A má vontade dos funcionários públicos aumenta a sensação de que a burocracia é intransponível para cidadãos e empresas. Nesse ponto, a Itália é pior que o Brasil
O italiano Francesco Renzetti foi designado há seis anos pelo grupo Almaviva, do seetor de tecnologia, para abrir filiais em Palermo, no sul da Itália. Em várias ocasiões, precisou pegar o voo de volta para Roma depois de ter encontros cancelados de última hora pelos governantes locais. Até hoje, ele não recebeu nenhuma resposta das autoridades. No Brasil, no ano passado, Renzetti peregrinou por Maceió, Teresina e Aracaju com o mesmo propósito. Em intervalos que variaram de quatro a seis meses, ele recebeu as autorizações para erguer os prédios onde foram instalados call centers. Nas três cidades, há atualmente 18 000 pessoas trabalhando, a maioria jovens em seu primeiro emprego. "No sul da Itália nós só encontramos indiferença, enquanto no Brasil há uma vontade consistente de desenvolver o país", diz Renzetti.
Apesar de ser uma economia moderna e diversificada, a Itália tem a reputação entre os europeus de ser um país corrupto e pouco confiável para fazer negócios. Os funcionários do Estado entendem que não precisam se desdobrar para explicar aos cidadãos os trâmites necessários para um processo. É comum uma pessoa passar horas na fila para só no fim descobrir que falta um documento ou que está no guichê errado. É preciso cinco dias para abrir um negócio por lá, bem menos que os 129 necessários no Brasil. Mas isso - como o caso da Almaviva mostra - depende principalmente da boa vontade dos governantes e dos funcionários públicos.
Acostumados com esse cenário, os empreendedores italianos não têm visto muitos percalços para se aventurar mundo afora. Esse movimento ficou mais intenso desde que a crise por lá se instalou, em 2008. A favor dessa expansão está o potencial de crescimento de outros lugares. "O mercado italiano está bem consolidado. Na área de infra-estrutura já está tudo construído", diz o italiano Massimo Guala, diretor comercial da Salini Impregilo, uma das maiores empresas de construção civil do mundo. "No Brasil, é preciso esperar anos por uma licença ambiental. Mas, como estamos há trinta anos por aqui, nós já aprendemos a lidar com essas coisas", diz Massimo.
(texto publicado na revista Veja edição 2451 - ano 48 - nº 45 - 11 de novembro de 2015)
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