Entre abandonar o amigo Joe Simpson de perna quebrada num abismo nevado ou os dois morrerem congelados num dos trajetos mais perigosos do alpinismo, Simon Yates escolheu viver. E Joe passou 3 dias se arrastando para finalmente se livrar da morte no gelo.
Tudo foi bem para os amigos ingleses Joe Simpson e Simons Yates até o 4º dia de escalada da face oeste do pico Siula Grande, de 6344 metros de altitude. Era 1985 e ninguém, até então, tinha desafiado aquele trecho de 8 quilômetros dos Andes peruanos. E era exatamente essa aura de pioneirismo e risco o que atraía os dois, então aos 25 e 21 anos.
No primeiro dia, subiram por cascatas de gelo e neve. Como é comum no alpinismo, um estava atado ao outro pela corda, que, em caso de queda, podia ajudar a salvar a vida do parceiro. No segundo dia, enfrentaram avalanches e nevascas e um frio muito intenso. Não parava de nevar e os dois já sentiam um princípio de hipotermia. Gastaram umas 6 horas só para percorrer 60 metros. Faltava pouco para chegar, mas já havia escurecido. Então, exaustos, resolveram cavar uma caverna e dormir.
Amanheceram com o bom tempo e alcançaram o topo da face oeste. A paisagem era indescritível, e não contiveram as risadas de satisfação. Só faltava descer e, em um ou dois dias, estariam de volta ao acampamento, com o desafio cumprido.
Quando desciam de volta, nuvens começaram a se aproximar rapidamente. Tudo o que enxergaram era um branco sem fim. Em menos de uma hora, estavam perdidos a 6 mil metros de altitude. Escureceu, e o plano de descer no mesmo dia se esvaiu.
Chegou o 4º dia na montanha. Quando voltaram a tentar descer, Joe caiu. E o impacto quebrou sua perna. "Estou morto", pensou. Os dois sabiam que Simon deveria deixar Joe para trás, ou morreria junto. Mas ele ficou e tentou salvar o amigo. Sentava-se num buraco na neve enquanto esperava que Joe descesse pela corda de 50 metros. E de corda em corda continuaram a descida em meio a mais uma nevasca e à sensação térmica de 80º C negativos.
Foi então que Joe deixou de sentir o chão debaixo de seus pés. Tinha parado sem perceber num precipício. E 25 metros abaixo havia ainda uma fenda gigante, que dava para um abismo.
Joe tentou subir pela corda, mas seus dedos já estavam insensíveis. Simon começava a se desesperar lá do alto. Os gritos dos dois eram inaudíveis. Pensou: "Se Joe cair, eu caio junto, com 50 metros de altura a mais. Ele morre e me mata também". Ficou mais de uma hora sem saber o que fazer e temendo que, a qualquer minuto, fosse arrastado para baixo pelo peso de Joe. Foi quando pegou seu canivete e, forçado pela situação, cortou a corda.
Joe caiu abismo adentro.
No 5º dia, Simon viu a encosta e, depois, a fenda com 10 metros de largura, da qual não se via o fundo. Certo de que o parceiro tinha morrido, foi embora.
Mas Joe havia sobrevivido. Ele tentou subir pela corda, para sair da fenda, mas, com a perna quebrada, era impossível. Então tomou uma decisão corajosa: desceu mais para dentro da fenda, na esperança de encontrar outra saída. Embrenhou-se por uma passagem estreita, cercada de duas paredes, descendo mais 25 metros. Se lá embaixo não houvesse nada, ou fosse muito mais fundo que o cumprimento da corda, ele morreria. Mas, para sua sorte, ali havia uma espécie de rampa, levando a outra saída. E, por lá, ele conseguiu alcançar o lado de fora.
Ao sair da fenda, Joe viu as pegadas deixadas por Simon e começou uma jornada de outros quase 3 dias, rastejando até o acampamento. Joe olhava o relógio para estabelecer pequenas metas de tempo e distância. E ia em frente. Assim prosseguiu por 3 dias, desidratado, sem comida, com a pele queimada do sol e do gelo e com uma perna quebrada.
Quando já estava com dois terços do peso de uma semana antes, Joe avistou o acampamento e gritou por Simon. O amigo ainda estava lá, nas últimas esperanças de que Joe voltasse vivo. Parecia um fantasma. Mas conseguira desafiar a face oeste do Siula Grande. Passados 2 anos e 6 cirurgias, voltou a escalar. E não parou mais.
Tudo foi bem para os amigos ingleses Joe Simpson e Simons Yates até o 4º dia de escalada da face oeste do pico Siula Grande, de 6344 metros de altitude. Era 1985 e ninguém, até então, tinha desafiado aquele trecho de 8 quilômetros dos Andes peruanos. E era exatamente essa aura de pioneirismo e risco o que atraía os dois, então aos 25 e 21 anos.
No primeiro dia, subiram por cascatas de gelo e neve. Como é comum no alpinismo, um estava atado ao outro pela corda, que, em caso de queda, podia ajudar a salvar a vida do parceiro. No segundo dia, enfrentaram avalanches e nevascas e um frio muito intenso. Não parava de nevar e os dois já sentiam um princípio de hipotermia. Gastaram umas 6 horas só para percorrer 60 metros. Faltava pouco para chegar, mas já havia escurecido. Então, exaustos, resolveram cavar uma caverna e dormir.
Amanheceram com o bom tempo e alcançaram o topo da face oeste. A paisagem era indescritível, e não contiveram as risadas de satisfação. Só faltava descer e, em um ou dois dias, estariam de volta ao acampamento, com o desafio cumprido.
Quando desciam de volta, nuvens começaram a se aproximar rapidamente. Tudo o que enxergaram era um branco sem fim. Em menos de uma hora, estavam perdidos a 6 mil metros de altitude. Escureceu, e o plano de descer no mesmo dia se esvaiu.
Chegou o 4º dia na montanha. Quando voltaram a tentar descer, Joe caiu. E o impacto quebrou sua perna. "Estou morto", pensou. Os dois sabiam que Simon deveria deixar Joe para trás, ou morreria junto. Mas ele ficou e tentou salvar o amigo. Sentava-se num buraco na neve enquanto esperava que Joe descesse pela corda de 50 metros. E de corda em corda continuaram a descida em meio a mais uma nevasca e à sensação térmica de 80º C negativos.
Foi então que Joe deixou de sentir o chão debaixo de seus pés. Tinha parado sem perceber num precipício. E 25 metros abaixo havia ainda uma fenda gigante, que dava para um abismo.
Joe tentou subir pela corda, mas seus dedos já estavam insensíveis. Simon começava a se desesperar lá do alto. Os gritos dos dois eram inaudíveis. Pensou: "Se Joe cair, eu caio junto, com 50 metros de altura a mais. Ele morre e me mata também". Ficou mais de uma hora sem saber o que fazer e temendo que, a qualquer minuto, fosse arrastado para baixo pelo peso de Joe. Foi quando pegou seu canivete e, forçado pela situação, cortou a corda.
Joe caiu abismo adentro.
No 5º dia, Simon viu a encosta e, depois, a fenda com 10 metros de largura, da qual não se via o fundo. Certo de que o parceiro tinha morrido, foi embora.
Mas Joe havia sobrevivido. Ele tentou subir pela corda, para sair da fenda, mas, com a perna quebrada, era impossível. Então tomou uma decisão corajosa: desceu mais para dentro da fenda, na esperança de encontrar outra saída. Embrenhou-se por uma passagem estreita, cercada de duas paredes, descendo mais 25 metros. Se lá embaixo não houvesse nada, ou fosse muito mais fundo que o cumprimento da corda, ele morreria. Mas, para sua sorte, ali havia uma espécie de rampa, levando a outra saída. E, por lá, ele conseguiu alcançar o lado de fora.
Ao sair da fenda, Joe viu as pegadas deixadas por Simon e começou uma jornada de outros quase 3 dias, rastejando até o acampamento. Joe olhava o relógio para estabelecer pequenas metas de tempo e distância. E ia em frente. Assim prosseguiu por 3 dias, desidratado, sem comida, com a pele queimada do sol e do gelo e com uma perna quebrada.
Quando já estava com dois terços do peso de uma semana antes, Joe avistou o acampamento e gritou por Simon. O amigo ainda estava lá, nas últimas esperanças de que Joe voltasse vivo. Parecia um fantasma. Mas conseguira desafiar a face oeste do Siula Grande. Passados 2 anos e 6 cirurgias, voltou a escalar. E não parou mais.
(texto publicado na revista Super Interessante - Superação (ed. especial) - dezembro de 2011)
Entrevista com Joe Simpson (legendas em italiano)
Nenhum comentário:
Postar um comentário