Houve um tempo em que as pessoas se apaixonavam muito e com frequência. Nessa época, eu tinha amigas que me telefonavam quando as coisas não iam bem, pedindo conselhos. Logo para mim. Elas não percebiam que o amor estava se acabando - e que conselhos se pode dar nessa hora? Havia então o momento de pensar que o cara era um cafajeste - todos os homens que nos deixam são -, dar a volta por cima e se apaixonar de novo.
Mas há muitos anos não vejo ninguém sofrendo por amor. Será que todos os casais estão felizes ou ninguém mais se apaixona? Para não radicalizar, digamos que o amor não está no ar; por falta de espaço, no meio de tantas necessidades fundamentais da era da tecnologia. Por falar nisso, você já decidiu se vai comprar o novo iPad? Eu só penso nisso.
Agora falando sério: ainda existem aqueles que não podem viver sem amor e continuam tentando para sempre. E quem, de tanto insistir e de tanto não dar certo, desistiu. Cansou de sonhar que um dia poderia ser feliz e trancou o coração. Você conhece alguém que ainda sonha com alguma coisa? Há quanto tempo não ouve de ninguém, não importa a idade, que está apaixonada? Mas é preciso sonhar sempre, dizem. E para ajudar nessa tarefa existem os livros, os filmes, as viagens, a arte, a música e, claro, o amor. Mas de um sonho se acorda, não é mesmo? E aí sofremos. Seria melhor não sonhar, viver com os pés no chão e, assim, não ter nenhuma espécie de ilusão, nunca?
Uma amiga me disse estar pensando em escrever um livro com um só assunto. Já tem até o título: Dá para Viver sem Amor. E ela enumera as vantagens: não ter ciúmes, não precisar se dar bem com as mulheres dos amigos dele, nem suportar a família dele, nem ouvir a televisão na hora do futebol etc. etc. É verdade. Se quiser, dá para escrever vários livros, e a tônica seria uma só: viver sozinha para não sofrer. Mas viver sozinha não seria um sofrimento permanente? Não necessariamente, se você for das privilegiadas que gostam da própria companhia. Elas existem, sabia? Se você não é uma delas, pode recorrer a um gato (o bichinho mesmo).
Mas a vida é cheia de surpresas, e um dia surge, inesperadamente um homem. Papo vai, papo vem, você se apaixona. Só que, como sempre, existe um problema: ele não gosta de gatos. Como se sabe, o mundo é dividido entre os que gostam de gatos e os que gostam de cachorros, e essas facções costumam ser radicais. Quem sentia falta de carinho agora tem de sobra: do gatinho e dele. Vai ter que escolher, e toda opção costuma ser dolorosa.
O fim dessa história já é conhecido. Mesmo sabendo que o carinho de um gatinho é incondicional e eterno, que você conta com ele em qualquer situação e jamais será deixada por ele, o amor (pelo homem) vai sempre vencer, como dizem as canções. E, como nada é perfeito, pode ser que um dia você sinta saudades do tempo em que tinha o gatinho ao lado, transbordando de amor. Não que você tenha sido abandonada, isso não. É que ele foi ao futebol, está fazendo frio e você está se sentindo só.
(texto publicado na revista Claudia nº 10 - ano 51 - outubro de 2015)
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