Il Cenacolo - Leonardo da Vinci
460 cm x 880 cm
Afresco de técnica mista com predominância da têmpera e óleo sobre gesso e estuque
Leonardo da Vinci foi um dos grandes polimatas da Humanidade, destacando-se como cientista, matemático, engenheiro, inventor, anatomista, pintor, escultor, arquiteto, botânico, poeta e músico. Muitas vezes foi descrito como o modelo do homem renascentista, pois sua curiosidade insaciável estava equilibrada com sua capacidade de invenção e criação. Deixou seus famosos diários com mais de 6 mil páginas manuscritas de trás para a frente (para evitar que as pessoas entendessem suas ideias). Esses estudos permaneceram inéditos até sua morte, e continham a mais fantástica coleção de invenções e soluções de engenharia já imaginadas por um único homem: esboços de helicópteros, submarinos, paraquedas, veículos e embarcações automotoras, máquinas voadoras, projetos minuciosos de tornos, máquinas perfuratrizes, turbinas, teares, máquinas hidráulicas para limpeza e drenagem de canais, canhões, metralhadoras, espingardas, bombas, carros de combate, pontes móveis, muito antes de serem sequer imaginados por qualquer ser humano. Era canhoto, um amante da natureza e vegetariano.
Vamos observar
A Última Ceia foi encomendada pela igreja de seu protetor, o duque Lodovico Sforza. Representa a cena da última ceia de Jesus com os apóstolos, antes de ser preso e crucificado, como descreve a Bíblia. A obra se encontra no Convento de Santa Maria delle Grazie, em Milão, que o duque mandou construir para sepultar seus familiares. Leonardo passou três anos dando atenção integral a esta pintura. Além da perspectiva perfeita, a grande sacada foi ter escolhido um momento peculiar do Evangelho de João, quando Jesus anuncia: "Um de vocês me trairá". Por decisão do próprio Leonardo, que queria mais liberdade para corrigir certos detalhes durante sua realização, a obra não foi feita com a técnica do afresco. Para experimentar, o pintor tratou a parede como se fosse um quadro e usou a técnica a seco, com uma tinta oleosa. Já no fim do trabalho, em 1498, o pintor observou as primeiras rachaduras no canto da obra. No decorrer dos séculos, a obra passou por vários restauros (leia-se repinturas), a ponto de os restauradores dos anos 70-90 terem encontrado sete camadas dos mais variados materiais das intervenções anteriores. Foi, então, durante os últimos restauros, que encontraram um prego na cabeça de Jesus, usado para marcar o ponto de fuga usado por Leonardo para compor a perspectiva da obra. Durante o domínio de Napoleão, no século 18, o refeitório foi usado como estábulo e, como se não bastasse, durante os bombardeios da Segunda Guerra Mundial, coberta por um telão, ficou alguns anos a céu aberto, exposta ao sol, à chuva e à poluição, antes que a cidade e seus monumentos fossem reconstruídos.
O gênio renascentista pontuou sua obra-prima com detalhes que até hoje alimentam teorias sobre supostas mensagens subliminares. Diz-se que o quadro teria, ao lado de Jesus, Maria Madalena, que seria sua esposa. O cálice do Santo Graal, um símbolo da aliança entre Deus e os homens, não está sobre a mesa. Não existem auréolas, que representavam os apóstolos como santos. No contexto religioso, Judas é realmente o traidor. No entanto, como esta é uma obra política, a história é diferente: a única arma que aparece na cena, uma adaga, está na mão de Pedro. Ele, como o fundador da Igreja, simboliza o papa. Então, para Da Vinci, o pontífice é o verdadeiro traidor de Cristo. O artista ainda pintou seu próprio rosto no lugar de Judas, o segundo a partir do fim da mesa. Da Vinci aparece quando identicamente em seu autorretrato, o que para alguns estudiosos representa uma oposição às normas e dogmas religiosos da época.
(texto publicado na revista Circuito nº 193 - ano 15 - janeiro de 2016)
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário