domingo, 18 de outubro de 2015

O mundo não gira em torno do nosso umbigo - Roberto Girola, psicanalista e terapeuta familiar


Esta é uma descoberta fundamental para a constituição do nosso psiquismo e para o nosso amadurecimento emocional.

Talvez alguns leitores possam se surpreender com a pergunta e achar que não faz sentido, já que é "evidente" que nós não somos o centro do mundo. No entanto, faz sentido sim, pois, embora a razão nos diga que não somos o centro do universo, do ponto de vista emocional é muito difícil aceitar que as coisas não acontecem exatamente de acordo com a nossa vontade.

Como lidar com os nossos núcleos narcísicos? Por que aquela garota que eu amo nem sequer olha para mim? Por que não consigo realizar meus desejos, tornar-me uma pessoa importante? Por que não posso ter tudo que eu quero, agir do meu jeito, sem ter de respeitar normas e leis impostas pela sociedade?

A humanidade demorou milhares de anos para descobrir que a terra não era o centro do universo, e sim um pequeno planeta perdido na imensidão do cosmo. Também não é fácil admitir que somos apenas um pequeno planeta perdido na imensidão do universo humano. A forma como o bebê se aproxima dessa descoberta é muito sofisticada e somente com o decorrer dos anos ela poderá ser confirmada e integrada pelo psiquismo de forma gradual.

Como lidar com esta frustração? Tudo o que diz respeito á vida psíquica remete a um problema de equilíbrio. Neste caso, não podemos fazer tudo o que queremos sob pena de sermos banidos do convívio social e, ao mesmo tempo, também não podem banir completamente nossos desejos, sobretudo quando eles provêm de necessidades legítimas. Entre nos tornarmos psicopatas paranoicos ou seres deprimidos sem vontade própria, há um terceiro caminho. Não abrir mão de nossos sonhos é a condição para sermos felizes.

Aliás, frequentemente a vida nos ensina que os sonhos retocados pela realidade se tornam ainda melhores dos que sonhamos no íntimo de nossa mente. Inicialmente, o sonho é construído apenas dentro de nós, olhando para o nosso umbigo.

A realidade costuma cedo ou tarde responder à nossa capacidade de sonhar. O sonho sonhado aparece então lá fora, no mundo real, como algo possível. Será então necessário ir em busca dele, arriscar-se, pôr todas as nossas energias e capacidades a seu serviço, para que ele se realize.




(texto publicado na revista de Aparecida nº 158 - ano 14 - maio de 2015)

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