domingo, 20 de dezembro de 2015

Embora seja grave, diabetes ainda é uma doença negligenciada no País - Dr. Fadlo Fraige Filho


Comemorou-se no dia 11 de novembro, o Dia Mundial do Diabetes. É uma data importante para alertar sobre os perigos dessa doença silenciosa que, se não tratada corretamente, pode levar a complicações sérias e até à morte. Um exemplo da gravidade: 29% das cirurgias de coração realizadas no Hospital Beneficência Portuguesa, em São Paulo, são em pacientes diabéticos.

Um em cada grupo de quatro indivíduos acima de 65 anos tem diabetes. O assunto é tão sério que a Organização das Nações Unidas (ONU) chama a atenção de todos os países para que tenham programas públicos de assistência, prevenção e diagnóstico precoce. No Brasil, 40% das pessoas com problemas cardíacos e 62% daquelas que fazem hemodiálise são diabéticas.

Essa doença pode levar a graves complicações cardiovasculares e microvasculares, como nefropatia (nos rins), neuropatia (nos nervos periféricos) e retinopatia (na retina, até com perda da visão). Outro problema é o chamado pé diabético, sendo necessária, em muitos casos, a amputação de dedos ou de todo o membro por falta de circulação adequada.

Isso ocorre, claro, quando o diagnóstico é tardio e/ou o tratamento não é feito de maneira adequada. Infelizmente, situações frequentes. Portanto, a prevenção é fundamental e o alerta aqui vai sobretudo para os homens, que costumam fazer menos check-ups do que as mulheres. Pessoas do grupo de risco, ou seja, que têm casos na família, hipertensas, obesas, com colesterol e triglicérides aumentados e acima de 65 anos, precisam fazer exame de sangue pelo menos uma vez ao ano para o controle da glicemia.

Em jejum de dez a 12 horas, o nível normal de glicose deve ser inferior a 100 mg/dl. Se está em 100 mg/dl a 125 mg/dl, é alto o risco de desenvolvimento do diabetes e acima de 126 já está instalada a doença. Em casos avançados, alguns sintomas aparecem, como vontade excessiva de beber água e urinar e emagrecimento sem que se perca o apetite.

A glicose é o combustível mais importante de nossas células. Mas, para que essa 'gasolina do organismo' entre nas células, é necessária a ação do hormônio insulina. Em algumas pessoas, a insulina age de modo ineficiente ou o pâncreas para de produzi-la totalmente. Ambos os casos levam ao aumento da glicose no sangue e ao surgimento do diabetes.

Há vários tipos da doença. O mellitus ou tipo 2, mais frequente - 90% dos casos -, é hereditário, em geral se manifesta a partir dos 40 anos e costuma ser assintomático por muito tempo. O tipo 1 ocorre em cerca de 5% dos diabéticos e em crianças e adolescentes, sobretudo dos 10 aos 18 anos, devido a um defeito do sistema imunológico. O organismo cria anticorpos que passam a destruir as células do pâncreas que fabricam a insulina. A criança ou o jovem apresenta sintomas logo no início, que são: sede e urina excessivas e perda de peso. Outro tipo menos frequente é  o diabetes gestacional, que ocorre na gravidez em mulheres com predisposição genética. Na maioria dos casos, some após o bebê nascer.

Diabéticos do tipo 2 em geral apresentam vários fatores relacionados à doença, como herança genética, excesso de peso e sedentarismo. O tratamento é com remédios. Mas a dieta alimentar e as atividades físicas são fundamentais, como também exames trimestrais de controle de glicose e hemoglobina glicada (HbA 1c), este último mais preciso porque estabelece a média das glicemias nos últimos três meses. Já crianças e jovens com diabetes tipo 1 fazem uso contínuo de insulina.

Vale relembrar que a doença só compromete ou mata quem não segue a orientação médica. Fica, como bom exemplo, a frase de um paciente de 88 anos com diabetes há 40 anos: "Vou morrer com diabetes, mas não do diabetes".



(texto publicado na revista Caras edição 1150 - ano 22 - nº 47 - 20 de novembro de 2015)


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