Popular na Índia, esse chá de sabor exótico - diferente de tudo que a gente conhece - vem conquistando cada vez mais adeptos por aqui.
Além de mística e colorida, a Índia é também um país de sabores e aromas marcantes. A culinária - considerada uma arte milenar - combina os alimentos com temperos de notas variadas (aromática, doce, amarga, picante), despertando o olfato e o paladar. As bebidas não fogem à regra, com destaque para o chai (pronuncia-se tchai) - um chá que leva no mínimo quatro especiarias diferentes. Bastante conhecido em todo o país, é muito apreciado pelo sabor e pelos efeitos terapêuticos. É digestivo, energético e antioxidante, ou seja, combate os radicais livres, responsáveis pelo envelhecimento precoce e pelo surgimento de doenças degenerativas.
Bem-vindo a qualquer hora do dia, esse chá indiano é consumido com a mesma frequência (ou mais) com que se toma cafezinho por aqui. Após uma refeição, costuma ser oferecido pelo anfitrião da casa como sinal de cordialidade ou como pretexto para mais alguns momentos de boa conversa. Também faz parte dos costumes e tradições servi-lo em restaurantes, lojas, nas estações de trem e até dentro dos vagões - situação retratada no filme Viagem a Darjeeling, do diretor americano Wes Anderson.
Mas foi a novel da Rede Globo Caminho das Índias que aguçou a curiosidade do brasileiro pela bebida. Algumas cafeterias e restaurantes aproveitaram o embalo para acrescentar a opção no cardápio. "Comecei a oferecer o chai em ocasiões especiais. Mas, como a procura aumentou, resolvi disponibilizá-lo diariamente", conta Manuela Mantegari Narvania, chef e proprietária do restaurante Curry Comida Indiana, em São Paulo. Preparado com especiarias "quentes", como cravo, canela, pimenta-preta, gengibre, cardamomo, cúrcuma e anis-estrelado, tem um sabor forte e levemente picante - diferente de tudo que a gente conhece. A mistura de temperos é também responsável por alguns dos seus efeitos terapêuticos. "A maior parte das especiarias tem substâncias termogênicas, capazes de aquecer o organismo e aumentar a disposição", explica Lucyanna Kalluf, nutricionista do Instituto Alpha de Saúde Integrada, em São Paulo.
O segredo da bebida
Na Índia, o assunto é levado tão a sério que existem profissionais especializados na preparação do chai, os chaiwallas. E cada um deles tem sua própria maneira de combinar as especiarias. Mas essa informação é guardada a sete chaves, pois está aí o segredo do sabor. As famílias também costumam fazer o mix de acordo com o paladar das pessoas da casa. Isso justifica o fato de encontrarmos receitas de chai tão diferentes entre si.
Dependendo da região da Índia, esses ingredientes são combinados ao chá preto, verde ou de jasmim. Nos restaurantes mais sofisticados, a opção é pelo Darjeeling. Cultivado no norte da Índia, é considerado o melhor chá preto do mundo - e o mais caro também. Isso porque a produção é reduzidíssima (3% de todo o chá plantado no país). Mas, segundo Manuela, vale o investimento: "O Darjeeling é o champanhe dos chás".
Eu me lembro de ter tomado esse chá quando trabalhava em um bar na Itália, mas na época infelizmente ainda não estava interessada como agora em assuntos de autoconhecimento |
Cerimônia do chai
Para adoçar, existem duas opções: açúcar ou mel. O leite é o único ingrediente que não tem substituto - pelo menos na Índia. Acrescentado à receita por influência da colonização inglesa, suaviza o sabor picante e deixa o chá mais encorpado e nutritivo. O ideal é que seja adicionado à receita na mesma proporção da água usada para a infusão do chá. Porém, nem todos os indianos têm esse privilégio. "No sul do país, o chai leva bem menos leite - apenas um terço da quantidade adicionada no norte, onde a produção desse alimento é maior", explica o indiano Tattwa Ratnananda Saraswati, professor da Escola Tattwa Yoga, na Granja Viana, em São Paulo.
O método de preparo da bebida também varia conforme o gosto ou o costume local. Alguns indianos combinam todos os ingredientes logo de início, esperam levantar fervura, coam em seguida e servem. Outros deixam a mistura no fogo por mais tempo, ou começam fervendo as folhas de chá e só adicionam as especiarias e o leite no final. Já os chaiwallas preferem acrescentar o leite frio (ou aquecido) ao chá pronto. Eles fazem isso a certa distância da xícara para formar uma leve espuma, transformando o momento num pequeno ritual.
A moda brasileira
Para agradar ao paladar do brasileiro, o chai é preparado por aqui com uma combinação menor de especiarias e dificilmente leva pimenta. Além disso, é sempre feito com o chá preto, que tem um sabor mais familiar e, ao contrário do chá verde ou de jasmim, resiste a altas temperaturas. "O chá preto pode ser fervido sem o risco de amargar a bebida', explica a nutricionista Joana Mura, de São Paulo. Mesmo com essas modificações, o chai continua sendo uma boa opção para quem quer sentir um pouquinho do gosto da Índia sem sair do país.
(texto publicado na revista Bons Fluídos nº 126 - setembro 2009)
Essa é a receita do chai que tomei na palestra do Leandro Heck Gemeo |
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