Êta Mundo Bom! tem relembrado um tempo gostoso, mas difícil em certos pontos
Eu andava um tanto melancólica, suspirando, mexendo no passado que mora em mim - e me perguntando o porquê de tanto saudosismo. Foi então que me dei conta: é efeito da novela Êta Mundo Bom!, de Walcyr Carrasco.
Cara leitora, volto a ser a moça bonita, cheia de esperanças e à procura de um grande amor! O cenário é maravilhoso. Me vejo caminhando pelas ruas de pedra de uma São Paulo bonita, elegante. As mulheres bem vestidas e os homens, de terno e gravata. Lembro com saudade do magazine Mappin, loja de departamentos inglesa onde os balconistas falavam em inglês. As ruas, limpíssimas, eram lavadas às 6h da manhã.
Eu ia para o trabalho subindo a Avenida São João... Usei muitas roupas iguais às de Anastácia (Eliane Giardini) e o cabelo, não na cor, mas no penteado de Sandra (Flávia Alessandra). Aí, minha vizinha vem dar uma sacudida nas minhas lembranças e comenta comigo: "Eu não sabia que as mulheres eram tão maltratadas, dessa forma cruel!".
Pois é. Só existiam na moral retrógrada daquele tempo dois tipos de mulher: a para casar, a santa, e a para usar, a prostituta. Que fique claro: uma moça mãe solteira ou não mais virgem entrava na segunda categoria.
Tenho saudade de determinadas delicadezas daquela época, mas sinto horror ao lembrar que mulheres se juntavam para apedrejar uma menina porque era filha de uma mulher separada. Walcyr Carrasco, brincando, brincando, está mostrando os dois lados da moeda.
(texto publicado na revista Ana Maria nº 1009 - 12 de fevereiro de 2016)
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