quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Couro de laboratório - Thaís Harari


Sapatos, carteiras, bolsas e roupas - tudo feito em tubo de ensaio, a partir da multiplicação de células bovinas, e sem matar um animal sequer. Mas com um porém.

No mês passado, o mundo se espantou com a criação de um hambúrguer feito de carne artificial, em laboratório (que a SUPER já havia noticiado em 2008). Ele ainda vai demorar para chegar ao seu prato, se é que vai chegar - terá de passar por várias fases de teste antes de ser considerado seguro. Mas, bem antes disso, você já poderá estar usando outro tipo de tecido artificial: o couro de laboratório. Ele foi desenvolvido pela empresa americana Modern Meadow, que criou um técnica de multiplicação de células.

Ao contrário da carne artificial, que tem gosto e consistência estranhos, o couro de laboratório é idêntico ao natural - tem a mesma cor, a mesma textura e até o mesmo cheiro. Nada a ver com o chamado "couro sintético", feito de petróleo. É couro de verdade mesmo. Com uma grande vantagem: não exige a morte de nenhum bicho. "A ideia é criar um produto que não envolva nenhum tipo de crueldade com animais", explica Andras Forgacs, fundador da empresa, que já produziu uma carteira feita com o novo couro.

Mas o processo também tem um lado polêmico. Para que as células se multipliquem, elas precisam ser misturadas com soro fetal bovino, uma substância extraída do sangue de bezerros recém-nascidos. Para coletar esse sangue - enfia-se uma agulha no coração do animal, que rende até meio litro de soro. O bezerro sobrevive e tem vida normal. Ou seja: o procedimento é melhor do que matar um boi para arrancar seu couro. Mas envolve sofrimento.

Além disso, o soro bovino é escasso - o mundo produz apenas 200 mil litros por ano, que já estão sendo consumidos (na produção de vacinas e em pesquisas científicas). Tanto que, no ano passado, um grupo de cientistas d Universidade Harvard e de outras instituições escreveu um artigo pedindo o desenvolvimento de outros tipos de soro. A Modern Meadow diz que está desenvolvendo uma versão sintética, feita com plantas.


Como o novo couro é produzido

1. Uma pequena quantidade de células de pele bovina, os fibroblastos, é retirada de um animal.

2. As células são colocadas num frasco, junto com soro fetal bovino e nutrientes, dentro de uma incubadora.

3. Durante 30 dias, as células se multiplicam.

4. As células são colocadas sobre uma massa de colágeno. Elas começam a se juntar e formar camadas.

5. Várias camadas são sobrepostas. Está pronto o couro.



(texto publicado na revista Super Interessante nº 323 - setembro de 2013)






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