Compreender e expressar nossas emoções é o primeiro passo para prevenir enxaqueca, dor nas costas, alergias e outras doenças. A cura está em entender as mensagens do corpo e olhar para dentro de você mesmo.
Algo que os orientais sabem há milênios só recentemente a medicina ocidental reconheceu: os males que afetam o corpo também têm raízes nas emoções e no estado de espírito. "Nosso corpo é formado de matéria e energia. As doenças se instalam quando o fluxo de energia está desequilibrado, e as causas são tanto externas quanto internas", explica Mauro Perini, ginecologista e especialista em medicina tradicional chinesa, de São Paulo. Portanto, não são apenas os vírus, os maus hábitos alimentares e o abuso de álcool e fumo que prejudicam a saúde mas também a tristeza, o desânimo e a raiva.
Para entender como os sentimentos negativos podem se transformar em algo tão pesado e até desencadear doenças, é possível compará-los à chuva. A princípio, há apenas uma certa umidade no ar - que corresponde, no ser humano, a sentimentos que incomodam sem que se perceba. A umidade começa a se condensar em nuvens leves - ideias, pensamentos e emoções já perceptíveis, mas ainda pouco consistentes. As nuvens se adensam até se transformar em chuva (sentimentos negativos, como ressentimentos e tensões, que cai sobre o solo - nosso corpo. Quanto mais forte a chuva, mais problemas ela é capaz de provocar. A comparação está no livro francês Dis-Moi Où Tu as Mal, Je Te Dirai Pourquoi (Diga-Me Onde Dói e Eu Direi Por Quê), de Michel Odoul (ed. Albin Michel,m inédito no Brasil).
Antes da chuva
O organismo dá sinais que evidenciam o problema antes que ele se manifeste. "Percebê-los nem sempre é fácil, pois exige olhar para dentro de si", afirma Susana de Albuquerque Lins Senno, médica e psicoterapeuta que trabalha com psicossomática (o estudo das influências psíquicas nos problemas orgânicos), de São Paulo.
Muitas vezes, basta notar as pequenas contrariedades do dia-a-dia para descobrir o que não vai bem. "Se alguém apressado bate o joelho em uma cadeira e não pára para pensar por que vive distraído a ponto de não ver onde pisa, vai se machucar o tempo todo", exemplifica Susana. "Se não damos atenção à dor de cabeça, ao cansaço, à irritação permanente, o problema vai sempre seguindo adiante até que, a certa altura, o corpo trava."
O estado emocional fragilizado pode até abrir espaço para ataques de agentes externos, como vírus e bactérias. O médico Mauro Perini dá o exemplo da tuberculose: "Atualmente, apesar dos antibióticos e das vacinas, a doença, que estava controlada, volta a crescer, exatamente quando vivemos uma época de desemprego, fome e guerras. A tristeza enfraquece o pulmão, e um órgão fraco não consegue se defender".
Chave da cura
Seja qual for o problema, ele geralmente exige um mergulho em nossa sombra, no lado escuro, que nos recusamos a encarar. Se o mal-estar tem uma causa interna e profunda, o restabelecimento só virá quando a questão for resolvida. "Não existe cura se não tentarmos identificar dentro de nós o que está errado e lutar para resolver o problema", ressalta a terapeuta Susana Serino. "Ficar doente é uma oportunidade de conhecer e encontrar nossa própria capacidade de cura", conclui.
Saiba como funcionam as relações entre as partes do corpo, os sentimentos e as doenças mais comuns, segundo o psicoterapeuta alemão Rüdiger Dahlke, autor dos livros A Doença como Linguagem da Alma e A Doença como Símbolo - Pequena Enciclopédia de Psicossomática (ambos da ed. Cultrix).
Pulmão: o ar entra nos pulmões e traz com ele o que é exterior ao corpo. Quem tem dificuldade em assimilar o que vem de fora, e age como se tudo que acontece de errado fosse culpa dos outros, pode apresentar problemas como pneumonia e asma. Solidão, melancolia, tristeza e dificuldade de perdoar agem negativamente sobre o pulmão, pois significam falta de intercâmbio e comunicação com o mundo exterior.
Coluna: todo o peso do corpo - e, por extensão, do mundo - é sustentado pela coluna. Se você aguenta um fardo extra, como uma responsabilidade que não deveria ser sua, é a coluna que sofre. Quando nossas crenças são abaladas, esse sistema de sustentação do corpo enfraquece. Quem anda com as costas curvadas e o rosto voltado para o chão mostra desgosto em viver e sentimento de inferioridade. Para encarar a vida de frente e olhar para cima, o primeiro passo é endireitar a coluna.
Cabeça: é o sistema central do organismo, por onde passam emoções, pensamentos e impulsos nervosos. Por isso, uma dor de cabeça pode refletir algo que esteja acontecendo em qualquer parte do corpo. Enxaquecas estão associadas à dificuldade de tomar uma decisão ou aceitar algo que incomoda. Quem pensa demais e não quer fazer algo muitas vezes usa a dor de cabeça como desculpa.
Articulações: movimentos difíceis ou dolorosos sinalizam dificuldade de seguir em frente em algum ponto da vida ou, ainda, que o corpo pede descanso. Dores nas articulações são fruto de rigidez de pensamento, do bloqueio de manifestações, de choro ou raiva, por exemplo, e da negação de lidar com assuntos antigos, mas que causam incômodo. Quem acorda travado, sem condição de levantar da cama, pode estar exigindo demais do corpo, que acaba providenciando o repouso forçado.
Coração: centro energético do corpo, guarda as emoções e a capacidade de amar. Quem tem dificuldade de expressar sentimentos pode ter problemas cardíacos. Ressentimento e raiva roubam espaço à compaixão e à vontade de viver. Quando o coração está cheio de negatividade, eles se espalham pelo corpo junto com o sangue. Para a saúde do órgão, é preciso reconhecer e expressar as emoções e orientar-se tanto pelos pensamentos como pela intuição.
Pele: o maior órgão do corpo serve como barreira aos agentes externos. Além de delimitar nosso corpo, é por meio dela que fazemos contato e recebemos carinho. Problemas cutâneos são sinal de dificuldade em nos comunicar, em estabelecer e respeitar limites e em se relacionar com as pessoas.
Órgãos reprodutivos: apesar de serem o principal ponto de diferenciação entre os sexos, distúrbios dos órgãos genitais refletem problemas semelhantes para homens e mulheres. O medo de criar - seja um filho, seja um projeto de trabalho - e a incapacidade de sentir prazer com a vida podem se traduzir em frigidez ou impotência. Para as mulheres, problemas relativos à família e ao cônjuge se refletem no útero.
Estômago: quem se preocupa de forma exagerada ou por antecipação, e rumina ressentimentos, está propenso a problemas nesse órgão, que recebe e processa as impressões vividas do exterior, assim como faz com os alimentos. Uma das doenças mais comuns em executivos é a úlcera - eles costumam ser obrigados a aceitar uma contrariedade atrás da outra no dia-a-dia.
Intestinos: Não é à toa que se diz que gente mal-humorada é enfezada. Intestino preso é sinal de raiva acumulada, tensão e falta de flexibilidade para deixar as coisas fluírem, por medo, timidez ou dificuldade de perdoar. Já a diarreia mostra a falta de capacidade de absorver informações e elaborá-las. Quem rejeita tudo que se apresenta e não consegue assimilar novas experiências está sujeito a intestino solto.
Sistema imunológico: quando as defesas do corpo estão debilitadas, uma manifestação comum é a alergia. O organismo confunde uma partícula inofensiva (pólen, por exemplo) com um agente perigoso (como um vírus ou uma bactéria) e a ataca, causando sintomas como espirros e coceiras. Isso reflete agressividade inconsciente, de alguém que luta contra tudo, sem saber diferenciar o nocivo do inócuo.
(texto publicado na revista Bons Fluídos nº 49 - junho de 2003)
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