sábado, 10 de dezembro de 2011

Procrastinação, ou seja, como perdemos completamente o foco deixando tudo para depois



Deixar tarefas e planos para depois só aumenta a sensação de angústia

Toda hora, temos que decidir o que fazer. E, para cada coisa que fazemos, há uma relação de coisas não feitas. E isso é bem comum, principalmente nos dias atuais, em que as tarefas parecem se multiplicar nas nossas agendas. Tão comum, aliás, que existe até um termo criado para explicar esse comportamento demasiado humano: procrastinação, que, do latim, significa "postergar, atrasar, demorar, adiar, delongar".

A psicologia moderna já descobriu que 80% das pessoas procrastinam com certa frequência (se computarmos as que procrastinam de vez em quando, o número certamente sobe para 99,9%). Ou seja, postergar nossos afazeres é bem mais comum do que poderíamos supor. Quem garante é o psicólogo Joseph Ferrari, da Universidade De Paul, do estado americano de Illinois, e um especialista no assunto. Ele estudou esse comportamento em países tão distintos como Austrália, Estados Unidos e Venezuela para comprovar que não se trata de algo cultural, mas de conduta intrínseca ao ser humano. "Procrastinamos o tempo todo sem nem mesmo perceber que o fazemos", diz.

Quem procrastina sempre tem a ilusão de que adiar o problema é uma forma de solucioná-lo por enquanto. É como se o escondesse debaixo do tapete para, na próxima faxina, lidar novamente com ele. Mas a questão é que os problemas não deixam de existir na mente de quem os adia. E, o que é pior, alguns deles tomam proporções maiores com o passar do tempo. Se você deixar para cortar a grama no mês que vem, pode ter um esforço maior do que teria se a aparasse hoje. Esta é a percepção que o procrastinador não consegue enxergar: deixar para depois é quase sempre mais custoso.

A tal prioridade

Mas, se a procrastinação pode causar tantos danos, por quê, afinal, nós deixamos para amanhã o que devemos ou podemos fazer hoje? Segundo Ferrari, temos a tendência de postergar tudo o que parece ser tedioso, demanda muito trabalho, não é para hoje. Ou o que não nos dê prazer imediato. A procrastinação é um embate entre o tempo psicológico, estabelecido pelos nossos desejos, e o tempo social, que é o marcado pelo do tique-taque constante do relógio. E ela pode estar relacionada a diferentes razões. Uma é a falta de autocontrole, que faz com que as pessoas acabem adiando atividades para as quais deveriam dar prioridade, justamente por agir de forma impulsiva e perder o senso crítico e racional da situação.

Estabelecer uma hierarquia de prioridades, apesar de difícil, é primordial para que as tarefas importantes sejam feitas com a dedicação que elas exigem. Estudos indicam que, quanto mais detalhada e objetiva for uma tarefa, mais chances temos de realizá-la. Se, ao contrário, percebemos uma atividade como distante do aqui e agora, tendemos a deixá-la para ser resolvida em um futuro vago, para quando sobrar um tempo - se é que vai sobrar. Por isso, é mais fácil procrastinarmos uma intenção (como começar a estudar italiano) do que uma tarefa (entregar um orçamento). Criar prazos e termos concretos é uma forma de nos impulsionarmos a pôr a mão no batente e seguir em frente.

Tomar decisões

Mas nem todo mundo consegue ter essa visão prática da vida. Há pessoas que procrastinam por não conseguir tomar decisões porque não decidir, na cabeça delas, as absolve das responsabilidades que viriam com tais decisões. E, para não sofrer as consequências, preferem ficar estacionadas. Não conseguem ter o distanciamento necessário para estabelecer uma relação entre esforços e resultados e perceber que o sofrimento, muitas vezes, vem em decorrência de uma mudança mais positiva.

"As pessoas com essas características são muito preocupadas com o que os outros pensam delas. Dessa forma, preferem que pensem que ela é displicente e tem problemas em se esforçar para agir do que percebam que, no fundo, elas não têm habilidade para isso", explica Ferrari.

O perfeccionismo exacerbado também tem a capacidade de nos fazer desistir ou postergar por um tempo ilimitado nossos afazeres, desejos e intenções. "Dê-se a chance de realizar algo bom e não necessariamente ótimo. Experimente começar a fazer para só depois avaliar. Permitir começar já é um grande passo", aconselha o psicoterapeuta e filósofo Ari Rehfeld. Claro que é preciso ter consciência das limitações e habilidades para o que se está disposto, mas se vencermos o que nos paralisa e nos desviarmos das distrações que nós mesmos colocamos todo dia em nossa vida, já teremos meio caminho andado para enfrentar qualquer situação.

Xô, procrastinação!

1. CRIE PRAZOS
Eles são importantes para nos organizarmos mentalmente e termos claro que não podemos enrolar para sempre para fazer as coisas e cumprir os compromissos.


2. DÊ-SE RECOMPENSAS
Permita ficar meia hora batendo papo para algumas horas seguidas trabalhadas ou prometa-se um presente quando estiver na metade do projeto. Isso ajuda a se esforçar mais.


3. CONCENTRE-SE


A forma mais fácil de procrastinar é se distraindo. Dê atenção às tarefas. E evite telefones, e-mails e tentações da internet.


4. FAÇA LISTAS
Coloque tudo o que você tem ou deseja fazer no papel. Mas seja sincero mesmo: elimine as tarefas que você não planeja realizar nunca, mas vai acumulando.


5. NÃO MISTURE
Faça listas diferentes para prioridades do trabalho e dos afazeres domésticos, por exemplo. Senão as urgências do trabalho vão sempre ficar em primeiro lugar.


6. ABRA O JOGO
Se você acha que não vai dar conta de uma tarefa, seja honesto: fale das suas dificuldades. Mas, se possível, tente fazê-la. Você pode se surpreender.


(artigo publicado na revista "Vida Simples" em 18 de agosto de 2009)



Procrastinação (legendado em português)



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