudo, e a sensação é de que nunca chegaremos lá", explica Beth.

As vitrines também são responsáveis por esse incômodo sentimento. As roupas de inverno começam a ser vendidas em fevereiro e, em meados de julho, a coleção de verão já está nas araras. "Isso não acontece apenas com a moda, estamos presenciando uma diminuição dos ciclos de ofertas dos produtos", diz Beth. De acordo com a psicóloga, essa é uma das razões do nosso senso cada vez maior de urgência. Para piorar, ele vem acompanhado da sensação de que tudo é muito efêmero e de que estamos perdendo pé para as novidades.

Para a psicoterapeuta Monika von Koss, que atua em seu Espaço Caldeirão, em São Paulo, quanto mais investimos em coisas que não alimentam nossa alma, mais teremos a impressão de que os dias passam com a mesma rapidez com que esses objetos de consumo saem de moda. "Se não investirmos em algo mais consistente e usarmos toda a energia com o que precisa ser renovado a cada momento, quando não tivermos algo novo, iremos nos deparar com sentimentos de isolamento, abandono e insignificância", diz a especialista. "É como se todo mundo estivesse fazendo ou consumindo alguma coisa maravilhosa e nós ficássemos excluídas."


Um basta

Ainda que boa parte das pessoas concorde que ninguém aguenta mais um ritmo tão frenético, não será nada fácil frear essa máquina que move o mundo. "Estamos viciados em adrenalina", avalia Beth. "Ninguém mais tira férias de 30 dias, ficamos organicamente condicionados a trabalhar feito loucos e a ter que fazer alguma coisa o tempo todo." Para piorar, muitas de nós acreditam que podem dar conta de tudo. "Por trás dessa postura, muitas vezes estão pessoas que se sentem diminuídas e têm medo de dizer que não dão conta", explica a psicanalista Ana Maria Lino Rocha, integrante da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo.

Pode ser ainda que esse jeito de viver a 200 por hora represente, na realidade, uma fuga. Você já pensou nisso? "Se me encho de coisas para fazer e adquirir, não penso, não questiono meu casamento, minhas relações, minha carreira e a vida que não tive. E vou 'empurrando com a barriga' as decisões que não quero tomar", diz Beth.


O primeiro passo

Seja qual for a razão para nos jogarmos na roda-viva, uma coisa é certa: o caminho da transformação passa obrigatoriamente pela tomada de consciência do que está acontecendo e do que precisa ser modificado. "Ela é o ponto de partida de qualquer processo verdadeiro de mudança", garante Beth. Segundo a especialista, precisamos encontrar uma ilha de serenidade na correria diária para fazer uma reflexão profunda sobre o que está havendo dentro de nós e traçar uma estratégia eficiente para sair do redemoinho. O monge zen-budista Ryozan, da Comunidade Zen do Brasil, em São Paulo, achou a saída na meditação. "A prática traz consciência sobre o que realmente importa na vida", conta. "Em vez de ficar ansioso porque acredito que não vou conseguir ler um livro de 5 mil páginas, e nunca partir para a ação de fato, eu começo lendo a primeira página." Ele diz que, com essa nova postura, cessam nossos comentários internos - de que não vai dar tempo ou não vamos conseguir - e ficamos mais inteiros na tarefa que estamos realizando naquele momento.

Mas nem tudo foi um mar de águas mansas na vida de Ryozan. Além de monge, ele é presidente de uma empresa prestadora de serviços de mecânica pesada. Em 1998, chegou a ficar afastado do trabalho durante um mês por causa de um diagnóstico de estresse. Desde então, percebeu que seu padrão estava completamente errado e começou a procurar soluções no cristianismo e, em seguida, no budismo. Hoje, ele diz que não se sente mais atropelado pelo tempo, sabe estabelecer prioridades e discernir entre uma atividade necessária e outra escravizante.

A dica de Monika von Koss é que "em vez de nos preocuparmos com o tempo perdido, melhor é aproveitar cada momento da vida, enquanto ela durar".



(texto publicado na revista Bons Fluídos nº 126 - setembro 2009)







Hora do Chai - Julia Mesquita


Popular na Índia, esse chá de sabor exótico - diferente de tudo que a gente conhece - vem conquistando cada vez mais adeptos por aqui.

Além de mística e colorida, a Índia é também um país de sabores e aromas marcantes. A culinária - considerada uma arte milenar - combina os alimentos com temperos de notas variadas (aromática, doce, amarga, picante), despertando o olfato e o paladar. As bebidas não fogem à regra, com destaque para o chai (pronuncia-se tchai) - um chá que leva no mínimo quatro especiarias diferentes. Bastante conhecido em todo o país, é muito apreciado pelo sabor e pelos efeitos terapêuticos. É digestivo, energético e antioxidante, ou seja, combate os radicais livres, responsáveis pelo envelhecimento precoce e pelo surgimento de doenças degenerativas.

Bem-vindo a qualquer hora do dia, esse chá indiano é consumido com a mesma frequência (ou mais) com que se toma cafezinho por aqui. Após uma refeição, costuma ser oferecido pelo anfitrião da casa como sinal de cordialidade ou como pretexto para mais alguns momentos de boa conversa. Também faz parte dos costumes e tradições servi-lo em restaurantes, lojas, nas estações de trem e até dentro dos vagões - situação retratada no filme Viagem a Darjeeling, do diretor americano Wes Anderson.

Mas foi a novel da Rede Globo Caminho das Índias que aguçou a curiosidade do brasileiro pela bebida. Algumas cafeterias e restaurantes aproveitaram o embalo para acrescentar a opção no cardápio. "Comecei a oferecer o chai em ocasiões especiais. Mas, como a procura aumentou, resolvi disponibilizá-lo diariamente", conta Manuela Mantegari Narvania, chef e proprietária do restaurante Curry Comida Indiana, em São Paulo. Preparado com especiarias "quentes", como cravo, canela, pimenta-preta, gengibre, cardamomo, cúrcuma e anis-estrelado, tem um sabor forte e levemente picante - diferente de tudo que a gente conhece. A mistura de temperos é também responsável por alguns dos seus efeitos terapêuticos. "A maior parte das especiarias tem substâncias termogênicas, capazes de aquecer o organismo e aumentar a disposição", explica Lucyanna Kalluf, nutricionista do Instituto Alpha de Saúde Integrada, em São Paulo.


O segredo da bebida

Na Índia, o assunto é levado tão a sério que existem profissionais especializados na preparação do chai, os chaiwallas. E cada um deles tem sua própria maneira de combinar as especiarias. Mas essa informação é guardada a sete chaves, pois está aí o segredo do sabor. As famílias também costumam fazer o mix de acordo com o paladar das pessoas da casa. Isso justifica o fato de encontrarmos receitas de chai tão diferentes entre si.

Dependendo da região da Índia, esses ingredientes são combinados ao chá preto, verde ou de jasmim. Nos restaurantes mais sofisticados, a opção é pelo Darjeeling. Cultivado no norte da Índia, é considerado o melhor chá preto do mundo - e o mais caro também. Isso porque a produção é reduzidíssima (3% de todo o chá plantado no país). Mas, segundo Manuela, vale o investimento: "O Darjeeling é o champanhe dos chás".

Eu me lembro de ter tomado esse chá quando trabalhava em um bar na Itália, mas na época infelizmente ainda não estava interessada como agora em assuntos de autoconhecimento


Cerimônia do chai

Para adoçar, existem duas opções: açúcar ou mel. O leite é o único ingrediente que não tem substituto - pelo menos na Índia. Acrescentado à receita por influência da colonização inglesa, suaviza o sabor picante e deixa o chá mais encorpado e nutritivo. O ideal é que seja adicionado à receita na mesma proporção da água usada para a infusão do chá. Porém, nem todos os indianos têm esse privilégio. "No sul do país, o chai leva bem menos leite - apenas um terço da quantidade adicionada no norte, onde a produção desse alimento é maior", explica o indiano Tattwa Ratnananda Saraswati, professor da Escola Tattwa Yoga, na Granja Viana, em São Paulo.

O método de preparo da bebida também varia conforme o gosto ou o costume local.  Alguns indianos combinam todos os ingredientes logo de início, esperam levantar fervura, coam em seguida e servem. Outros deixam a mistura no fogo por mais tempo, ou começam fervendo as folhas de chá e só adicionam as especiarias e o leite no final. Já os chaiwallas preferem acrescentar o leite frio (ou aquecido) ao chá pronto. Eles fazem isso a certa distância da xícara para formar uma leve espuma, transformando o momento num pequeno ritual.


A moda brasileira

Para agradar ao paladar do brasileiro, o chai é preparado por aqui com uma combinação menor de especiarias e dificilmente leva pimenta. Além disso, é sempre feito com o chá preto, que tem um sabor mais familiar e, ao contrário do chá verde ou de jasmim, resiste a altas temperaturas. "O chá preto pode ser fervido sem o risco de amargar a bebida', explica a nutricionista Joana Mura, de São Paulo. Mesmo com essas modificações, o chai continua sendo uma boa opção para quem quer sentir um pouquinho do gosto da Índia sem sair do país.


(texto publicado na revista Bons Fluídos nº 126 - setembro 2009)





Essa é a receita do chai que tomei na palestra do Leandro Heck Gemeo




















Lei da Atração: Crenças Que Limitam - Você pode curar sua vida com Louise L Hay (dublado)


Entrevista com Conrado Navarro: Dinheiro É Um Santo Remédio - Seiiti Arata


Españoles en el mundo - Kyoto


Españoles en el mundo - Tokio


Nick Vujicic Pilot Prank on American Airlines


Diário de vida: Dia 29 de setembro - Dia Mundial do Coração


No dia 1º de julho de 2011 a minha mãe se submeteu a uma cirurgia do coração. Um dia antes de meu aniversário, então será para sempre uma data marcante. Aliás, foi em um outro 1º de julho (de 1989) que começou a minha primeira viagem à Itália. Vamos dizer que nos dois eventos o coração desempenhou um papel muito importante: um do ponto de vista afetivo porque desde que comecei a estudar a língua italiana (em 1980) o meu amor por este idioma só aumenta. No segundo caso, além do fator afetivo, tratou-se do coração propriamente dito que foi salvo com uma safena e uma mamária. 

No dia 25 de março desse mesmo ano (uma outra data fácil de guardar) a minha mãe passou por um exame prolongado, mas até então não sabíamos que ela precisaria ser operada. A Cristal e eu tínhamos comprado a entrada para assistir ao show do Roupa Nova no Credicard Hall e eu achei que não conseguiria ir  Mas deu tudo certo e depois de um dia tenso deixei a minha mãe sã e salva em casa e fui curtir o meu sexteto favorito. Dançamos e cantamos durante todo o espetáculo. Apesar do horário em que o show terminou (1 da manhã), ainda dei uma passada na Banca Senzala e partilhei do frango a passarinho que o Marcos e o Deovane estavam jantando. 

Pelo dia de hoje ser o Dia Mundial do Coração, decidi prestar uma homenagem a minha mãe e também dar um alerta para que todos cuidem bem desse órgão tão importante e tão judiado na correria do dia a dia. 





Dia Mundial do Coração (STZ TV)


Eis alguns de meus pingentes de pedras em formato de coração. No centro um chaveiro que mandei gravar com o nome de minha mãe dias antes da cirurgia e que carrego sempre na carteira






Homenagem àqueles humanos que resgataram os cães de Santa Cruz do Arari (Pará)


Humanos sendo humanos


Messaggi Subliminali e i loro scopi


messaggi subliminali nei cartoni animati


I valori a cui crede Papa Francesco



sábado, 28 de setembro de 2013

O poder da autoestima - Beatriz Acampora


O modo como o indivíduo se compreende determina pensamentos, emoções e influencia diretamente a relação com a saúde, o trabalho, o convívio pessoal e seu posicionamento na vida

As relações interpessoais são fundamentais para a vida humana. Cada ser vivo no planeta, principalmente mamífero, necessita da troca afetiva possibilitada pelas relações com os outros. O modo como convivemos com as pessoas revela como aprendemos a lidar com nossas emoções, frustrações e como nos relacionamos primariamente conosco.

A maneira como nos posicionamos diante de nós mesmos na vida direciona como vamos lidar com as outras pessoas. Dessa maneira, é muito possível que uma pessoa com boa relação intrapessoal terá boas relações intrapessoais. Por isso, hoje em dia, valoriza-se tanto a inteligência emocional. Ela está diretamente ligada ao modo como a pessoa se posiciona na vida.

Diante de uma dificuldade, em geral, o primeiro pensamento está associado à crença básica de um indivíduo, a seu autoconceito. Se uma pessoa acredita que é capaz de superar um desafio, então diz para si mesma: "Vou conseguir". Caso contrário, afirma: "Isso é muito difícil!" ou "Não vai dar certo" ou, ainda, "Impossível".

A autoestima determina e direciona pensamentos, emoções e comportamentos. Começa a ser desenvolvida no nascimento, por meio da relação com os pais e com o mundo à volta da criança. O nível de autoestima que uma pessoa manifesta influencia tudo em sua vida. Em função disso, a saúde, o trabalho, as relações pessoais e comerciais são diretamente afetadas pelo nível de autoestima de cada um.

Nas relações íntimas a  autoestima direciona o tipo de relacionamento a ser conservado. Há pessoas que buscam manter padrões de relacionamento que reforcem seu baixo nível de autoestima, com parceiros (as) que as desmerecem e as desvalorizam. A alusão mais correta nesse caso é a de um espelho: o que está dentro é refletido fora e o (a) parceiro (a) se relaciona com os recursos que lhe são oferecidos. Neste caso, de baixa autoestima, reforçando, assim, um padrão de autoconceito.

A autoestima é a fonte do nosso poder pessoal, da capacidade que todo ser humano tem de influenciar e ser influenciado nas relações sociais. Em todos os tipos de relações a autoestima é o pano de fundo, pois ela determinará o modo como o indivíduo irá lidar com seu corpo, se emocionar e agir. Em situações de trabalho, por exemplo, pessoas com elevada autoestima tendem a ser mais ágeis, a falar assertivamente o que querem, a lutar pelos seus objetivos de modo claro. Alguém com autoestima alta acredita em si mesmo, é o que quer ser, goza a vida e assume responsabilidades sem culpar os outros e sem se justificar pelas escolhas que faz.

Alguns autores se dedicaram a pesquisas importantes a respeito do tema. Shinobu Kitayama (2004) realizou estudos na Universidade de Dakota do Norte, nos Estados Unidos, envolvendo 257 estudantes. Constatou que os indivíduos mais pessimistas tinham uma percepção negativa a respeito de atividades do local onde viviam e apresentavam impressões ruins a respeito de si mesmos. Para Kitayama, há uma correlação direta entre a adequação do modo de agir aos valores sociais vigentes e a elevada autoestima.

Daniel Hart, psicólogo da Universidade de Rutgers, nos Estados Unidos, afirmou, em 2006, que a alta e a baixa autoestima podem se alternar em diferentes áreas. Ou seja: uma pessoa pode ter elevada autoestima na vida profissional, e baixa autoestima na vida pessoal.

Os psicólogos da Universidade de Southampton, na Inglaterra, declararam que a autoestima tem características hereditárias. Pesquisas feitas com gêmeos adultos (univitelinos e bivitelinos) e com filhos adotivos revelaram que a genética tem um peso considerável n autoestima.

A construção do autoconceito

O ser humano, como ser de relações sociais, necessita do outro desde seu nascimento até a morte. O modo como o outro, o ambiente e as questões socioculturais influenciam o desenvolvimento do ser também influenciam a compreensão de si mesmo. Cada qual tem um modo único e especial de experimentar a vida, associando novas vivências com experiências passadas e aspectos cognitivo-afetivos.

Ao nascer, o bebê depende de cuidados maternais, sem os quais não sobreviveria. Aquele (a) que cuida torna-se uma espécie de espelho para a criança, que vai desenvolvendo seu processo de individuação por meio da interpretação do outro, compreendendo-se como um ser que faz parte do outro. Por intermédio dessa relação de cuidados, a criança vai construindo a si mesma, seu autoconceito, até apreender-se como um ser separado desse outro: único, com desejos e necessidades.

De acordo com Stratton (2002), podemos definir autoconceito como "a soma total dos modos como o indivíduo vê a si mesmo". A autoimagem seria, então, seu componente descritivo, e  autoestima, seu componente avaliativo.

O senso de valor próprio e competência, a avaliação pessoal que um indivíduo faz de si constituem a autoestima. Já a imagem interna ou a descrição interna que alguém tem de si mesmo é a autoimagem.

A baixa autoestima, além de ser um indicativo de distúrbios psicológicos e uma característica da depressão, pode levar o indivíduo a dificuldades de relacionamento intra e interpessoal.

A autoimagem é construída na interação indivíduo e meio ambiente. Portanto, o feedback positivo ou negativo dessas interações influencia a autoimagem. A autoestima possui um nível importante de contribuição na atitude das pessoas em relação à autoimagem, que engloba, entre outros, o conhecimento acerca dos papéis sociais desempenhados (Stratton 2002).

A imagem corporal é um aspecto importante da autoimagem e diz respeito à ideia que cada um tem de seu corpo, que vai desde a representação do corpo até a avaliação das características corporais. Então, um indivíduo que se avalia de maneira negativa (baixa autoestima), provavelmente terá dificuldades com sua imagem corporal e com sua autoimagem.

O conceito de identidade diz respeito ao "senso que o indivíduo tem sobre o tipo de pessoa que é" (Stratton 2002).  A identidade é construída ao longo de toda a infância, mas na adolescência começa a se tornar estável, o que significa manter-se constante, com uniformidade de atitudes, sentimentos e comportamentos, mesmo diante de situações diversas. Uma identidade segura é necessária para que o jovem adulto seja capaz de assumir responsabilidades, compromissos e relações íntimas.


Os impactos

O modo como as crianças desenvolvem a compreensão de si na infância, por meio da relação com os cuidadores, com a família, a escola e os colegas, determina e orienta o autoconceito. Crianças com baixa autoestima tendem a ser adolescentes autodestrutivos, podendo utilizar recursos como drogas,violência, sexo descuidado, para reafirmar a baixa autoestima ou, ainda, uma timidez excessiva, que promove um auto-direcionamento para a reclusão ou a associação com grupos que se colocam à margem da sociedade.

No curso do desenvolvimento humano, os adultos advindos de uma trajetória de baixa autoestima, dependendo do modo como utilizam seus recursos internos, podem, em diferentes níveis, tornar-se violentos, autodestrutivos, dependentes emocionalmente, isolados socialmente ou, ainda, ter dificuldades de aceitar o próprio sucesso, de planejar sua carreira, de reconhecer resultados positivos, além de extrema dificuldade em relacionamentos interpessoais.

Como compensação, o indivíduo com baixa autoestima pode também direcionar seus recursos à busca incessante do sucesso, não medindo esforços, nem se intimidando por barreiras para provar, para si mesmo e para os outros, que é capaz de realizações, embora ele mesmo tenha dificuldade de reconhecer isso.

Autoconfiança consiste na previsão realista dos recursos internos disponíveis necessários para encarar um tipo específico de situação. Só você se conhece tão bem a ponto de prever possíveis atitudes, comportamentos e sentimentos diante de uma dada situação e qual a melhor maneira de agir sem agredir a si mesmo e ao outro. Uma pessoa autoconfiante tem mais chances de promover relacionamentos saudáveis, uma vez que conhece quais são os seus limites, avalia suas prioridades, respeita a si mesma e às suas emoções. A autoconfiança também está associada ao desenvolvimento de alteridade, isto é, o desenvolvimento d noção de que, se sou um indivíduo, o outro também é, e ambos devemos ser respeitados nas mais diversas relações em nossos direitos humanos.

A autoestima é a base da autoconfiança. Uma pessoa que se compreende de maneira positiva tende a direcionar-se pela vida de modo decisivo e deliberado. A autoconfiança, atualmente, é considerada uma competência ou habilidade a ser avaliada nos processos seletivos realizados pelas organizações que estão à procura de pessoas capazes de gerir negócios, criar possibilidades e desafiar fronteiras. Pessoas autoconfiantes tendem a expressar confiança na própria capacidade de superar desafios e situações difíceis, investem mais no seu desenvolvimento pessoal e profissional e são mais resilientes.

A resiliência é a capacidade de lidar com a adversidade e conseguir se adaptar ou evoluir positivamente diante da situação adversa. Há muitos exemplos de pessoas que se superaram depois de uma grande perda, como os atletas paraolímpicos, os pintores que perderam os braços em acidentes ou doenças e que pintam com a boca e/ou os pés, aqueles que sofreram doenças, acidentes ou grandes perdas e passaram a ministrar palestras sobre o assunto. Indivíduos com alta autoestima tendem a ser mais resilientes e promovem mudanças, vencem dificuldades, têm firmeza de propósito, são proativos - características em alta no mercado de trabalho.


Autoestima e saúde

Autoestima e saúde estão diretamente relacionadas. Uma pessoa que gosta de si mesma cuida-se, envolve-se na própria história, compreende o que é importante e o que é irrelevante para sua vida. Cria condições favoráveis para o bem-estar e a qualidade de vida, investindo no que é importante para o próprio crescimento pessoal.

Um autoconceito positivo é essencial para uma vida plena e saudável. Uma vez que o indivíduo acredita em  seu potencial, confia em si mesmo, gosta da própria companhia, as possibilidades de conquistas, de sucesso pessoal e profissional, de bem-estar físico e psíquico estão disponíveis para ele. O contrário também é verdadeiro: mal-estar físico e psíquico se instalam naquele que se desmerece, que se diz coisas negativas e que não acredita ou não confia em si mesmo.

Temos a capacidade de construir uma vida saudável ou uma vida de doenças, dependendo do modo como nos relacionamos conosco e da maneira como buscamos manter as relações a nossa volta. Pessoas muito carentes, por exemplo, tendem a se envolver em relacionamentos com uma super expectativa de afetividade que só existe em sua mente. Quando essa expectativa é frustrada (e certamente será, porque o outro não poderá atender a uma demanda psíquica com recursos que não lhe pertencem), essas pessoas adoecem fisicamente, psiquicamente ou psicossomaticamente.

É importante ressaltar que as demandas emocionais de um indivíduo somente podem ser satisfeitas, como necessidades, com recursos internos do próprio indivíduo e não com recursos alheios. Muito embora isso possa se dar nas relações de troca, será sempre pessoal e intransferível, tanto na busca quanto no resultado. A maior comprovação desse fato são os gêmeos univitelinos: com a mesma base genética, cada gêmeo pode ter necessidades afetivas diferentes, conforme suas demandas emocionais. O autoconceito de gêmeos pode ser diferenciado, dependendo do modo como cada um interpreta sua relação com o cuidador, consigo e com o mundo que o cerca.

O modo como cada pessoa se conhece, lida com suas emoções diante da realidade e enfrenta as situações está diretamente ligado a seu nível de autoestima. A saúde, portanto, depende de quanto uma pessoa consegue dispor de seus recursos internos para se valorizar, compreender-se e se aceitar.

Indivíduos com baixa autoestima tendem a adoecer mais pelo nível de exigência que se impõem para agradar aos outros, pelo alto desgaste emocional para lidar com as dificuldades, pela instabilidade e fragilidade emocional de se ver por meio dos "olhos" dos outros, o que promove frustrações diante de desaprovações.

Algumas doenças psicossomáticas podem estar associadas a personalidades que estabelecem para si um nível de cobrança: agradar aos outros, nunca dizer "não", assumir culpas por acontecimentos. Esses tipos de doenças exercem ação direta na saúde do corpo e são ocasionadas por componentes psíquicos, ou seja, problemas de ordem emocional. Alguns exemplos associados: dores de barriga, bruxismo (ranger os dentes), gastrite, bronquite, hipertensão arterial, dermatites, dores de cabeça, disfunções endocrinológicas, dentre outras.

O tratamento está sempre associado a cuidados médicos e psicoterapia, pois é necessário que se trate a doença já manifesta no corpo físico, e que se cuide do modelo disfuncional da estrutura de pensamentos e emoções que propiciam, ao indivíduo, agir para provocar em si mesmo constantes desequilíbrios.

A psicoterapia aborda quatro pilares básicos: autoaceitação (aceitar-se como pessoa), autoconfiança (atitude positiva em relação a capacidades e desempenho), competências sociais (a arte de fazer e manter contatos sociais) e rede social (rede de relacionamentos positivos - colegas, amigos, familiares - por meio de participação em grupos de interesse pessoal).

A frustração faz parte da vida e a superproteção a que muitos pais submetem os filhos traz um impacto negativo no desenvolvimento das habilidades sociais. Crianças superprotegidas tendem a ter a autonomia e o desempenho prejudicados, pois não conseguem desenvolver o senso de confiança. São adultos que provavelmente terão dificuldade de se estabelecer no mundo, com características fortes de dependência, sentimento de incompetência, vulnerabilidade e fracasso. Famílias super protetoras, na tentativa de proteger a criança dos perigos do mundo, não reforçam sua autonomia.

Atualmente, muitas famílias acabam sendo permissivas no modelo educacional que seguem. As crianças que crescem em um ambiente permissivo tendem a ter dificuldades em seguir regras e normas, em respeitar os direitos dos outros e cumprir metas  pessoais. Pais que têm dificuldade na aplicação de limites realistas promovem na criança um sentimento de merecimento, de grandiosidade, falta de autocontrole e de autodisciplina. Nesse caso, o futuro adulto terá como forte característica o egoísmo, que geralmente mascara um autoconceito fragilizado e uma imagem deturpada de si mesmo, característicos da baixa autoestima.

As crianças querem ser aceitas pelos pais. Quando estes estabelecem uma relação de amor condicional, isto é, a criança apenas recebe afeto e atenção mediante determinado comportamento, promovem nela a necessidade de ganhar aprovação. Se os pais ressaltam que gostam do filho apenas quando se comporta desta ou daquela maneira, ele tende a suprimir o comportamento indesejado e passa a querer agradar aos pais.

Dependendo do nível de exigência em que isso acontece, a criança tende a generalizar e pode se tornar um adulto que acredita que deve atender às necessidades dos outros, suprimindo as suas, buscando sempre aprovação, reconhecimento e se relacionando de maneira subjugada.

Vimos que a autoestima tem um componente genético, que ela se constrói na relação com os outros e com o mundo que nos cerca. Mas é importante ressaltar que nós também temos uma grande participação na sua constituição, pois cada um, baseado no modo como interpreta os eventos, como se fortalece diante deles e de acordo com as estratégias que cria com eles, tem armas diferentes para enfrentar os desafios do dia a dia. O nível de autoestima de uma pessoa não é uma predeterminação, mas um indício de que, com os recursos adequados, pode haver transformação.


(texto publicado na revista Psique nº 80 ano VI)









As 6 paramitas



Essa nossa humanidade: Habemus Papam - film di Nanni Moretti


Em Habemus Papam, o diretor italiano Nanni Moretti conta a história de um papa acossado por angústias e inseguranças

Há séculos a Igreja Católica segue um mesmo ritual: quando um papa morre, os cardeais se reúnem em conclave para eleger o novo Sumo Pontífice.  A escolha é feita por votação, e o eleito deve ter mais de dois terços dos votos. Um princípio, contudo, permanece fundamental: para os católicos, a decisão dos cardeais é guiada pelo Espírito Santo, o que torna o escolhido inquestionável. Esse é o mote do novo longa do cineasta italiano Nanni Moretti, cômico, sem deixar de ser sensível e dramático. Depois de dias de expectativa por parte dos fiéis e de busca de consenso entre os religiosos presentes no conclave, finalmente, chega o momento de anunciar "Habemus Papam". O novo pontífice, porém, sente o peso da responsabilidade e, angustiado, sem julgar-se capaz de assumir a missão que lhe cabe, pede aos colegas um tempo. A inusitada e trágica situação faz com que o cardeal carmalengo - aquele responsável pela administração da Santa Sé - e o porta-voz do Vaticano chamem, em sigilo, um famoso psicanalista para ajudar o novo papa. Diferentemente de seus filmes mais políticos, neste longa Moretti não tem intenção de questionar as regras da Igreja nem a figura do Santo Pontífice; o que ele faz, de modo brilhante, é revelar o homem que se esconde atrás do religioso: sua fé, suas dúvidas, suas memórias mais antigas e, principalmente, os medos que o impediram de seguir sua verdadeira vocação. Aliás, qual é sua verdadeira vocação? A cena em que o papa escuta a homilia de um padre jovem, como se buscasse reconhecer o que nele restava dos ideais do início da vida religiosa, sugere a busca por respostas. Outro momento bastante significativo, além de poético, traz como trilha sonora a canção "Todo Cambia" (Tudo Muda), na voz de Mercedes Sosa: os cardeais escutam-na no Vaticano enquanto o novo papa - "à paisana" - acompanha a apresentação de um grupo de rua. "E, assim como tudo muda, que eu mude não é estranho", diz a música. Com atuações impecáveis - destaque para o ator francês Michel Piccoli, que interpreta o pontífice -, o filme propõe uma reflexão, ao mesmo tempo divertida e melancólica, sobre as escolhas e limitações humanas, as exigências sociais e a possibilidade pessoal e intransferível de cada indivíduo de dizer "sim" ou "não" ao papel que lhe cabe na vida.



(texto publicado na revista Vida Simples nº 116 - março 2012)



Habemus Papam - trailer

Essa tal espiritualidade - Liane Alves


Ela não tem nada a ver com religião e pode estar presente no nosso dia a dia inclusive em tarefas corriqueiras, como caminhar e mesmo lavar a louça

Homenagem ao Dalai Lama. Esse é o tipo de convite que me dá prazer. É certamente uma palestra que pode me ajudar a escrever a matéria para a VIDA SIMPLES: como trazer a espiritualidade para o cotidiano. Chego cedo, deixo a bolsa sobre a cadeira na primeira fila e vou falar com prováveis entrevistados. Na volta, uma surpresa: uma das senhoras encarregadas de acomodar as pessoas me manda mudar de lugar. Pergunto para onde e ela me aponta o resto da plateia.

Se há algo que me coloca fora de mim é alguém tentar dificultar meu trabalho. Vi um vulcão prestes a entrar em erupção no meu peito. Ou eu aplicava os recursos a que os mestres se referem diante daquele momento, ou poderia pegar minha trouxinha e ir embora. Preferi ir para o fundo do auditório. Não sei até que ponto você é capaz de testemunhar seu próprio ataque de fúria. Mas eu estava tentando fazer isso. Depois de ter o sangue inundado pela adrenalina, o monólogo dos pensamentos dispara. Para sair daquele estado, comecei a desenhar flores de lótus. Depois de alguns minutos, consegui entrar no segundo estágio pós-ataque de raiva: as questões práticas.

Como poderia gravar a palestra lá do fundo? Assim, das colocações emocionais, passei para as racionais. Bom sinal. Com mais distanciamento, ficava mais fácil me separar do furacão interno. Mesmo com dificuldade, procurava aplicar no cotidiano o que aprendi em grupos espirituais: a me separar da emoção. Mais calma, fui pedir para acrescentar algumas cadeiras na frente. Restringi o pedido ao que era preciso para trabalhar em paz. e fiquei contente por ter achado a medida justa: nem ficar me remoendo nem responder ao descaso ao meu trabalho. Apenas o justo e adequado.

Alcançar esse equilíbrio diante de uma situação de confronto é um aprendizado. Os budistas falam que para que isso possa ocorrer devemos cultivar e praticar as seis paramitas, ou seis qualidades espirituais que levam a espiritualidade para o campo da ação: generosidade, empenho, tolerância, perseverança, discernimento e sabedoria. As seis representam o que mais queremos dos outros: acolhimento, afeto, respeito e muita paciência com nossos defeitos. É um treino para toda a vida, mas com o tempo ele se torna mais natural. Afinal, é mais simples fazer aquilo que queremos que façam a nós. O cristianismo traduz isso na frase: "Amar ao próximo como a ti mesmo".


Meditação em ação

Um grande mestre, Chögyam Trungpa, que escreveu o livro Meditação na Ação, conta que Buda dizia que o agricultor sábio aproveita os dejetos, isto é, tudo aquilo que é indesejável, para transformar em adubo. Em vez de negar que temos emoções negativas, é bom vê-las se manifestar para que possamos transformá-las. E esse já é um grande treino para aplicar a espiritualidade no dia a dia: aprender a separá-las de nós, sem nos identificarmos tanto com elas e, com base nisso, nos tornar mais generosos. "Os inexperientes dirão: aquilo é sujo, aquilo é limpo, aquilo é Samsara, aquilo é Nirvana. Porém os mais experientes aproveitarão tudo: não jogarão fora os desejos, as paixões e todo o resto, mas os ajuntarão à sua vida da maneira correta. Eles vão utilizá-los como adubo para sua realização espiritual", diz Trungpa. Em outras palavras, são as emoções negativas que  têm a possibilidade de aumentar nossa capacidade de sermos tolerantes, abertos e muito maiores do que nós mesmos. Sem elas, ficaríamos estagnados nos estreitos limites do ego.

A meditação é outra prática que nos ensina a despregar da turbulência emocional, a observá-la de outro ponto dentro da mente. Treinando a meditação, fica mais fácil ver pensamentos e emoções com certa distância, embora eles continuem a se manifestar. Passamos a enxergar a turbulência como nuvens em céu azul e aberto, que chegam e se vão. É uma libertação. O passo seguinte é aplicar isso na vida diária.

Nesse campo, teoria e prática são a mesma coisa. Portanto, temos de nos abrir para enxergar o que se passa dentro de nós, e não apenas sermos passivos e nos render ao domínio das emoções e dos pensamentos. E alguns bons mestres nos auxiliam a fazer isso. Oba.


Um bom achado

Lama Rinchen, monge que representa no Brasil a escola Sakya, uma das quatro grandes linhagens do budismo tibetano, coloca em perspectiva todo o que havia vivenciado e revela qual é o principal dessa história. "A espiritualidade no cotidiano é sobretudo uma espiritualidade relacional: está ligada com aquilo que nós sentimos e com o modo como nos relacionamos com as pessoas", diz. E é claro que essa maneira é influenciada pelo jeito com que olhamos a vida. "Os antigos gregos, por exemplo, encaravam a ética como a maneira de transpor sua prática espiritual para o cotidiano. As qualidades humanas, como eram chamadas na época, eram consideradas como a dimensão prática da espiritualidade", afirma. "Com o correr dos séculos, isso se perdeu, e a ética e os valores humanos hoje são considerados como instâncias separadas da vida espiritual. Mas na verdade eles são a expressão direta da espiritualidade no mundo."

Somos espirituais também quando somos éticos, quando não cedemos ao egoísmo e valorizamos qualidades como respeito e lealdade. "Todos nós somos seres espirituais, independentemente da religião que professamos ou da fé que temos. Espiritualidade não é igual a religiosidade. Essa é uma grande confusão", diz Rinchen.


Louça suja

A imaginação é muito usada nas práticas espirituais do Oriente. Se você está lavando louça, por exemplo, por que não imaginar também que está lavando um sentimento ruim? Se estiver regando plantas, por que não visualizar que está nutrindo de amor o coração ressequido de alguém? O monge vietnamita Thich Nat Han sugere que ao caminhar imaginemos que sob os nossos pés nasçam flores de lótus, símbolos de amor e pureza. "Podemos modificar um estado negativo mantendo por um tempo essas imagens inspiradoras", diz a professora de ioga Alda Biggi.

Outra maneira de empregar a imaginação é fazer um exercício espiritual chamado tonglen na tradição budista: depois de uma breve meditação de olhos fechados e em silêncio, imaginamos absorver no coração o sofrimento de alguém, durante a inspiração. Na expiração, enviamos luz e amor para ele. "Acontece uma alquimia em nosso coração. O sofrimento é transformado em amor, alegria. Podemos enviar na imaginação tudo o que a pessoa pode estar precisando, mesmo se for um refrescante suco de laranja", escreveu a monja budista Pema Chödron. Essa meditação pode ser feita de dia, no ônibus.


No dia a dia


Um livro saboroso, Depois do Êxtase, Lave a Roupa Suja, conta exatamente as dificuldades de um monge americano, Jack Kornfeld, que se vê obrigado a enfrentar a vida nos Estados Unidos depois de passar vários anos como monge nas florestas da Tailândia em imersão espiritual. Cheio de pequenas histórias e escrito com bom humor, o autor fala de suas dificuldades cotidianas, que também traduzem nossos próprios obstáculos para vivenciar uma espiritualidade prática. Para vivê-la, é preciso se basear em um ponto fundamental: na vida, tudo faz parte de um todo indivisível e sagrado. "Acreditamos, por exemplo, que o corpo - os relacionamentos, o planejamento do futuro, o dinheiro, a sexualidade, a família, a comunidade ou  política - é algo 'não espiritual', perigoso, uma cilada. Esse medo ergue muros, isola o coração e divide o mundo em partes sagradas e partes que não são sagradas", escreveu ele. Portanto, é sábio incluir tudo como sagrado: corpo, plantas, amigos e inimigos, experiências agradáveis ou não e nosso inconsciente. "No coração maduro, desponta uma perfeição mais profunda, que não é oposta às coisas deste mundo, mas as que abrange na compaixão. Voltada para a misericórdia, a vida espiritual abandona as lutas do eu, as batalhas com o ego e com o pecado. A canção passa a ser feita de um amor corajoso por toda a criação, sem nada excluir", diz ele. Os problemas, desafios e venenos da vida se transformam em nossos professores.



(texto publicado na revista Vida Simples nº 116 - março 2012)