A visão de alguns filósofos segundo Alain de Botton.
Sobre sexo
Na cama com Platão
Embora seu nome costume estar associado ao amor espiritual que existe somente no plano das ideias, Platão e sua obra têm muito a ensinar sobre o sexo. Ele é um dos autores citados por Alain de Botton em seu livro Como pensar mais sobre sexo. "Meu livro é um convite para que os leitores contemplem um assunto sobre o qual achamos erroneamente que sabemos tudo, mas que nunca será tão simples quanto desejamos", diz Botton. Para melhorar a vida sexual dos leitores, ao menos na teoria, ele usa Freud e interpretações de Platão para angústias ligadas ao sexo, além de uma valiosa dica de Sêneca.
Entenda seu desconforto
A noite de sexo perfeita é uma raridade. Em vez de persegui-la todos os dias, é melhor aceitar que o sexo, por melhor que seja, sempre será um pouco estranho. "Todos nós somos esquisitos quando o assunto é sexo, mas somente porque nos comparamos a uma visão distorcida do que seria 'normal'. Deveríamos aceitar nossa anormalidade com coragem e bom humor", afirma Botton.
Aceite seus fetiches
Na leitura de Alan de Botton, as teorias de Platão sobre o amor podem ser interpretadas para estabelecer um vínculo entre os pequenos fetiches e o amor espiritual. Em vez de ignorá-los ou tratá-los como algo incomum, deveríamos vê-los como pistas para nos entendermos melhor - e como degraus numa escada que conduziria às formas de amor elevadas.
Fale sobre o que incomoda
O filósofo romano Sêneca destaca, entre os malefícios da raiva, o efeito que ela tem sobre o desejo. "Muitas vezes fazemos menos sexo porque nosso parceiro está com raiva de nós ou estamos com raiva dele", diz Botton. Conversar sobre as irritações do relacionamento pode ajudar a ter uma vida sexual mais feliz.
Sobre o trabalho
Bertrand Russell e o tempo livre
Em 1932, o filósofo inglês Bertrand Russell chocou a sociedade britânica ao afirmar que havia "trabalho demais sendo feito no mundo". Seu ensaio Elogio ao ócio discorre sobre os malefícios causados pelo excesso de trabalho e propõe um mundo em que nenhum homem trabalhe menos do que quatro horas por dia. "A maior lição de Russell é que devemos levar nossos momentos ociosos a sério", afirma o filósofo Roman Krznaric, autor de Como encontrar o trabalho da sua vida. O livro reúne lições da filosofia e da literatura para enfrentar crises de carreira e atingir o sucesso profissional.
Tente trabalhar menos
A jornada de trabalho de quatro horas diárias proposta por Russell parece ser uma meta inatingível, mas se esforçar para reduzir o expediente em uma hora pode ser uma boa alternativa para passar mais tempo com a família e os amigos. Os benefícios desse momento de ócio podem ser muito maiores.
Valorize seu tempo livre
Aproveite os momentos livres do dia para se dedicar a suas grandes paixões - principalmente se seu trabalho não for uma delas. "Num mundo em que ninguém se sente compelido a trabalhar mais do que quatro horas por dia, qualquer pessoa dotada de curiosidade científica será capaz de entregar-se a ela, e qualquer pintor poderá pintar sem passar fome", escreveu Russell.
Tenha uma missão
Por mais desgastante que seja o trabalho, somos capazes de enfrentá-lo se estivermos seguindo nossa vocação. A lição é sintetizada no aforismo de Nietzsche: "Aquele que tem um porquê para viver pode suportar quase todos os comos". Se esse não for o seu caso, vale seguir a dica de Russell e se dedicar a suas paixões no tempo livre. Talvez delas possa surgir um trabalho gratificante.
Sobre dinheiro
Aristóteles e seu bolso
Para Aristóteles, somente a felicidade pode ser vista como um fim em si. Todas as outras virtudes do ser humano seriam apenas meios para alcançar o objetivo supremo de ser feliz. Em Como se preocupar menos com o dinheiro, o filósofo John Armstrong resgata esse ensinamento da Ética a Nicômano e o aplica à maneira como nos relacionamos com o dinheiro e o trabalho.
Não estabeleça a riqueza como um objetivo
Dos vilões de Charles Dickens ao avarento de Molière, os grandes clássicos da literatura estão repletos de personagens sovinas que, apesar de sua imensa riqueza, são incapazes de ser felizes. Todos cometem o erro de ignorar a lição de Aristóteles e ver o dinheiro como um fim, não como apenas um dos vários recursos necessários para conquistarmos aquilo que nos levará à felicidade.
Não ignore a importância do dinheiro
Tendo estabelecido que o dinheiro não é um objetivo em si, seria um erro gastá-lo desordenadamente - ou, pior ainda, deixar de se importar com ele. Segundo Aristóteles, tanto a avareza quanto o desprendimento são condutas que devem ser evitadas. Gastar em excesso e não se preocupar em ganhar dinheiro são caminhos infalíveis para transformá-lo em problema. Nas finanças, assim como em outras áreas da vida, Aristóteles defende o equilíbrio. Para ele, homem que tem a atitude ideal em relação ao dinheiro é aquele que ganha e gasta com moderação.
Gaste com o que realmente importa
Se o dinheiro é apenas um meio e a felicidade é o objetivo final, a riqueza só será útil se nos ajudar na busca por esse objetivo. Crie o hábito de pensar em maneiras de trocar dinheiro por felicidade - mas sem exageros, diria Aristóteles.
Sobre autocontrole
Sócrates para esfriar a cabeça
Entre os ensinamentos dos grandes pensadores sobre o desafio de manter a calma diante dos problemas da vida, a autora de Como manter a mente sã, Philippa Perry, destaca uma frase de Sócrates. "Uma vida não examinada não merece ser vivida". As fórmulas para manter a sanidade são tão numerosas quanto a quantidade de problemas que desafiam a tranquilidade de cada um de nós. Se seguirmos o conselho de Sócrates, saberemos mais sobre o que nos incomoda - e teremos mais recursos para tornar nossa vida melhor.
Pergunte-se sobre você
Fazer perguntas como "O que estou sentindo agora?", "No que estou pensando?" e "Como estou respirando?" é uma maneira simples de começar um exercício de auto-observação. Uma das lições de Sócrates é o poder das perguntas para aprofundar o conhecimento.
Escreva um diário
A dica contraria o que conhecemos sobre a vida de Sócrate, já que ele não deixou nenhum texto para a posteridade. Mas escrever sobre a vida é uma poderosa ferramenta para ajudar a examiná-la. Registrar os fatos do dia a dia pode nos ajudar a reconhecer situações repetidas que nos deixam frustrados e, se necessário, mudar nossos hábitos.
Saiba conversar
"Um cérebro, assim como um neurônio, não é de muita utilidade sozinho. Nossos cérebros precisam de outros cérebros", afirma Philippa Perry. Sócrates sabia como poucos a importância do diálogo para uma vida edificante. Mesmo tendo sido apontado pelo Oráculo de Delfos como o mais sábio de todos os homens, ele se mantinha cercado de pessoas. Escutava-as e lhes fazia perguntas. Era a partir de suas conversas com elas que sua grande sabedoria vinha à tona.
Sobre vida digital
Desconecte-se com Thoreau
Em julho de 1845, incomodado com sua dificuldade para se concentrar em seus escritos, o filósofo americano Henry David Thoreau decidiu abandonar temporariamente a vida urbana. Por dois anos, Thoreau viveu numa cabana à beira de um lago, numa floresta em Massachusetts. Seu objetivo era "encarar apenas o essencial da vida, ver se poderia aprender o que ela tem a ensinar". No livro Como viver na era digital, Tom Chartfield reúne as lições que Thoreau e outros pensadores podem trazer para os dias de hoje.
Busque o que é essencial
O que você faria se tivesse de viver isolado como Thoreau? As interrupções constantes do mundo digital o que impedem de fazer algo que considera importante? Desconectar-se para responder a essas perguntas pode ser o primeiro passo para avaliar se a tecnologia está influenciando demais suas decisões.
Assuma o controle sobre a tecnologia
Por mais que tenhamos vontade, fugir para a floresta não costuma ser uma solução eficaz para problemas da vida cotidiana. Uma maneira de adaptar os ensinamentos de Thoreau é criar tempo para momentos de introspecção e isolamento, sem as interferências do mundo digital. Passar algumas horas longe do Twitter ou do Facebook todos os dias pode ser suficiente para reavaliar essas ferramentas.
Crie sua própria floresta
Por mais fantástica que seja a tecnologia, é um erro permitir que ela substitua as experiências da vida desconectada. Escrever ou desenhar livremente no papel pode ajudar a organizar as ideias de uma maneira que o teclado e o mouse não permitem. Um passeio pelo bairro pode ser mais revelador do que uma busca no Google Maps. Cada um de nós deve procurar sua forma de entrar em contato com o melhor do mundo analógico.
Sobre a iniciativa
Mude o mundo com Tolstói
No monumental romance Guerra e Paz que acompanha a trajetória de aristocratas durante a invasão da Rússia por Napoleão, o escritor Liev Tolstói questiona que a história do mundo seja feita por grandes homens. Segundo ele, as grandes batalhas são decididas não pela genialidade dos estrategistas militares, mas pela soma dos esforço de cada um dos soldados. Eles decidem, por vontade própria, lutar por um objetivo comum. Como mudar o mundo, de John-Paul Flintoff, recorre às páginas de Guerra e Paz e a ensaios de Tolstói para defender a tese de que mudar o mundo está ao alcance de qualquer um de nós.
Escolha sua mudança
"A ideia de mudar o mundo parece assustadora, mas não precisamos mudar o mundo inteiro. Podemos começar pelo nosso mundo", diz Flintoff. Quanto mais próxima de sua realidade for a mudança que você deseja, maior será sua chance de fazer algo concreto para iniciá-la.
Não subestime os pequenos atos
A luta contra a segregação racial nos Estados Unidos e contra o colonialismo britânico na Índia começou com atos individuais de resistência. Uma mudança que hoje parece sem importância pode se tornar um grande movimento amanhã, caso mais pessoas se mobilizem pela mesma causa. Quem não fizer sua pequena contribuição para uma mudança jamais conseguirá a adesão de outros à mesma causa. Uma mudança em sua casa pode transformar toda a vizinhança. Pequenas rebeldias jamais devem ser subestimadas - sobretudo pelos rebeldes.
Tenha paciência
Não é possível mudar o mundo inteiro hoje, por mais que nos esforcemos para isso. A maioria das grandes mudanças precisa de tempo para amadurecer e ganhar adeptos antes de se tornar realidade.
(texto publicado na revista Época)
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