domingo, 15 de julho de 2012

A importância de dormir bem - João Vitor Oliveira

Você acorda com os repetitivos e incessantes disparos do despertador martelando em seu ouvido e pensa: "Já? Não é possível". Levanta a cabeça e vê com desgosto a claridade do dia entrando pela janela, mas alguns minutinhos de sono extra não o atrasarão. Ativa então a função "soneca" do celular. Após dez minutos - que mai pareceram dez segundos - o barulho recomeça, e está na hora de encarar mais um dia de trabalho com a sensação de não ter descansado o suficiente.

A qualidade do sono está diretamente ligada à qualidade de vida do ser humano. Enquanto dormimos, nosso organismo realiza funções extremamente importantes: fortalecimento do sistema imunológico, secreção e liberação de hormônios, consolidação da memória, entre outras. Porém, a falta de tempo de descanso provocada pelo corrido cotidiano urbano, aliada aos inúmeros distúrbios noturnos que atingem boa parte da população, prejudica o desempenho dessas funções.

A privação do sono atinge principalmente jovens e adultos. O excessivo acúmulo de tarefas torna habitual trocar algumas horas na cama por um pouco mais de tempo para terminar os afazeres. Médicos recomendam que se durma cerca de 8 horas por dia, e estudos recentes feitos na Europa, Estados Unidos e Japão mostraram, inclusive, que quem cumpre a agenda tem maior expectativa de vida.

O primeiro passo para uma noite bem dormida é respeitar essas 8 horas. Dormir muito mais do que isso não é melhor e pode ser sintoma de algum distúrbio. Continuidade e profundidade do sono, porém, são aspectos essenciais.

Distúrbios do sono

Os distúrbios do sono prejudicam a qualidade do descanso, muitas vezes já precária por ser em tempo reduzido, causando ou acentuando problemas de saúde. A apneia é apenas um dos cerca de cem que atingem moradores de grandes cidades. Ao lado principalmente da insônia, é dos mais comuns: afeta 33% da população paulistana adulta, de acordo com pesquisa realizada pelo Instituto do Sono da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). A doença é caracterizada por eventos de pausas respiratórias durante a noite que duram mais de dez segundos e que são consideradas anormais quando ocorrem mais de cinco vezes por hora de sono. O ronco é um indicativo. Como a musculatura da faringe relaxa quando dormimos, podem ocorrer obstruções na via aérea. A obesidade contribui para essa obstrução, já que o depósito de gordura na via aérea superior estreita a garganta.

Aproximadamente 70% dos apnéticos possuem hipertensão arterial e 30% dos que têm hipertensão arterial são também apnéticos. Quando o distúrbio é tratado e atenuado, vê-se uma melhora no quadro de hipertensão. Além disso, arteriosclerose, fribilação arterial, aumento do risco de AVC , de infarto agudo do miocárdio e até de diabetes estão associados à apneia obstrutiva.

A insônia também é muito comum. Existe a insônia situacional, sentida por qualquer um em períodos de ansiedade e nervosismo, como antes de provas importantes, e a crônica, quando os problemas para dormir duram mais de um mês. A longo prazo, prejudica a saúde por não deixar o corpo cumprir a s funções que executa quando dorme, além de poder causar depressão.

Outros distúrbios são menos comuns, mas quando ocorrem também complicam a qualidade do sono: bruxismo, sonambulismo e síndrome das pernas inquietas.

Tratamento

É importante procurar resolver os problemas do sono. A polissonografia, exame que monitora os pacientes dormindo por uma noite através de uma série de canais, permite diagnosticar os problemas com precisão.

Para os apnéticos, a mascara CPAP (Continue Positive Airway Pressure) é o tratamento mais eficiente. O aparelho provoca um fluxo de ar contínuo que entra pelo nariz do usuário e abre sua garganta, impedindo a obstrução da via áerea durante a noite e evitando os efeitos do distúrbio. O desconforto estético provocado pelo uso da máscara e a dificuldade em se acostumar com a pressão positiva, no entanto, diminuem a adesão à terapia. Diante desses empecilhos, existem tratamentos alternativos, como exercícios de musculatura ligados à área da fonoaudiologia, como, por exemplo, costurar um bolso nas costas do pijama e colocar uma bola de tênis dentro dele, o que impedirá que o paciente durma de barriga para cima, posição não recomendável para apnéticos.

Quanto aos insones, o tratamento por medicação deve ser feito apenas pelos crônicos e sempre com orientação profissional.

O que vale mesmo, para a maioria dos distúrbios, é o velho "prevenir é melhor do que remediar". A simples mudança de hábitos no dia a dia diminui a ocorrência de vários problemas.

Praticar exercícios físicos, ter um sono regular e até deitar em posições confortáveis melhoram a qualidade do sono de qualquer um. A alimentação também desempenha um papel importante: comidas gordurosas antes de dormir, assim como estimulantes e álcool, atrapalham. Além disso, se a pessoa leva trabalho para a cama, dorme com o computador ligado, acaba associando o leito com o ambiente estressante do dia a dia. O quarto deve ser um lugar condicionado para dormir.


(texto extraído da revista Espaço Aberto)




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