sábado, 24 de outubro de 2015

Mobilidade urbana - Angelo Melli, arquiteto e urbanista


A crise da mobilidade é uma questão tipicamente urbana, de cidades médias e grandes. Quando vivíamos em pequenas cidades, com atividades econômicas basicamente de subsistência, pequenos fluxo de mercadorias e de pessoas e baias taxas de crescimento populacional, a questão da mobilidade urbana não se mostrava impactante e tampouco representava maiores entraves à vida dos cidadãos. As cidades cresceram sem controle e era inevitável que os conflitos se avolumassem. As atividades econômicas se tornaram extremamente complexas, a população cresceu e se concentrou nos grandes polos e, lamentavelmente, os governantes não souberam antever as consequências e não planejaram as ações necessárias para atenuar os impactos de tal fenômeno. O século XX foi, sem dúvida, o século do automóvel e do individualismo. A expansão das cidades nesse século, já não se basearam na rede de transportes coletivos sobre trilhos (trens, bondes), mas, induzido pelo enorme poderio econômico da florescente indústria automobilística, baseou-se no automóvel, no transporte individual, na expansão territorial indiscriminada, nos condomínios residenciais afastados, no transporte sobre pneus, no descontrole sobre a poluição ambiental causada pelo uso indiscriminado dos combustíveis fósseis. São enormes as diseconomias de escala provocadas pelos crescentes congestionamentos das vias urbanas, pela ineficiência da malha de transportes coletivos, pelos constantes acidentes viários, pelos tempos cada vez maiores dos deslocamentos de casa ao trabalho, enfim, pelos conflitos de uso das vias públicas entre pedestres, ciclistas, pessoas com necessidades especiais, veículos individuais, coletivos e veículos de carga. Para amenizar esse conflito pelo uso do espaço urbano o fluxo de pessoas e de mercadorias em nossas cidades tem que ser racionalizado, as nossas cidades tem que ser replanejadas, o nosso modo de vida nas cidades tem que ser repensado. As ruas devem voltar a ser espaços de convivência coletiva e não apenas congestionados canais de passagem. Para reduzir a quantidade de veículos nas cidades há que se investir maciçamente em transporte sobre trilhos (os trens e os modernos VLTs, sucessores dos antigos bondes). Quando não for possível, ou suficiente, implantar as vias exclusivas de ônibus articulados (chamadas canaletas em Curitiba). E também, garantir espaço e segurança para o uso de bicicletas (próprias ou as modernas bicicletas de uso coletivo). As calçadas precisam ser requalificadas para permitir as caminhadas nos trechos não muito longos, não só dos pedestres como dos cadeirantes, dos cegos, dos demais portadores de necessidades especiais. O planejamento urbano das cidades deve privilegiar a redistribuição do uso do solo e das atividades produtivas de forma a reduzir a necessidade de tantos deslocamentos intra-urbanos, incentivando o transporte de carga sobre trilhos. Soluções inovadoras como as esteiras rolantes, os grandes elevadores públicos, os teleféricos, as estações de integração intermodal, entre outras, devem ser buscadas para que possamos viver melhor e de forma mais saudável em nossas cidades. Enfrentar essa questão da mobilidade urbana mais democrática, saudável e segura em nossas cidades é o grande desafio que se coloca aos novos prefeitos que serão eleitos nas eleições municipais do próximo ano. A conferir.



(texto publicado na revista Viver grande oeste São Paulo nº 33 - outubro/novembro de 2015)

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