Continuando com a série de depoimentos cujo tema é "Vida de fã", eis o relato do João Victor que se tornou um grande admirador da Barbra Streisand por "minha culpa" como ele sempre diz.
Sou
apaixonado pela Barbra Streisand desde os meus 10 anos! Desde que uma amiga
muito especial, Neide Furukawa, emprestou um VHS com o filme Hello, Dolly! Filme que se tornou o meu favorito e a ponte
que me levou ao universo dos musicais e ao talento de Barbra.
Durante
anos e anos colecionei tudo sobre a Barbra: filmes, CDs, shows, revistas,
livros... Comecei a acompanhar cada notícia: quando em 1996 ela dirigiu e
protagonizou O Espelho tem Duas Faces,
a gravação de um CD em 1997 que lançaria um dueto inédito com a Celine
Dion, seu casamento com James Brolin em 1998 e até a grande novidade... uma
notícia rara que poucas vezes foi lida: Barbra faria um novo show na virada do
século, entre 1999 e 2000 (mais pelo simbolismo numérico que pelo próprio cálculo
de mudança de séculos, que só aconteceria na verdade em 2001). Um show
fantástico, com inúmeras atrações, inclusive com direito a uma mini-Barbra, a
cantora Lauren Frost de 13 anos que interpretava a artista quando jovem e
cantou diversas músicas em dueto com a Barbra. O show Timeless anunciava enfim a aposentadoria de Barbra dos palcos.
Desde que esqueceu uma letra durante um show memorável em pleno Centra Park em
1967, ela criou uma aversão por apresentações ao vivo. Em 2000, com quase 20
anos, tinha a certeza que o sonho de talvez um dia assistir Barbra cantando
jamais iria se realizar.
Continuei
a vida de fã, acompanhando tudo sobre ela. Durante esse tempo a notícia mais
inusitada foi a participação de Barbra no filme Entrando Numa Fria Maior Ainda. Barbra voltaria às telas de cinema,
surpreendentemente, numa comédia rasa, onde não teria participação muito
expressiva e principalmente, não seria diretora, que declaradamente seria o
objetivo da artista em relação ao universo cinematográfico.
Muitos
boatos revelaram que na verdade Barbra só topou a "aventura" devido a
grande insistência de Ben Stiller, Robert De Niro e do seu parceiro de cena e
amigo de longa data, com o qual nunca havia contracenado: Dustin Hoffman.
Em
2006 finalmente uma notícia que nunca imaginaria veio à tona: Barbra faria uma
nova turnê pelos Estados Unidos. A notícia foi vinculada em diversos sites, inclusive
nos brasileiros que geralmente pouco falam sobre a artista. Finalmente, a essas
alturas com 25 anos, já trabalhando e com uma certa quantia de dinheiro
guardado, percebi que essa era a grande chance de realizar o sonho de assistir
um show da Barbra!
Inúmeras
pesquisas de como comprar o ingresso, de pacotes, de tirar passaporte, afinal
seria minha primeira viagem internacional, e também o visto norte-americano. O
dia da compra do ingresso foi chegando, todos os sites onde se comentava o
assunto diziam que era necessário muita atenção pois os ingressos se esgotariam
rapidamente. Dito e feito, varei a noite esperando iniciarem as vendas, e por
pouco não perco a chance, mas sim, consegui comprar o ingresso, que acabaram em
alguns minutos.
No
dia seguinte deveria fechar o pacote de uma semana em Nova York! UAU! Ver
Barbra em Nova York! Era quase um sonho duplo que estava se realizando! Junto
com o pacote, era hora também de agendar o passaporte e o visto
norte-americano! Demorou uma eternidade até o dia de pegá-lo, mas depois de
semanas consegui tirar meu passaporte. O visto seria mais complicado. Depois
dos atentados de 11 de setembro em 2001, tudo tinha ficado muito mais rigoroso.
Após ler inúmeros casos de visto negado pelas comunidades do Orkut, comecei a
temer essa hipótese. Mas tinha que fazer minha parte e deixei toda a
documentação em ordem, certinha, inclusive com os comprovantes de compra do
ingresso e o pacote que já havia reservado.
Enfim
o dia do visto. Um frio de lascar. Cheguei bem cedo pra nada dar errado. Uma
fila interminável. Um descaso e um desprezo que me deixavam ainda com mais
frio! Eu estava uma pilha de nervos. Primeiro os requisitantes do visto
passavam por uma pré-entrevista com funcionários brasileiros do consulado.
Depois de horas fomos levados para a entrevista com os americanos, que
diferente dos outros ficavam protegidos por uma cabine com vidros grossos e
impenetráveis, e a comunicação com eles era feita através de um telefone como
os de presídio. Senti-me um verdadeiro terrorista. Após passar pelo julgamento
de uma funcionária que estava mais interessada em continuar a jogar paciência
no computador do que me atender, recebi a seguinte resposta, com um sotaque
horripilante: "VOCÊ NÃO ESTÁ APTO A ENTRAR NOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA."
Passou tanta coisa na minha cabeça nessa hora! É como um castelo de areia que
se desmancha! Era o sentimento de que
aquele sonho não era pra mim. Não veria o show. Não deixaram!
Voltei
pra casa e sem brincadeira nenhuma, fiquei de cama durante o dia todo. Minha
mãe ficou arrasada e só falava pra eu ter calma e ficar bem porque ela tinha
certeza que a Barbra faria novos shows. Quem sabe da carreira dela e sabia que
em 2000 ela havia já anunciado sua aposentadoria de palcos, sabia que
dificilmente aconteceria. No dia seguinte era como se eu tivesse levado uma
surra, me arrastei para o trabalho... o dinheiro que era pra ser gasto na
viagem, tempos depois serviu para trocarmos a geladeira aqui em casa e repintar
todo o apartamento e foi a distração que arrumei pra afastar esse pesadelo.
Não
podia, contudo, deixar barato tudo isso.
Escrevi para o consulado americano
relatando o caso, para a embaixada brasileira, para a produção do show... A
única resposta que obtive foi uma foto autografada do escritório da Barbra! Até
que foi simpático, mas passou longe da resposta que eu imaginava... Entrei nas
mesmas comunidades do orkut que lia sobre vistos negados e relatei o
ocorrido... foi aí que conheci o Rodrigo, com quem fiz amizade por ele ter
vivido a mesmíssima situação em relação ao show da Barbra. Senti-me menos
injustiçado!
O
tempo passou e como palavra de mãe tem poder, em 2007 a Barbra anunciou uma nova turnê.
Diferente de todas as outras. Ela iria finalmente fazer shows em países que
nunca havia feito! Barbra faria shows por toda a Europa, onde GRAÇAS A DEUS
não é necessário visto!
Decidi
então que seria questão de honra realizar esse sonho. Dentre cidades como
Londres, Paris, Berlim, Barcelona, Dublin, Estocolmo, a que mais me chamou a
atenção sem dúvida nenhuma foi Roma. Afinal cresci na comunidade italiana, no
meio de italianos e de toda a cultura do país! Seria enfim o sonho duplo que
não foi realizado um ano antes! Conhecer um outro país e assistir ao tão
sonhado show!
A
história se repetiu: mesma tensão na compra dos ingressos que se esgotariam
rapidamente. Mas depois de comprar o tão concorrido ingresso estava mais
aliviado. Agora era só ter a preocupação com o pacote para Roma! E foi assim,
no dia seguinte estava fechando um pacote para uma semana incrível em Roma!
Mas
aconteceu outra reviravolta Dias depois
de ter comprado o ingresso, inúmeras notícias bombaram na internet, dizendo que
os italianos estavam revoltados com o preço cobrado pelo show da cantora. Horas
depois das primeiras notícias, a mais nova bomba da novela: Barbra havia
cancelado o show de Roma.
Entrei
em completo desespero. Mais uma vez o sonho de ver a Barbra ao vivo escorria
pelo ralo. O site de compra de ingressos italianos havia mandado um e-mail
dizendo que todos os clientes seriam ressarcidos. Claro que queria meu dinheiro
de volta, mas queria mesmo era viajar para ver o show. Para compensar o
cancelamento de Roma, a produção abriu mais duas novas datas no mesmo dia:
Viena e Zurique.
Como
já havia feito as reservas não tinha mais como voltar atrás ou perderia mais
dinheiro nessa história toda. O choque da notícia do cancelamento não impediu a
minha vontade de superar mais esse obstáculo e decidi que se fosse pra ir para
a Itália que assim fosse. Mas eu daria um jeito para vê-la em outra cidade.
As
datas e cidades mais próximas seriam justamente a das duas abertas após o
cancelamento. Por via das dúvidas, escolhi Zurique cuja data estaria mais
próxima das reservas do hotel que já havia feito para Roma. Então era só
esperar as vendas do show na Suíça começarem para comprar o novo ingresso!
Dias
depois do anúncio, as vendas começaram. Comprei o meu ingresso. Ufa. Ufa? Claro
que não! E mais um obstáculo surgiu nessa história! Tanto o ingresso de Nova
York, como o de Roma, eram daquele tipo que você imprime o comprovante de
pagamento e troca pelo ingresso na bilheteria. O da Suíça não oferecia isso. A
única possibilidade era enviá-lo para o endereço fornecido. Detalhe: o prazo de
entrega para o Brasil era tão longo que quando chegasse aqui eu já estaria
passeando pela Itália!
Então
logicamente o natural era fornecer qualquer endereço na Itália, de qualquer
hotel nas três cidades que eu visitaria antes de embarcar para o show em
Zurique: Roma, Florença ou Veneza. Mas ao questionar essas possibilidades com o
site de venda dos ingressos a resposta foi a de que não seria possível
determinar exatamente a data dessa entrega. O que significava que o ingresso
poderia chegar em Roma depois que eu já tivesse ido embora da cidade, por
exemplo. DESESPERO! Eu teria que ter endereço de alguém que morasse na SUÍÇA!
Para quem estiver lendo essa história, faço a seguinte pergunta: QUANTAS
PESSOAS VOCÊ CONHECE QUE MORAM NA SUÍÇA!? Eu, nenhuma.
Bom,
agora era hora do VAI OU RACHA. Eu teria que achar urgentemente alguém que
morasse em Zurique para poder pegar esses ingressos! Ou então seria meu
TERCEIRO ingresso perdido!
Dias
de agonia, noites em claro tentando achar alguém, pensando em mil
possibilidades. Como nada nessa vida se faz sozinho, comecei a perguntar a
todos os amigos e conhecidos se conheciam alguém. NADA. Amor de pai e mãe não
tem limites e eles também começaram a fazer a mesma coisa.
E
não é que certo dia meu celular toca e era meu pai: ACHEI! ACHEI ALGUÉM QUE
MORA NA SUÍÇA!
No
trabalho do meu pai havia uma mulher que era casada com um homem que tinha uma
tia casada com um cara suíço e moravam em ZURIQUE! Meu pai implorou de joelhos
pra que ela fizesse o meio de campo e desse um jeito de explicar a situação
para esse parente longínquo! A mulher ficou tão comovida com esse bafafá todo
que resolveu ajudar e depois de alguns dias me deu a notícia que salvou a
situação toda e fez com que eu finalmente realizasse meu sonho. O Sr. Urz Boss
(sim, o nome dele era esse) receberia com prazer o ingresso em sua casa e eu
poderia retirá-lo um dia antes do show. Sim ele caiu do céu!
Como
todo suíço mais do que prestativo e pontual, ele mesmo levou os ingressos no
hotel. Foi muito gentil. E depois de conhecer Roma, Florença e Veneza, realizei
o grande sonho da minha vida e consegui ver a Barbra ao vivo, cantando
lindamente. As primeiras imagens dela, surgindo de um elevador subterrâneo até
o palco, digno de uma verdadeira diva, eu não posso descrever com precisão,
porque havia muitas lágrimas escorrendo dos meus olhos e lembro apenas de um
grande borrão!
Mas
a primeira música de seu artista favorito ao vivo você nunca esquece. E no meu
caso foi Starting Here, Starting Now...
E era bem isso, começava ali mesmo, bem naquela hora... a realização do meu
sonho.
João Victor na frente da casa de espetáculos onde Barbra iria se apresentar. Reparem que ele está vestindo a camiseta com o título do filme estrelado pela cantora-atriz, "Essa pequena é uma parada" (What's up, doc?)
João Victor na frente da casa de espetáculos onde Barbra iria se apresentar. Reparem que ele está vestindo a camiseta com o título do filme estrelado pela cantora-atriz, "Essa pequena é uma parada" (What's up, doc?)
"Starting here starting now", a canção com a qual Barbra começou seu show
Cena do filme "Essa pequena é uma parada" na qual Barbra canta "As time goes by" para Ryan O'Neal
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